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terça-feira, 29 de setembro de 2015

A demonstração do Amor de Deus a Humanidade

Sermão pregado na AD Salém em Realengo dia 27/09/2016


Texto: 1Jo 3.16 Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos irmãos.

A afirmativa de João nos faz tremer dentro de nosso ser, haja vista, que este texto é para os conhecem o amor de Cristo, e conhecer o amor dEle não é simplesmente declarar com os lábios que o ama (Mc 7.6 Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os [lábios]; o seu coração, porém, está longe de mim), há exigência para o amor de Deus se manifestar em nossa vida, uma destas exigência é guarda os mandamentos dEles (Jo 15.10 Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor); amar a Deus é obedecê-lo e guardar os seus mandamentos (Jo 14.15 Se me amardes, guardareis os meus mandamentos, Jo 14.21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. Jo 14.23 Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada. Jo 15.14 Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando). Então primeiramente para declarar que “nisto conhecemos o amor”, temos de estarmos inseridos inteiramente na vontade de Deus que é boa, perfeita e agradável para os que o buscam (Rm 12.2 E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a [boa], agradável, e perfeita vontade de Deus). Mas, fazer a vontade de Deus é transformar o Mundo que está rejeitando a Deus em todo o momento, desde o nascimento de Cristo (Jo 1.10 Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu).
            A cruz é a demonstração do amor de Deus ao Mundo caído, pois na cruz é dado a entender o sentido mais amplo do amor de Deus que está implícito em João 3:16. Algumas pessoas enxergam este amor aos eleitos apenas, contudo este amor é os que estão num sistema corrupto e de dor (1Jo 5.19 Sabemos que somos de Deus, e que o mundo inteiro jaz no Maligno). Este sentimento é demonstrado em muitos pontos, mas com maior veemência pode ser vista no chamamento de Moisés para liberta o povo de Israel do Egito (Êx 3.7-8 Então disse o Senhor: Com efeito tenho visto a aflição do meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheço os seus sofrimentos; 8 e desci para o livrar da mão dos egípcios, e para o fazer subir daquela terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel; para o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do perizeu, do heveu e do jebuseu). Nem todos que saíram do Egito entraram na Terra Prometida, mas a mensagem de Deus chegou até eles, mesmo estes em sua maioria pertencendo ao Mundo cruel. Todavia, o sacrifício de Cristo deve ser entendido a todas as nações da Terra, donde há os seus eleitos (1Jo 2.2 E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo). Este sacrifício anuncia que Cristo é o único que sofreu pelo pecado do homem (1Pe 2.24 levando ele mesmo os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados).
            A Palavra declara que nós devemos dar a vida pelos irmãos, remete ao IDE joanino (Jo 20.21 Disse-lhes, então, Jesus segunda vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós), pregar a Cristo é pregar a cruz como o próprio Senhor a pregou. Quando o foco é pregar a Cruz de Cristo compreendemos que o evangelho é o poder para salvar o pecador (1Co 1.17-18 Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo. 18 Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus). Pregar a Cruz é proclamar a redenção proveniente por Jesus Cristo através da morte e ressureição. Mas há uma mensagem secundária em pregar a Cruz que é o ato de abnegação (Mt 16.24 Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me).
                A cruz na vida de um missionário alude perseguição (Gl 5.11 Eu, porém, irmãos, se é que prego ainda a circuncisão, por que ainda sou perseguido? Nesse caso o escândalo da cruz estaria aniquilado. Gl 6.12 Todos os que querem ostentar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo); a Cruz na vida do missionário é a renuncia para pregar o evangelho verdadeiro (Gl 6.14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo).

                Assim, se identificar com Cristo implicará identificar com a sua Cruz, e encontrar Jesus carregando a Cruz é vê-lo morrer pelo pecado do Mundo, com poder para salvá-lo (Hb 7.25 Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, porquanto vive sempre para interceder por eles). Chamado missionário passa pelo mesmo sofrimento de Jesus; quem não passa pela Cruz omite o arrependimento, encoraja uma crença irreal, e não oferece um alicerce estável para o serviço cristão. O missionário está fora da ordem Mundial, e inserido ao Reino futuro, que já invadiu o mundo atual e logo virá em plenitude de poder (Fp 3.20 Mas a nossa pátria está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo). Desta feita o missionário cumprirá os dois mais importantes mandamentos (Mc 12.30-31 Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. 31 E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses).

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A Prisão de Jesus

Sermão pregado na Assembleia de Deus Ministério Hagnos no dia 20/09/2012



João 18:4-8

Neste texto é demonstrado o poder de Cristo, a soberania de Deus e a influência maligna que o Adversário de nossas almas tem sobre os que praticam a iniquidade (João 13:2). O nosso Senhor já havia predito que seria traído (Luc 22:21. Mas eis que a mão daquele que vai me trair está com a minha sobre a mesa), e também que seria negado por Pedro (João 13:36-38); a prisão de Cristo não foi surpresa para o nosso Senhor, pois tudo estava sobre o seu controle.

                A narrativa demonstra o traidor conduzindo os opressores de Cristo a detê-lo. O que denota atenção é o número de soldados romanos que foram designados para esta missão, o número foi de 600 soldados (uma corte), e dois oficiais do Templo. Os religiosos tinham os guardas do Templo para efetuarem pequenas prisões, mas o que parece eles temia a Cristo, ou a multidão que o acompanhava. Contudo, Cristo não os temia e toma a primeira iniciativa perguntando “a quem buscais?” Jesus Cristo veio ao Mundo com a missão de se entregar para resgatar os eleitos da perdição eterna (Apocalipse 13:8), a missão de Cristo era se entregar pelos pecadores, ou seja, a morte de Cristo foi vicária (Gal. 3:13, Rom. 5:8). Não foram eles que levaram a Cristo, foi o próprio Cristo que se entregou (João 18:8), Ele mesmo declarou que veio dar a sua vida em resgate de muitos (Mat. 20:28; João 10:11).

                O poder de Jesus é sobre todos (Efésios 1:20-23), não há soberania que esteja acima de Cristo ou ao seu lado. Neste texto o Senhor Jesus declara que ele “É” (João 18:6 Quando Jesus lhe disse: SOU EU, recuaram e caíram por terra); e quando todos caem por terra é demonstrado que não há poder maior do que o de Jesus Cristo, logo, todos foram colocados de joelhos perante o Senhor, antevendo o que irá acontecer no futuro (Rom. 14:11); Jesus veio glorificar o nome do Pai (João 13:31-32) em sua obra de salvação (II Tess. 1:10-12). Só em Cristo as obras das trevas poderiam ser destruídas (Col. 1:11), e as fortalezas espirituais que nos prendiam destruídas (II Cor. 10:4), e saqueadas (Mat. 12:29) pelo poder de Cristo.

                No versículo de número oito do texto selecionado, o nosso Salvador se certifica de que todos ficariam em segurança, e depois disto se entrega, no próprio texto explica esta atitude, quando no versículo nove no diz: para se cumprir a palavra que dissera: Não perdi nenhum dos que me deste. Jesus em sua oração sacerdotal expressa ser não apenas o provedor da salvação, mas, também o que sustenta o salvo em sua caminhada (João 17:12). A Bíblia nos ensina que Ele é fiel para nos conduzirmos até ao fim (Filp. 1:6), esta é a certeza que todo o sofrimento; toda a traição; que toda a dor que Jesus passou não foi em vão (Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito 1 Pedro 3:18). Todo o Sangue de Cristo foi completamente direcionado aos eleitos nEle antes da criação de tudo e todos (Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado. Efésios 1:4-6). A prisão de Jesus foi o princípio da libertação de todos os seus eleitos de todas as Eras (Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão 1 Pedro 3:18,19).
                

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Divórcio e Novo Casamento: Uma Declaração


Pano de fundo e Introdução


Em toda a minha vida adulta, até o momento em que encarei a necessidade de lidar com divórcio e novo casamento no contexto pastoral, sustentei a visão protestante prevalecente, que afirma que o novo casamento após o divórcio é sancionado biblicamente em casos em que o divórcio foi resultado de uma deserção ou de adultério persistente. Somente quando eu fui compelido, alguns anos atrás, ao estudar Lucas, a lidar com a afirmação absoluta de Jesus em Lucas 16.18, comecei a questionar esta posição inerente.
Eu senti um peso imenso por ter de ensinar à nossa congregação qual a vontade revelada de Deus neste assunto de divórcio e novo casamento. Eu não estava desavisado que entre meu povo haviam aqueles que se divorciaram-se e casaram-se novamente, aqueles que se divorciaram e permaneceram descasados, e aqueles que estavam em processo de divórcio ou contemplando isto como uma possibilidade. Eu sabia que isto não seria um exercício acadêmico, mas que de imediato afetaria várias pessoas muito profundamente.
Eu também estava ciente das horrendas estatísticas em nosso próprio país, assim como em outros países ocidentais, a respeito do número de casamentos que terminam em divórcio, e do número de pessoas que estão no segundo e terceiro casamentos. Em meu estudo de Efésios 5, fui cada vez mais convencido que há uma profunda significação na união de marido e mulher em “uma só carne” como parábola do relacionamento entre Cristo e sua igreja.
Todas as coisas conspiravam para criar um sentimento de solenidade e seriedade enquanto eu pesava o significado e a implicação dos textos bíblicos sobre divórcio e novo casamento. O resultado desta experiência crucial foi a descoberta do que eu creio, uma proibição neotestamentária de todo novo casamento, exceto no caso em que o cônjuge faleceu. Eu não afirmo que encontrei ou disse a última palavra nesta questão, nem que eu estou além de correção caso prove-se que estou errado. Estou ciente de que homens mais piedosos que eu tiveram opiniões diferentes. Entretanto, todas as pessoas e igrejas devem ensinar e viver de acordo com o que dita sua própria consciência informada por um sério estudo da Bíblia.
Como conseqüência, este documento é uma tentativa de afirmar meu próprio entendimento deste assunto e seu fundamento na Escritura. Serve, portanto, como uma explanação bíblica do por que me sinto constrangido a tomar as decisões que tomo a respeito daqueles casamentos que realizarei e que tipo de disciplina eclesiástica parece-me apropriada em questões de divórcio e novo casamento.
Se eu desse uma exposição exaustiva de cada texto relevante, esta declaração viraria um gigantesco livro. Assim, o que planejo é trazer algumas explanações breves de cada um dos textos cruciais, como alguns argumentos exegéticos chaves. Haverão, sem dúvida, muitas questões que podem ser levantadas, e eu espero ser capaz de aprender com estas questões, e fazer o meu melhor para respondê-las na discussão que seguirá a esta declaração.
Parece que a forma mais eficiente de iniciar esta questão é simplesmente dar uma lista de razões, baseadas em textos bíblicos, com motivos para eu crer que o Novo Testamento proíbe todos os novos casamentos, exceto quando o cônjuge faleceu. O que se segue é uma lista desses argumentos.

Onze razões para eu crer que todo novo casamento após o divórcio é proibido enquanto os cônjuges estiverem vivos

1) Lucas 16.18 nos diz que todo novo casamento após o divórcio é adultério
Lucas 16.18: Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também.
1.1) Este verso mostra que Jesus não reconhece o divórcio como o término de um casamento aos olhos de Deus. A razão para o segundo casamento ser chamado de adultério é porque o primeiro é considerado ainda válido. Assim, Jesus está tomando uma posição contra a cultura judaica, em que considerava-se que todo divórcio levava ao direito de um novo casamento.
1.2) A segunda metade do versículo mostra que não apenas o homem divorciado é culpado de adultério quando ele casa-se novamente, mas também qualquer homem que casa-se com uma mulher divorciada.
1.3) Uma vez que não há exceções mencionadas no verso, e uma vez que Jesus está claramente rejeitando o conceito cultural comum de que o divórcio inclui o direito ao novo casamento, os primeiros leitores deste evangelho teriam uma grande dificuldade em argumentar qualquer exceção baseada na ideia de que Jesus compartilhava a premissa de que o divórcio por infidelidade ou deserção liberava um cônjuge para um novo casamento.

2) Marcos 10.11-12 chama todo novo casamento após o divórcio de adultério, seja o marido ou a esposa quem se divorcia
Marcos 10.11-12: E ele lhes disse: Qualquer que deixar a sua mulher e casar com outra, adultera contra ela. E, se a mulher deixar a seu marido, e casar com outro, adultera.
2.1) Esse texto repete a primeira metade de Lucas 16.18, mas vai além e diz que está cometendo adultério não apenas o homem que divorcia, mas também a mulher que divorcia, e então casa-se novamente.
2.2) Como em Lucas 16.18, não há exceção mencionada a esta regra.

3) Marcos 10.2-9 e Mateus 19.3-8 ensinam que Jesus rejeitou a justificativa dos fariseus para divórcio em Deuteronômio 24.1 e reafirma o propósito de Deus na Criação, de que nenhum ser humano separe o que Deus uniu.
Marcos 10.2-9: E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: É lícito ao homem repudiar sua mulher? 3 Mas ele, respondendo, disse-lhes: Que vos mandou Moisés? 4 E eles disseram: Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar. 5 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Pela dureza dos vossos corações vos deixou ele escrito esse mandamento; 6 Porém, desde o princípio da criação, Deus os fez macho e fêmea. 7 Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á a sua mulher, 8 E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.
Mateus 19.3-9: Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? 4 Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, 5 E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? 6 Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. 7 Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? 8 Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. 9 Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.
3.1) Tanto em Mateus quanto em Marcos, os fariseus vêm a Jesus e o provam ao perguntá-lo se é lícito a um homem divorciar-se de sua esposa. Eles evidentemente tinham em mente a passagem em Deuteronômio 24.1, que simplesmente descreve o divórcio, ao invés de dar qualquer legislação a favor disto. Eles se perguntam como Jesus se posicionará a respeito desta passagem.
3.2) A resposta de Jesus é “Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres” (Mt 19.8)
3.3) Mas então Jesus critica a falha dos fariseus em reconhecer nos livros de Moisés a intenção original e mais profunda de Deus para o casamento. Então ele cita duas passagens de Gênesis. “Homem e mulher [Deus] os criou... Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” (Gn 1.27; 2.24)
3.4) Destas passagens de Gênesis, Jesus conclui: “Assim não são mais dois, mas uma só carne”. E então, ele faz sua afirmação decisiva: “O que Deus ajuntou não o separe o homem”
3.5) A implicação é que Jesus rejeita o uso de Deuteronõmio 24.1 dos fariseus e apresenta o padrão de casamento para seus discípulos na intenção original de Deus na Criação. Ele diz que nenhum de nós deveria tentar desfazer a relação “uma só carne” que Deus uniu.
3.6) Antes de pularmos para a conclusão de que esta afirmação absoluta deveria ser qualificada em vista da cláusula de exceção (“não sendo por causa de prostituição”) mencionada em Mateus 19.9, devemos seriamente aceitar a possibilidade de que a cláusula de exceção em Mateus 19.9 deveria ser entendida à luz da afirmação absoluta de Mateus 19.6, (“não o separe o homem”), especialmente porque os versículos que seguem esta conversação com os fariseus em Marcos não contêm qualquer exceção quando condenam um novo casamento. Mais sobre isso abaixo.

4) Mateus 5.32 não ensina que o novo casamento é lícito em alguns casos. Pelo contrário, reafirma que casamento pós-divórcio é adultério, mesmo para aqueles que divorciaram-se inocentemente, e que um homem que divorcia-se de sua esposa é culpado de adultério do segundo casamento dela, a não ser que ela já tenha se tornado adúltera antes do divórcio.
Mateus 5.32: Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.
4.1) Jesus assume que em muitas situações naquela cultura, a esposa que foi repudiada por um marido será encaminhada para um segundo casamento. No entanto, a despeito desta pressão, Jesus chama este segundo casamento de adultério.
4.2) O que chama atenção na primeira metade deste versículo é que o novo casamento de uma esposa que foi inocentemente repudiada é ainda assim um adultério: “qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela (a esposa inocente que não foi infiel) cometa adultério”. Esta é uma afirmação clara, como me parece, de que o novo casamento é errado não simplesmente quando uma pessoa é culpada no processo de divórcio, mas também quando uma pessoa é inocente. Em outras palavras, a oposição de Jesus ao novo casamento parece ser baseada na indestrutibilidade da união do casamento, a não ser pela morte.
4.3) Eu deixarei minha explanção da cláusula de exceção (“a não ser por causa de prostituição”) para mais adiante na declaração, mas por enquanto, é suficiente dizer, sobre a interpretação tradicional da cláusula, que simplesmente significa que um homem faz de sua esposa uma adúltera exceto no caso em que ela fez a si própria uma.
4.4) Eu assumo que, uma vez que uma esposa inocente que é divorciada comete adultério quando ela casa-se novamente, segue-se que uma esposa culpada que casa-se novamente após o divórcio torna-se muito mais culpada. Se alguém argumentar que esta esposa culpada é livre para casar-se novamente, enquanto a inocente que foi repudiada não é, já que o adultério da culpada quebrou o relacionamento de “uma só carne”, então esta pessoa deve colocar-se na inconveniente posição de dizer à divorciada inocente que “se agora você cometer adultério, será lícito você casar-se novamente”. Isto parece ser errado por pelo menos duas razões.
4.4.1) Isto parece elevar o ato físico de relação sexual ao elemento decisivo em união e separação conjugal.
4.4.2) Se a união sexual com outro quebra os laços de casamento e legitima o novo casamento, então dizer que uma divorciada inocente não pode casar-se novamente (como Jesus realmente diz) assume que o marido divorciado dela não está se divorciando para ter relações sexuais com outra. Isto signifca assumir uma postura muito improvável. Mais provável é que Jesus assuma que alguns desses maridos divorciados terão relações sexuais com outra mulher, mas ainda assim as esposas de quem eles se divorciaram não podem casar-se novamente. Portanto, adultério não anula o relacionamento de “uma só carne” do casamento, e tanto o cônjuge culpado quanto o inocente são proibidos de casar-se novamente em Mateus 5.32.

5) 1 Coríntios 7.10-11 ensina que o divórcio é errado, porém se é inevitável, a pessoa que se divorcia não deve casar-se novamente.
1 Coríntios 7.10-11: Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido. 11 Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.
5.1) Quando Paulo diz que esta ordem não é sua, mas do Senhor, eu acredito que ele quer dizer que está ciente de um específico dito do Jesus histórico que trata desta questão. Como prova, estes versos parecem-se muito com Marcos 10.11-12, porque é destinado tanto ao marido quanto à esposa. Além disso, o novo casamento parece ser excluído do verso 11, da mesma forma que é excluído em Marcos 10.11-12
5.2) Paulo parece saber que a separação será inevitável em alguns casos. Talvez ele tenha em mente uma situação de um adultério sem arrependimento, ou deserção, ou brutalidade. Mas em um caso assim, ele diz que a pessoa que se sente constrangida à separar-se não deveria procurar um novo casamento e deveria permanecer solteira. E ele reforça a autoridade desta instrução ao dizer que ele tem uma palavra do Senhor. Portanto, a interpretação dos dizeres de Jesus é que um novo casamento não deve ser procurado.
5.3) Como em Lucas 16.18, Marcos 10.11-12 e Mateus 5.32, o texto não explicita consideração sobre a possibilidade de qualquer exceção à proibição do novo casamento.

6) 1 Coríntios 7.39 e Romanos 7.1-3 ensinam que o novo casamento é lícito somente depois da morte do cônjuge.
1 Coríntios 7.39: A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor.
Romanos 7.1-3: Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive? 2 Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. 3 De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está da lei, e assim não será adúltera, se for de outro marido.
6.1) Em ambas as passagems (1 Coríntios 7.39; Romanos 7.2) é dito explicitamente que uma mulher está ligada ao marido enquanto ele viver. Nenhuma exceção é explicitamente mencionada que sugeriria que ela pudesse ser livre de seu marido e casar-se com outro usando outra base.

7) Mateus 19.10-12 ensina que uma graça cristã especial é dada por Deus a discípulos que sustentam-se na vida de solteiro, quando renunciam casar-se novamente de acordo com a lei de Cristo.
Mateus 19.10-12: Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. 11 Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. 12 Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.
7.1) Logo antes desta passagem, em Mateus 19.9, Jesus proibiu todos casamento após o divórcio (eu lidarei com o significado de “não sendo por causa de prostituição” abaixo). Isto pareceu como uma proibição intolerável aos discípulos de Jesus: se você fechar qualquer possibilidade de novo casamento, então você faz o casamento tão arriscado que seria melhor não casar-se, uma vez que ou você está “preso” a viver como um solteiro o resto de sua vida ou você estará “preso” em um casamento ruim.
7.2) Jesus não nega a tremenda dificuldade deste mandamento. Pelo contrário, ele diz no verso 11 que a capacidade de cumprir o mandamente de não casar-se novamente é um dom divino aos seus discípulos. Verso 12 é um argumento de que uma vida assim é de fato possível, porque existem pessoas que por amor ao Reino, e também por razões menores, dedicaram-se a si mesmas para viver uma vida de solteiro.
7.3) Jesus não está dizendo que alguns de seus discípulos têm a habilidade de obedecer este casamento de não casar-se novamente e outros não. Ele está dizendo que a marca de um discípulo é que eles receberão um dom de contigência, enquanto não-discípulos não. A evidência para isto é que 1) o paralelo entre Mateus 19.11 e 13.11; 2) O paralelo entre Mateus 19.12 e 13.9,43 e 11.15; e 3) o paralelo entre Mateus 19.11 e 19.26.

8) Deuteronômio 24.1-4 não legisla base para o divórcio, mas ensina que o relacionamento “uma só carne” estabelecido pelo casamento não é destruído pelo divórcio e mesmo pelo novo casamento.
Deuteronômio 24.1-4: Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa. 2 Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem, 3 E este também a desprezar, e lhe fizer carta de repúdio, e lha der na sua mão, e a despedir da sua casa, ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, 4 Então seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a tomá-la, para que seja sua mulher, depois que foi contaminada; pois é abominação perante o Senhor; assim não farás pecar a terra que o Senhor teu Deus te dá por herança.
8.1) O que chama atenção nestes quatro versos é que, enquanto o divórcio é garantido, ainda assim a mulher divorciada torna-se “contaminada” por seu novo casamento (verso 4). Pode muito bem ser que, quando os fariseus perguntaram a Jesus se o divórcio era legítimo, ele baseou sua resposta negativa não somente na intenção de Deus expressa em Gênesis 1.27 e 2.24, mas também em Deuteronômio 24.4, em que o novo casamento pós-divórcio contamina a pessoa. Em outras palavras, existiam várias pistas na lei mosaica de que a concessão do divórcio era baseada na dureza do coração humano, e realmente não tornavam o divórcio e o novo casamento legítimos.
8.2) A proibição da esposa retornar ao seu primeiro marido mesmo depois que o segundo marido morrer (porque é uma abominação) sugere muito fortemente que nem o segundo casamento deveria ser rompido a fim de restaurar o primeiro (para a explanação de Heth e Wenham disto, veja Jesus and Divorce, p. 110).

9) 1 Coríntios 7.15 não quer dizer que, quando um cristão é abandonado por um cônjuge incrédulo, ele está livre para casar-se novamente. Significa que o cristão não está obrigado a lutar a fim de preservar a união. Separação é permissível se o parceiro incrédulo insiste nisso.
1 Coríntios 7.15: Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não esta sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.
9.1) Existem muitas razões para que a frase “não está sujeito à servidão” não deveria ser construída para significar “é livre para casar-se novamente”
9.1.1) Casamento é uma ordenança da Criação ligando todas as criaturas humanas de Deus, a despeito de sua fé ou falta de fé
9.1.2) A palavra usada para “servidão” (douloo) no verso 15 não é a mesma palavra usada no verso 39, em que Paulo diz: “A mulher casada está ligada (deo) pela lei todo o tempo que o seu marido vive”. Paulo consistentemente usa deo quando fala do aspecto legal de ser ligado a um cônjuge (Romanos 7.2; 1 Coríntios 7.39), ou comprometido com alguém (1 Coríntios 7.27). Mas quando ele refere-se a uma esposa abandonada não estar ligada em 1 Coríntios 7.15, ele escolhe uma palavra diferente (douloo), que esperaríamos que ele fizesse já que ele não está dando a um cônjuge abandonado a mesma liberdade para casar-se novamente como ele dá ao cônjuge cujo parceiro morreu (verso 39).
9.1.3) A última frase do verso 15 (“Deus chamou-nos para a paz”) suporta o verso 15 melhor se Paulo está dizendo que um parceiro abandonado não é “obrigado a fazer guerra” contra o incrédulo desertor para que ele ou ela permaneça. Me parece que a paz que Deus tem nos chamado é a paz da harmonia matrimonial. Portanto, se o parceiro incrédulo insiste em afastar-se, então o parceiro crente não está obrigado a viver em conflito perpétuo com o cônjuge incrédulo, mas é livre e inocente para deixá-lo(a) partir.
9.1.4) Esta interpretação também preserva uma harmonia fiel com a intenção dos versos 10-11, em que a separação inevitável não resulta no direito de um novo casamento.

10) 1 Coríntios 7.27-28 não ensina o direito das pessoas divorciadas a casarem-se novamente. Ensina que virgens noivos devem seriamente considerar a vida de solteiro, mas que eles não pecam se se casarem.
1 Coríntios 7.27-28: Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher. 28 Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca. Todavia os tais terão tribulações na carne, e eu quereria poupar-vos.
10.1) Recentemente algumas pessoas têm argumentado que esta passagem lida com pessoas divorciadas, porque no verso 27 Paulo pergunta: “Estás livre de mulher?”. Alguns assumem que ele quer dizer “Estás divorciado?”. Portanto o que ele estaria dizendo no verso 28 é que não é pecado quando pessoas divorciadas casam-se novamente. Existem muitas razões para esta interpretação ser a mais improvável.
10.1.1) O verso 25 sinaliza que Paulo está começando uma nova seção e lidando com uma nova questão. Ele diz “Ora, quanto às virgens (ton parthenon) não tenho mandamento do Senhor; dou, porém, o meu parecer, como quem tem alcançado misericórdia do Senhor para ser fiel”. Ele já lidou com o problema das pessoas divorciadas nos versos 10-16. Agora ele toma uma nova questão, sobre aqueles que ainda não são casados, e ele sinaliza isso ao dizer “Ora, quanto às virgens”. Portanto, é muito improvável que as pessoas referidas nos versos 27 e 28 sejam as divorciadas.
10.1.2) Uma afirmação simples de que não é pecado para as pessoas divorciadas casarem-se novamente (verso 28) contradiz o verso 11, em que é dito que uma mulher que se separou de seu marido deveria permanecer solteira.
10.1.3) Verso 36 certamente está descrevendo a mesma situação em vista nos versos 27 e 28, mas claramente refere-se a um casal que ainda não é casado. “Mas, se alguém julga que trata indignamente a sua virgem, se tiver passado a flor da idade, e se for necessário, que faça o tal o que quiser; não peca; casem-se”. Isto é o mesmo do verso 28, em que Paulo diz “Mas, se te casares, não pecas”.
10.1.4) A referência no verso 27 a ser ligado à “mulher” pode ser mal-entendida porque pode sugerir que o homem já é casado. Mas no grego, a palavra para esposa é simplesmente “mulher” e pode referir-se tanto à noiva de um homem quanto à sua esposa. O contexto dita que a referência é à noiva virgem de um homem, não à sua esposa. Assim, “Estás ligado à mulher” e “Estás livre de mulher?” tem de fazer referência a uma pessoa que é noiva ou não.
10.1.5) É significante que o verbo que Paulo usa para “estás livre” (luo) não é uma palavra que ele usa para divórcio. As palavras de Paulo para divórcio são chorizo (versos 10,11,15; cf. Mateus 19.6) e aphelia (versos 11,12,13).

11) A cláusula de exceção de Mateus 19.9 não precisa implicar que o divórcio em caso de adultério libera uma pessoa a casar-se novamente. Todo o peso das evidências dadas pelo Novo Testamento nos dez pontos anteriores é contra esta visão, e existem várias formas de fazer um bom julgamento deste verso, de forma que ele não entre em conflito com o ensinamento geral do Novo Testamento de que um novo casamento após o divórcio está proibido.
Mateus 19.9: Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.
11.1) Há muitos anos atrás eu ensinei nossa congregação em dois cultos noturnos a respeito do meu entendimento deste verso e argumentei que “não sendo por causa de prostituição” não se refere ao adultério, mas à fornicação sexual antes do casamento que um homem ou uma mulher descobre no noivo. Desde que descobri outras pessoas que sustentam essa visão e que deram uma exposição muito mais acadêmica que eu fiz, tenho também descoberto numerosas outras formas de entender que este verso também exclui a legitimidade do novo casamento. Muitas delas estão sumarizadas em Jesus and Divorce, William Heth e Gordon J. Wenham (Nelson:1984).
11.2) Aqui eu simplesmente darei um resumo breve de meu próprio ponto de vista de Mateus 19.9 e como cheguei a ele.
Eu comecei, primeiramente, ao ser incomodado pela forma absoluta da denúncia de Jesus contra o divórcio e o novo casamento em Marcos 10.11,12 e Lucas 16.18 não está preservado em Mateus, se na verdade esta cláusula de exceção é uma brecha para o divórcio e novo casamento. Eu estava incomodado pela simples ideia que tantos escritores fazem, de que Mateus simplesmente está tornando explícito algo que era implicitamente entendido pelos ouvintes de Jesus ou os leitores de Marcos 10 e Lucas 16.
Eles realmente teriam assumido que as afirmações absolutas incluíam exceções? Eu duvido muito, e portanto minha inclinação é questionar se de fato ou não a exceção de Mateus conforma-se com o absoluto de Marcos e Lucas.
A segunda coisa que começou a me incomodar foi a questão – Por que Mateus usa a palavra porneia (“não sendo por causa de prostituição”) ao invés da palavra moicheia , que significa adultério? Quase todos os comentaristas parecem simplesmente presumir que porneia significa adultério neste contexto. A questão que persistia era por que Mateus não usaria a palavra para adultério, se isto fosse o que ele realmente queria dizer.
Então notei algo muito interessante. O único outro lugar, além de 5.32 e 19.9, em que Mateus usa a palavra porneia é em 15.19, onde é usada ao lado de moicheia . Portanto, é a evidência contextual primária para o uso de Mateus é que ele concebe porneia como algo diferente de adultério. Poderia isto significar, então, que Mateus concebe porneia em seu sentido normal de fornicação ou incesto (1 Coríntios 5.10), ao invés de adultério?
A. Isaksson concorda com esta visão de porneia e apresenta sua pesquisa, parecida com esta, nas páginas 134 e 135 de Marriage and Ministry :
Portanto, não podemos fugir do fato de que a distinção entre o que era considerado como porneia e o que era considerado como moicheia foi minuciosamente mantido na literatura judaica pré-cristã e no NT. Porneia pode, é claro, denotar diferentes formas de relações sexuais proibidas, mas não podemos encontrar exemplos inequívocos do uso desta palavra para denotar o adultério conjugal. Sob estas circunstâncias dificilmente poderíamos assumir que esta palavra significa adultério na cláusula em Mateus. A logica do divórcio foi escrita como um parágrafo da Lei, intentando ser obedecida pelos membros da Igreja. Debaixo destas circunstâncias é inconcebível que, em um texto desta natureza, o autor não tivesse mantido uma clara distinção entre o que era a falta de castidade e o que era adultério: moicheia e não porneia seria usada para descrever o adultério da esposa. Do ponto de vista filológico existem argumentos fortíssimos contra esta interpretação da cláusula permitindo divórcio no caso da esposa ser culpada de adultério.
A próxima pista de minha busca por uma explicação veio quando estudei sobre o uso de porneia em João 8.41, em que os líderes judeus indiretamente acusam Jesus de ser nascido de porneia . Em outras palavras, uma vez que eles não aceitava o nascimento virginal, assumem que Maria havia cometido fornicação, e Jesus era resultado deste ato. Com base nesta pista, eu voltei para estudar o registro de Mateus do nascimento de Jesus em Mateus 1.18-20. Isto foi extremamente elucidador.
Nesses versos, José e Maria são referidos como marido ( aner ) e esposa ( gunaika ). Ainda assim, eles são descritos como noivos somente. Isto provavelmente vem do fato de que as palavras para marido e esposa eram simplesmente homem e mulher, e do fato de que o noivado era um comprometimento muito mais significante do que é hoje. No verso 19, José resolve “divorciar-se” de Maria. A palavra para “deixá-la” é a mesma palavra de Mateus 5.32 e 19.9. Mas, mais importante que tudo, Mateus diz que José foi “justo” ao tomar a decisão de divorciar-se de Maria, presumivelmente por causa de porneia , fornicação.
Portanto, enquanto Mateus procede em construir a narrativa de seu Evangelho, ele encontra-se no capítulo 5 e depois no capítulo 19 precisando proibir todo casamento pós-divórcio (como ensinado por Jesus) e ainda permitir “divórcios” como aquele que José considerou como possibilidade, por pensar que sua noiva era culpada de fornicação ( porneia ). Assim, Mateus inclui a cláusula de exceção em particular para exonerar José, mas também no geral para apresentar que o tipo de “divórcio” que alguém talvez procure durante um noivado por causa de fornicação não está incluído na proibição absoluta de Jesus.
Uma objeção comum a esta interpretação é que em Mateus 19.3-8 e Mateus 5.31-32, a questão que Jesus responde é sobre casamento e não sobre noivado. O argumento é que “não sendo por causa de prostituição” é irrelevante no contexto do casamento.
Minha resposta é que esta irrelevância é simplesmente o ponto aonde Mateus quer chegar. Podemos ter por certo que o rompimento de um casal de noivos por causa de fornicação não é um “divórcio” ruim e não proibi um outro casamento. Mas não podemos assumir que os leitores de Mateus tinham isso por certo
Mesmo em Mateus 5.32, que parece sem importância para nós excluir o caso da fornicação (uma vez que não podemos ver como uma virgem noiva poderia ser feita adúltera), isto poderia não ser inútil para os leitores de Mateus. Na verdade, não deveria ser sem importância para nenhum leitor: se Jesus tivesse dito “todo homem que se divorciar de sua mulher faz dela uma adúltera”, um leitor legitimamente poderia perguntar “Então José estava pra fazer de Maria uma adúltera?”. Podemos dizer que esta questão não é razoável, uma vez que acreditamos que você não pode fazer mulheres solteiras serem adúlteras. Mas, certamente isto não é sem propósito ou, talvez para alguns leitores, inútil, pois Mateus fez explícita a óbvia exclusão do caso de fornicação durante o noivado.
Esta interpretação da cláusula de exceção tem sérias vantagens:
  1. Não força Mateus a contradizer o significado claro e absoluto de Marcos e Lucas, e o inteiro ensinamento do Novo Testamento apresentado nas seções 1-10, incluindo o próprio ensinamento absoluto de Mateus em 19.3-8
  2. Provê uma explicação de por que a palavra porneia é usada na cláusula de exceção de Mateus ao invés de moicheia .
  3. Concorda com o uso do próprio Mateus de porneia para fornicação em Mateus 15.19
  4. Encaixa-se com a necessidade do contexto maior de Mateus a respeito de José considerar o divórcio
Desde a primeira vez que escrevi esta exposição de Mateus 19.9 descobri um capítulo com esta visão em Heth e Wenham, Jesus and Divorce , e uma defesa acadêmica disto em A. Isaksson, Marriage and Ministry in New Temple (1965).

Conclusão e Aplicação
No Novo Testamento, a questão sobre o novo casamento pós-divórcio não é determinada por:
  1. A culpa ou inocência de qualquer cônjuge
  2. Nem se qualquer cônjuge é crente ou não
  3. Nem pelo caso do divórcio ter acontecido antes ou depois da conversão de qualquer dos cônjuges
  4. Nem pela facilidade ou dificuldade de viver como solteiro pelo resto da vida na Terra
  5. Nem se há adultério ou deserção envolvidos
  6. Nem pela realidade da dureza do coração humano
  7. Nem por permissividade cultural da sociedade em redor
Pelo contrário, é determinado pelo fato de que:
  1. Casamento é um relacionamento de “uma só carne” estabelecido por Deus e de extraordinária significância aos olhos de Deus (Gênesis 2.24; Mateus 19.5; Marcos 10.8)
  2. Somente Deus, não o homem, pode terminar esta relação de “uma só carne” (Mateus 19.6; Marcos 10.9 – isto é porque o novo casamento é chamado de adultério por Jesus: ele assume que o primeiro casamento ainda está valendo, Mateus 5.32; Lucas 16.18; Marcos 10.11)
  3. Deus termina o relacionamento de “uma só carne” somente por meio da morte de um dos cônjuges (Romanos 7.1-3; 1 Coríntios 7.39)
  4. A graça e o poder de Deus são prometidos e são suficientes para capacitar um cristão divorciado e fiel a ser solteiro por toda sua vida terrena, se necessário (Mateus 19.10-12,26; 1 Coríntios 10.13)
  5. Frustrações temporárias e desvantagens são muito mais preferíveis que a desobediência do novo casamento, e produzirá profunda e duradoura alegria tanto nesta vida como na vida porvir.
Aos que já casaram-se novamente:
  1. Devem reconhecer que a escolha de casar-se de novo e o ato de entrar em um segundo casamento foi um pecado, confessá-lo como tal e buscar perdão
  2. Devem não tentar retornar ao seu primeiro parceiro após entrar numa segunda união (veja 8.2 acima)
  3. Devem não se separar e viver como solteiros pensando que isto resultaria em menos pecado porque todas as suas relações sexuais são adultério. A Bíblia não dá prescrições para este caso particular, mas trata o segundo casamento como tendo significância aos olhos de Deus.Isto é, existem promessas feitas e uma união foi formada. Não deveria ter sido formada, mas foi. Isto não deve ser tomado levianamente. Promessas existem para serem mantidas, e a união deve ser santificada a Deus. Embora não seja o estado ideal, permanecer em um segundo casamento é a vontade de Deus para um casal e suas relações seguintes não devem ser vistas como adúlteras.


Nota: Os leitores desta declaração devem ter certeza de consultarem a declaração oficial do Concílio de Diáconos da Igreja Batista Bethlehem, intitulado A Statement on Divorce and Remarriage in the Life of Bethlehem Baptist Church. Este documento, datado de 2 de maio de 1989, apresenta a posição sobre divórcio e novo casamento que guiará a igreja em questões de membresia e disciplina. A declaração que você tem em mãos NÃO é a posição oficial da igreja sobre divórcio e novo casamento. É o meu próprio entendimento das Escrituras e portanto as linhas-mestras para minha própria vida, ensinamentos e envolvimento ministerial em casamentos. Mas eu pretendo respeitar a declaração oficial (cujo primeiro rascunho foi escrito por mim mesmo) como nosso guia em questões de membresia e disciplina. Eu faço esta declaração acessível para que a base de certas afirmações da declaração oficial possam ser facilmente obtidas.

Enviado por John Piper

domingo, 20 de setembro de 2015

De volta à palavra

Sermão pregado no CLICERJ 19/09/2015 baseado no sermão de Spurgeon


“Para testemunhar o evangelho da graça de Deus.” (Atos 20.24)
Paulo disse que, em comparação com o seu grande propósito de pregar o evangelho, não considerava sua preciosa para si mesmo; mas temos certeza de que Paulo valorizava a sua própria vida. Como todo homem, ele tinha amor pela vida e sabia que sua própria vida era importante para a igreja e a causa de Cristo. Certa vez Paulo disse: “Por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne” (Fp 1.24). Ele não estava cansado da vida, nem era uma pessoa tola que tratava a vida como fosse algo que podia lançar fora nos esportes. Paulo valorizava a vida, visto que valorizava o tempo, que constitui a vida, e usava de modo prático cada dia e hora, “remindo o tempo, porque os dias são maus” (Ef 5.16). Apesar disso, Paulo falou aos presbíteros da igreja de Éfeso que não considerava a sua vida preciosa, em comparação com o dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
De acordo com o versículo que ora consideramos, o apóstolo considerava a vida como uma carreira que tinha de realizar. Ora, quanto mais rapidamente corrermos, tanto melhor será a carreira. Com certeza, a extensão não é o alvo desejado. O único pensamento de um corredor é como ele pode alcançar mais rapidamente a marca de chegada. Ele menospreza o solo; não se preocupa com o percurso, exceto com o fato de que aquele é o caminho pelo qual ele tem de correr para atingir seu objetivo. A vida de Paulo era assim. Toda a vigor de seu espírito estava concentrada na busca de um único objetivo, ou seja, dar testemunho do evangelho da graça de Deus. E a vida que Paulo tinha aqui embaixo era valorizada por ele somente como meio para atingir seu objetivo.
Paulo também considerava o evangelho e seu ministério de testemunhá-lo como um depósito sagrado que lhe fora confiado pelo próprio Senhor. Paulo via a si mesmo como aquele a quem o evangelho fora confiado (cf. 1 Ts 2.4) e resolvera ser fiel, embora isso lhe custasse à vida. Diante dos olhos de sua mente, Paulo via o Senhor tomando em suas mãos traspassadas o cofre precioso que continha a joia celestial da graça de Deus e dizendo-lhe: “Eu o redimi com meu sangue, eu o chamei por meu nome; agora confio esta coisa preciosa às suas mãos, para que você cuide dela e guarde-a até com o seu próprio sangue. Eu o comissiono a ir por todos os lugares, com meu substituto, para fazer conhecido a cada pessoa, debaixo do céu, o evangelho da graça de Deus”.
Sabemos que o Senhor comissionou a igreja para pregar o evangelho como Cristo assim o fez (João 20:21), e nós devemos ser como Cristo.
O que era esse evangelho pelo qual Paulo estava disposto a morrer? Não era qualquer coisa chamada “evangelho” que produzia esse entusiasmo. Em nossos dias, temos evangelhos pelos quais eu não morreria, nem recomendaria a qualquer de vocês que vivessem por eles, pois são evangelhos que se extinguirão em poucos anos. Nunca é digno que morramos por uma doutrina que morrerá por si mesma. Já vivi tempo suficiente para ver o surgimento, o florescimento e a decadência de vários evangelhos. Há muito me disseram que minha velha doutrina calvinista estava ultrapassada, era uma coisa desacreditada. Em seguida, ouvi que o ensino evangélico, em qualquer forma, era uma coisa do passado que seria suplantada por “pensamentos avançados” (Para os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina. 1 Timóteo 1:10).
O que era esse evangelho que Paulo valorizava mais do que sua própria vida? Paulo o chamou de “evangelho da graça de Deus” (Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho. Gálatas 1:6). O aspecto do evangelho que mais impressionou o apóstolo foi o de que era uma mensagem da graça, e tão somente da graça. Em meio à música das boas-novas, uma nota se sobressaía às outras e encantava os ouvidos do apóstolo. Essa nota era a graça — a graça de Deus. Essa nota ele considerava característica de toda a melodia; o evangelho era o “evangelho da graça de Deus”. Em nossos dias, a palavra graça não é muito ouvida; ouvimos a respeito dos deveres morais, ajustes científicos e progresso humano. Quem nos fala sobre a graça de Deus, exceto umas poucas pessoas antiquadas que logo passarão? Sou uma dessas pessoas antiquadas, por isso tentarei ecoar essa palavra graça, para que todos os que conhecem o seu som se regozijem, e ela penetre o coração daqueles que a desprezam.

A graça é a essência do evangelho. A graça é a única esperança para este mundo caído! É o único consolo para os santos que esperam pela glória. No que concerne à graça, talvez Paulo tinha uma percepção mais clara do que Pedro, Tiago ou João; por isso, ele escreveu mais no Novo Testamento. Os outros escritores apostólicos excederam a Paulo em outros aspectos, mas ele, devido à clareza e à profundidade na doutrina da graça, permanece como o primeiro e o mais importante. Precisamos novamente de Paulo ou, pelo menos, do evangelismo e da clareza paulinos. Ele desprezaria esses novos evangelhos e diria aos que o seguem: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl 1.6-7).
Permita-me explicar de modo breve como o evangelho é as boas-novas da graça. O evangelho é um anúncio de que Deus está disposto a perdoar a culpa do homem com base no favor gratuito e na pura misericórdia. Não haveria boas novas em dizer que Deus é justo, pois, em primeiro lugar, isso não é novidade. Todos sabemos que Deus é justo; a consciência natural ensina isso. O fato de que Deus pune o pecado e recompensa a justiça não é uma novidade. E, se fosse, ainda não seria uma boa notícia; pois todos pecamos, e, com base na justiça, todos devemos perecer. Mas o fato de que o Juiz de todos está pronto a perdoar as transgressões e justificar o ímpio, isso é boa nova, da melhor qualidade. O fato de que o Salvador perdoará o pecado, vestirá o pecador com sua justiça e o receberá em seu favor, não por conta do que ele fez ou fará, e sim por causa da graça soberana — isso é boa nova. Embora sejamos todos culpados, e todos condenados por nossos pecados, Deus está disposto a nos remover da maldição de sua lei e nos dar toda a bem-aventurança de um homem justo, num ato de pura misericórdia. Esta é uma mensagem digna de que morramos por ela — a mensagem de que, mediante a graça, Deus pode ser justo e, ao mesmo tempo, justificador daquele que crê em Jesus; a mensagem de que ele pode ser justo Juiz dos homens e de que os crentes podem ser justificados gratuitamente pela graça de Deus, mediante a redenção que há em Cristo Jesus! O fato de que Deus é misericordioso e gracioso e está pronto a abençoar o mais indigno é uma notícia maravilhosa! É uma notícia digna de um homem gastar centenas de vidas comunicando-a!
O meu coração pula dentro de mim, quando repito isso, neste salão, e digo ao arrependido, ao desanimado e ao desesperado que, embora seus pecados mereçam o inferno, a graça lhes pode dar o céu e prepará-los para aquele lugar bendito; e pode fazer isso como um ato soberano de amor, completamente independente do caráter e merecimentos deles. Há esperança para o mais desesperado, porque o Senhor diz: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” (Rm 9.15). Visto que o Senhor diz: “Não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16), há uma porta de esperança aberta para aqueles que, de outro modo, entrariam em desespero. Sim, posso entender Paulo sentindo uma santa agitação a respeito de uma revelação como essa da graça gratuita! Posso entendê-lo sentindo-se disposto a entregar a própria vida, a fim de anunciar aos pecadores que a graça reina por meio da justiça para a vida eterna.
Mas o evangelho nos diz muito mais do que isso. O evangelho nos diz que Deus, o Pai, a fim de relacionar-se com os homens, com base no favor gratuito, Ele mesmo removeu o grande obstáculo que estava no caminho da misericórdia. Deus é justo; essa é uma verdade inquestionável. A consciência humana reconhece isso, e a consciência do homem não fica tranqüila enquanto não vê a justiça de Deus satisfeita. Então, para que Deus lidasse de maneira justa e misericordiosa com o homem, Ele deu seu Filho unigênito, a fim de que, por sua morte, a lei recebesse o que lhe era devido e fossem mantidos os princípios eternos do governo de Deus. Jesus foi designado a assumir o lugar do homem, levar o seu pecado e suportar o castigo da sua culpa. Como Isaías afirma isso com tanta clareza em seu capítulo 53! Agora o homem é salvo em segurança, porque o mandamento não é desprezado, nem a penalidade, revogada. Jesus fez e suportou tudo que a justiça mais severa poderia ter exigido. E a graça tem as mãos desimpedidas para distribuir perdões conforme lhe apraz. O devedor é liberado, pois a sua dívida foi paga. Ele vê o Salvador morrendo e ouve o profeta, que diz: “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5).

Irmãos, planejar e aceitar a expiação foi graça da parte de Deus, especialmente porque Ele mesmo proveu a expiação às custas de Si mesmo. Isso é maravilhoso! Aquele que foi ofendido, Ele mesmo proveu a reconciliação! Ele tinha apenas um Filho. E, como havia um obstáculo impedindo-o de relacionar-se com os homens, com base na pura graça, Ele tomou seu Filho, permitiu-Lhe assumir nosso natureza frágil e, nessa, natureza permitiu-Lhe morrer, o Justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4.10). Isso é o evangelho da graça de Deus — Ele é capaz de, sem injustiça, lidar com os homens servindo-se de pura misericórdia, mas completamente separado dos pecados ou dos méritos deles, porque tais pecados foram lançados sobre seu Filho, Jesus Cristo, que ofereceu à justiça divina uma satisfação completa, para que Deus seja glorioso em santidade e, ao mesmo tempo, rico em misericórdia. Sim, amado Paulo, existe algo digno de ser pregado neste mundo!
A fim de cumprir os desígnios da graça era necessário que a mensagem do evangelho fosse anunciada cheia de promessa, encorajamento e bênção. De fato, essa mensagem foi entregue a nós, pois o evangelho que pregamos está repleto de graça. Ele diz assim: Pecador, tal como você está, converta-se ao Senhor; Ele o receberá e o amará graciosamente. Deus anuncia: “Para com as suas iniqüidades, usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Hb 8.12). Por causa de Cristo, e não por causa de quaisquer agonias, lágrimas e pesares em você, Deus afastará de você os seus pecados, como o Oriente dista do Ocidente. Ele disse: “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã” (Is 1.18). Você pode vir a Jesus tal como está; Ele lhe dará remissão completa, desde que você creia nEle. O Senhor diz hoje: “Não olhe para dentro de si mesmo, como se quisesse achar qualquer mérito ali. Olhe para mim e seja salvo. Eu o abençoarei à parte dos méritos, de acordo com a expiação de Cristo Jesus”. Ele diz: “Não olhe para dentro de si mesmo, como se procurasse alguma força para a vida futura. Eu serei a sua força e a sua salvação, pois, quando você estava sem forças, Cristo morreu no devido tempo em favor de ímpios”.
A mensagem do evangelho é uma mensagem de graça porque é direcionado àqueles cujo único clamor é a sua necessidade. Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Cristo não veio para chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento. Portanto, venham aqueles que são moralmente enfermos; venham aqueles cuja fronte está embranquecida pela lepra do pecado. Venham e sejam bem-vindos, pois este evangelho proclamado por autoridade divina é para vocês. Com certeza, uma mensagem como essa é digno de todo esforço em favor de sua propagação; ela é tão bendita, tão divina, que podemos derramar, com alegria, nosso próprio sangue a fim de proclamá-la.
Além disso, para que este evangelho abençoador chegue ao alcance do homem, a graça de Deus adotou um método adequado à condição do homem. Alguém pode indagar: “Como posso ser perdoado? Responda-me logo, com verdade!” Eis a resposta: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” (At 16.31). Deus não exige de você boas obras, nem bons sentimentos, e sim que esteja disposto a aceitar o que Ele dá gratuitamente. Deus salva com base no crer. Isto é fé: creia que Jesus é o Filho de Deus e confie-se a Ele. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome” (Jo 1.12). Se você crer, será salvo. A salvação “provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência” (Rm 4.16).
Talvez você diga: “Mas a fé está além de meu alcance”. Então, no evangelho da graça de Deus somos informados de que a própria fé é um dom de Deus, que a produz nos homens por meio do seu Espírito Santo. Sem o Espírito Santo, os homens estão mortos em delitos e pecados. Oh! que graça preciosa! A fé ordenada é também outorgada! “Mas”, alguém diria, “se eu crer em Jesus e os meus pecados passados forem perdoados, tenho medo de voltar ao pecado, pois não tenho forças para me guardar quanto ao futuro”. Ouça: o evangelho da graça de Deus é este: Ele o guardará até ao fim; Deus manterá vivo o fogo que acendeu em você, pois Ele mesmo diz: “Dou a vida eterna às minhas ovelhas”. E diz também: “A água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4.14).
As ovelhas de Cristo nunca perecerão, e ninguém jamais as arrebatará das mãos dEle. Você ouviu isso, pecador culpado, que não tem qualquer direito à graça de Deus? A graça gratuita de Deus lhe será dada; sim, ela será dada até a você. Se você for tornado disposto a recebê-la, será salvo neste mesmo dia, e salvo para sempre, sem qualquer dúvida. Digo-o novamente: este evangelho é tão digno de ser pregado, que posso entender as palavras de Paulo: “Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”.

Você se sente inclinado a aceitar o caminho e o método da graça? Permita-me testá-lo. Algumas pessoas acham que amam algo, mas, de fato, não o amam, pois cometeram um erro concernente ao que imaginam amar. Você entende que não tem qualquer direito em relação a Deus? Ele diz: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” (Rm 9.15). Quando nos referimos à pura misericórdia, ninguém pode realmente apresentar um direito para com ela. De fato, não existe tal direito. Se a misericórdia vem por graça, ela não é uma dívida; e, se é uma dívida, não vem por graça. Se Deus quer salvar uma pessoa e deixar outra perecer em seu próprio pecado obstinado, essa outra pessoa não pode argumentar com Deus. E, se o fizer, a resposta será: “Não posso fazer o que quero com aquilo que é meu?” Oh! você parece como se estivesse afastado da misericórdia! Preste atenção: o seu orgulho se revolta contra a soberania da graça. Deixe-me convidá-lo a retornar outra vez. Embora você não tenha qualquer direito, há outra verdade, que lhe é favorável.

Por outro lado, nada impede que você obtenha misericórdia. Se você não precisa de qualquer bondade para recomendar-lhe a Deus, visto que tudo que Ele dá é puro favor, nenhuma maldade é capaz de privá-lo desse favor. Embora você seja culpado, Deus pode mostrar-lhe favor. Em outros casos, Ele já chamou os piores pecadores. Por que não o faria com você também? De qualquer modo, nenhuma agravação de seu pecado, nenhuma permanência no pecado, nenhum aprofundamento no pecado pode ser a razão por que Deus não lhe daria sua graça; pois, se a pura graça, e nada mais do que esta, tem de exercer seu reino, o mais perverso transgressor pode ser salvo. Neste caso, há ocasião para a graça manifestar a sua grandeza. Tenho ouvido homens apresentarem desculpas com base na doutrina da eleição. Eles têm dito: “O que acontecerá se eu não for um eleito?” Parece-me mais sábio dizer: “O que acontecerá se eu for um eleito?” Sim, eu sou um eleito, se creio em Jesus, pois nunca houve um caso de uma alma descansar na expiação de Cristo, sem que fosse eleita de Deus desde antes da fundação do mundo.
Este é o evangelho da graça de Deus, e sei que ele toca o coração de muitos de vocês. Ele sempre estimula a minha alma, como o som de uma marcha militar, a pensar na graça de meu Senhor manifestada desde a eternidade, uma graça que é constante à sua escolha e lhe continuará sendo constante, mesmo quando todas as coisas visíveis desaparecerem como faíscas que se dissipam pela chaminé. Dentro de mim, o coração se regozija por ter de pregar essa graça gratuita e esse amor da morte de Cristo. Existe algo neste evangelho da graça gratuita que o torna digno ser pregado, digno de ser ouvido e digno de morrermos por ele.
Meu amigo, se o evangelho não lhe tem feito nada, abra seus lábios e fale contra ele. Mas, se o evangelho lhe tem feito o que faz por muitos de nós; se tem mudado sua vida, se o tirou da masmorra e o fez assentar-se num trono; se o evangelho é a sua comida e a sua bebida, bem como o próprio centro e o vigor de sua vida, testemunhe-o constantemente. Se o evangelho se tornou para você aquilo que ele é para mim, a luz de meu coração interior, o âmago de meu ser, proclame-o onde quer você vá e torne-o conhecido, ainda que as pessoas o rejeitem. O evangelho é para você o poder de Deus para a salvação e será isso mesmo para todos os que crerem.
Meu tempo acabou, mas tenho de detê-los mais um pouco, enquanto recordo-lhe as razões por que nós, irmãos, devemos fazer conhecido o evangelho da graça de Deus.
Primeiramente, ele é, afinal de contas, o único evangelho que existe no mundo. Esses evangelhos efêmeros do presente, que vão e vêm como um jornal barato — proeminente por um dia, mas depois lançado fora —, não têm direito ao zelo de qualquer homem. Contudo, ouvir o evangelho da graça de Deus é digno de uma caminhada de muitos quilômetros. E, se o evangelho fosse explicado com clareza em todas as igrejas, garanto-lhes que veríamos poucos bancos vazios: as pessoas viriam para ouvi-lo, pois sempre têm feito isso.
É um evangelho sem a graça de Deus que faz o rebanho passar fome, até que as ovelhas esqueçam as pastagens… Os homens querem algo que estimule seu coração em meio aos seus labores e lhes dê esperança quando estão sob o senso de pecado. Assim como o sedento necessita de água, assim também o homem necessita do evangelho da graça de Deus. E não existem dois evangelhos no mundo, assim como não existem dois sóis neste céu. Há somente uma atmosfera a respirarmos e apenas um evangelho pelo qual podemos viver.
Em segundo, viva pelo evangelho porque ele glorifica a Deus. Você percebe como o evangelho glorifica a Deus? Ele humilha o pecador, tornando-o nada, e mostra que Deus é tudo em todos. O evangelho coloca a Deus no trono e lança o homem no pó. Depois, ele conduz amavelmente o homem a adorar e reverenciar o Deus de toda graça, que perdoa a transgressão, a iniquidade e o pecado. Então, propague o evangelho.
Propague-o porque assim você glorificará a Cristo. Oh! se Ele viesse a este púlpito nesta manhã, quão alegremente O receberíamos! Quão piedosamente O adoraríamos! Se pudéssemos apenas ver a sua face, sua face majestosa e querida não nos prostraria em adoração? Se Ele falasse e dissesse: “Meus amados, eu lhes confiei o meu evangelho. Mantenham-no firme como o receberam! Não atentem às ideias e imaginações de homens, mantenham firme a verdade como a receberam. E anunciem ao mundo a minha Palavra, pois tenho outras ovelhas que ainda não fazem parte de meu rebanho e que devem ser trazidas. E vocês têm irmãos que são filhos pródigos, eles precisam retornar ao lar”. Eu lhes digo: se o Senhor os contemplasse individualmente e lhes falasse isso, cada um de vocês responderia: “Senhor, viverei para Ti! Eu farei que Te conheçam. Se for preciso, morrerei por Ti, a fim de tornar público o evangelho de Jesus Cristo!”


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Antes de se alegrar por uma alma devo aprender a angustiar-me

Sermão pregado na conferência missionário no dia 12/09/2015 na Igreja Assembleia de Deus Ministério em Anchieta (Congr. de Marechal Hermes Campo de Madureira)


E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Lucas 15:6
Jesus chorou. João 11:35
E, quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela, Lucas 19:41
O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia. Heb. 5:7


O Evangelho de nosso Senhor descrito por Lucas no capítulo de número 15, é uma reunião de três parábolas que expressam o ensinamento do pecador remido por Cristo depois de ser alcançado pela graça de nosso Senhor. As parábolas são: do pastor que busca; da mulher que chora; e a do pai que ama, estas ensinam o arrependimento (Luc. 12:54-59). O Reino de Deus é o juízo sobre o Mundo em pecado (Chegou a hora de ser julgado este mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. João 12:31), contudo, Deus antes de julgar o Mundo pela sua infinita graça, permitiu que alguns dentre da massa caída fossem atraídos até a Cristo, no intuito de serem salvos (Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim. João 12:32), isto através da renovação da comunhão com o pecador arrependido (Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração e a condenarão; pois eles se arrependeram com a pregação de Jonas, e agora está aqui o que é maior do que Jonas. Lucas 11:32), assim Deus sente a alegria por um pecador salvo (E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Lucas 15:6).
Ter alegria por uma alma convertida não é tão simples como se pensa; o sentimento que permeia o religioso é o da condenação e rejeição ao não convertido (Mas os fariseus e os mestres da lei o criticavam: "Este homem recebe pecadores e come com eles". Lucas 15:2). Sentir o gozo pela conversão de alguém é aprender primeiro sentir a dor pelo não convertido. O nosso Senhor Jesus Cristo antes de ter alegria se angustiou por três vezes pelo pecador (João 11:35; Luc. 19:41; e Heb. 5:7). Chorar pelos que vão caminhando sem o Salvador neste Mundo. Em João 11:35 o Salvador se comove pelo sofrimento alheio e pela maldição da morte (João 11:33, 36), aquele atende a chamada missionária se compadece dos que sofrem, e choram com estes (Romanos 12:15). Em Lucas 19:41 o Salvador chora novamente desta vez consternado pela situação de afastamento de Deus que Jerusalém se encontrava, então, o que era para ser uma entrada triunfal se torna em dor e lamento e em maldição por causa da incredulidade, o missionário não se conforma com o século que vive, mas, o tenta renová-lo por sua nova mentalidade (Romanos 12:2). Em Hebreus 5:7, Jesus Cristo chora por todo o pecador que o Pai o deu, pois este sentira a dor do juízo dos pecados deles, o vocacionado sente o juízo dos pecados e se põe na brecha por estes, orando e chorando pelas almas perdidas (Oro também para que os olhos do coração de vocês sejam iluminados, a fim de que vocês conheçam a esperança para a qual ele os chamou, as riquezas da gloriosa herança dele nos santos Efésios 1:18).

Sentir esta alegria do Senhor em nosso coração é primeiro conhecer a dor que Ele sente pela alma perdida. A Palavra de Deus nos ensina que todo aquele que nele crê não será fundido (Rom. 10:11), então a missão da igreja é proclamar esta fé, ou seja, ir em busca do pecador, e ensiná-lo a clamar o nome de Jesus Cristo, pois, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (Rom. 10:13), mas há uma série de pergunta que podemos fazer: Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? (Romanos 10:14,15ª) Todavia, a bíblia nos ensina que "Como são belos os pés dos que anunciam boas novas! " (Romanos 10:15), mas, para anunciar as boas novas temos de ter o sentimento de Cristo (I João 3:16) que o de se entregar para salvar o Mundo em Pecado, e mesmo se sofremos nos alegrarmos, pois achamos o que estava perdido e por este motivo nos alegrarmos por isto (E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Lucas 15:6).