Sermão pregado no CLICERJ 19/09/2015 baseado no sermão de
Spurgeon
“Para testemunhar o
evangelho da graça de Deus.” (Atos 20.24)
Paulo disse que, em
comparação com o seu grande propósito de pregar o evangelho, não considerava
sua preciosa para si mesmo; mas temos certeza de que Paulo valorizava a sua
própria vida. Como todo homem, ele tinha amor pela vida e sabia que sua própria
vida era importante para a igreja e a causa de Cristo. Certa vez Paulo disse:
“Por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne” (Fp 1.24). Ele não
estava cansado da vida, nem era uma pessoa tola que tratava a vida como fosse
algo que podia lançar fora nos esportes. Paulo valorizava a vida, visto que
valorizava o tempo, que constitui a vida, e usava de modo prático cada dia e
hora, “remindo o tempo, porque os dias são maus” (Ef 5.16). Apesar disso, Paulo
falou aos presbíteros da igreja de Éfeso que não considerava a sua vida
preciosa, em comparação com o dar testemunho do evangelho da graça de Deus.
De acordo com o
versículo que ora consideramos, o apóstolo considerava a vida como uma carreira
que tinha de realizar. Ora, quanto mais rapidamente corrermos, tanto melhor
será a carreira. Com certeza, a extensão não é o alvo desejado. O único
pensamento de um corredor é como ele pode alcançar mais rapidamente a marca de
chegada. Ele menospreza o solo; não se preocupa com o percurso, exceto com o
fato de que aquele é o caminho pelo qual ele tem de correr para atingir seu
objetivo. A vida de Paulo era assim. Toda a vigor de seu espírito estava concentrada
na busca de um único objetivo, ou seja, dar testemunho do evangelho da graça de
Deus. E a vida que Paulo tinha aqui embaixo era valorizada por ele somente como
meio para atingir seu objetivo.
Paulo também considerava
o evangelho e seu ministério de testemunhá-lo como um depósito sagrado que lhe
fora confiado pelo próprio Senhor. Paulo via a si mesmo como aquele a quem o
evangelho fora confiado (cf. 1 Ts 2.4) e resolvera ser fiel, embora isso lhe
custasse à vida. Diante dos olhos de sua mente, Paulo via o Senhor tomando em
suas mãos traspassadas o cofre precioso que continha a joia celestial da graça
de Deus e dizendo-lhe: “Eu o redimi com meu sangue, eu o chamei por meu nome;
agora confio esta coisa preciosa às suas mãos, para que você cuide dela e
guarde-a até com o seu próprio sangue. Eu o comissiono a ir por todos os
lugares, com meu substituto, para fazer conhecido a cada pessoa, debaixo do
céu, o evangelho da graça de Deus”.
Sabemos que o
Senhor comissionou a igreja para pregar o evangelho como Cristo assim o fez
(João 20:21), e nós devemos ser como Cristo.
O que era esse
evangelho pelo qual Paulo estava disposto a morrer? Não era
qualquer coisa chamada “evangelho” que produzia esse entusiasmo. Em nossos
dias, temos evangelhos pelos quais eu não morreria, nem
recomendaria a qualquer de vocês que vivessem por eles, pois
são evangelhos que se extinguirão em poucos anos. Nunca é digno que morramos
por uma doutrina que morrerá por si mesma. Já vivi tempo suficiente para ver o
surgimento, o florescimento e a decadência de vários evangelhos. Há muito me
disseram que minha velha doutrina calvinista estava ultrapassada, era uma coisa
desacreditada. Em seguida, ouvi que o ensino evangélico, em qualquer forma, era
uma coisa do passado que seria suplantada por “pensamentos avançados” (Para
os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os
mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina. 1
Timóteo 1:10).
O que era esse evangelho que Paulo
valorizava mais do que sua própria vida? Paulo o chamou de “evangelho da
graça de Deus” (Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à
graça de Cristo para outro evangelho. Gálatas 1:6). O aspecto do
evangelho que mais impressionou o apóstolo foi o de que era uma mensagem da
graça, e tão somente da graça. Em meio à música das boas-novas, uma nota se
sobressaía às outras e encantava os ouvidos do apóstolo. Essa nota era a graça
— a graça de Deus. Essa nota ele considerava característica de toda a melodia;
o evangelho era o “evangelho da graça de Deus”. Em nossos dias, a palavra graça não
é muito ouvida; ouvimos a respeito dos deveres morais, ajustes científicos e
progresso humano. Quem nos fala sobre a graça de Deus, exceto umas poucas
pessoas antiquadas que logo passarão? Sou uma dessas pessoas antiquadas, por
isso tentarei ecoar essa palavra graça, para que todos os que
conhecem o seu som se regozijem, e ela penetre o coração daqueles que a
desprezam.
A graça é a essência do evangelho. A graça é a
única esperança para este mundo caído! É o único consolo para os santos que
esperam pela glória. No que concerne à graça, talvez Paulo tinha uma percepção
mais clara do que Pedro, Tiago ou João; por isso, ele escreveu mais no Novo
Testamento. Os outros escritores apostólicos excederam a Paulo em outros
aspectos, mas ele, devido à clareza e à profundidade na doutrina da graça,
permanece como o primeiro e o mais importante. Precisamos novamente de Paulo
ou, pelo menos, do evangelismo e da clareza paulinos. Ele desprezaria esses
novos evangelhos e diria aos que o seguem: “Admira-me que estejais passando tão
depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual
não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o
evangelho de Cristo” (Gl 1.6-7).
Permita-me explicar de modo breve
como o evangelho é as boas-novas da graça. O evangelho é um anúncio de que
Deus está disposto a perdoar a culpa do homem com base no favor gratuito e na
pura misericórdia. Não haveria boas novas em dizer que Deus é justo, pois, em
primeiro lugar, isso não é novidade. Todos sabemos que Deus é justo; a
consciência natural ensina isso. O fato de que Deus pune o pecado e recompensa
a justiça não é uma novidade. E, se fosse, ainda não seria uma boa notícia;
pois todos pecamos, e, com base na justiça, todos devemos perecer. Mas o fato
de que o Juiz de todos está pronto a perdoar as transgressões e justificar o
ímpio, isso é boa nova, da melhor qualidade. O fato de que o Salvador perdoará
o pecado, vestirá o pecador com sua justiça e o receberá em seu favor, não por
conta do que ele fez ou fará, e sim por causa da graça soberana — isso é boa
nova. Embora sejamos todos culpados, e todos condenados por nossos pecados,
Deus está disposto a nos remover da maldição de sua lei e nos dar toda a
bem-aventurança de um homem justo, num ato de pura misericórdia. Esta é uma
mensagem digna de que morramos por ela — a mensagem de que, mediante a graça,
Deus pode ser justo e, ao mesmo tempo, justificador daquele que crê em Jesus; a
mensagem de que ele pode ser justo Juiz dos homens e de que os crentes podem
ser justificados gratuitamente pela graça de Deus, mediante a redenção que há
em Cristo Jesus! O fato de que Deus é misericordioso e gracioso e está pronto a
abençoar o mais indigno é uma notícia maravilhosa! É uma notícia digna de um
homem gastar centenas de vidas comunicando-a!
O meu coração pula
dentro de mim, quando repito isso, neste salão, e digo ao arrependido, ao
desanimado e ao desesperado que, embora seus pecados mereçam o inferno, a graça
lhes pode dar o céu e prepará-los para aquele lugar bendito; e pode fazer isso
como um ato soberano de amor, completamente independente do caráter e
merecimentos deles. Há esperança para o mais desesperado, porque o Senhor diz:
“Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de
quem me aprouver ter compaixão” (Rm 9.15). Visto que o Senhor diz: “Não depende
de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16),
há uma porta de esperança aberta para aqueles que, de outro modo, entrariam em
desespero. Sim, posso entender Paulo sentindo uma santa agitação a respeito de
uma revelação como essa da graça gratuita! Posso entendê-lo sentindo-se
disposto a entregar a própria vida, a fim de anunciar aos pecadores que a graça
reina por meio da justiça para a vida eterna.
Mas o evangelho nos diz muito mais do
que isso. O evangelho nos diz que Deus, o Pai, a fim de relacionar-se com os
homens, com base no favor gratuito, Ele mesmo removeu o grande obstáculo que
estava no caminho da misericórdia. Deus é justo; essa é uma
verdade inquestionável. A consciência humana reconhece isso, e a consciência do
homem não fica tranqüila enquanto não vê a justiça de Deus satisfeita. Então,
para que Deus lidasse de maneira justa e misericordiosa com o homem, Ele deu
seu Filho unigênito, a fim de que, por sua morte, a lei recebesse o que lhe era
devido e fossem mantidos os princípios eternos do governo de Deus. Jesus foi
designado a assumir o lugar do homem, levar o seu pecado e suportar o castigo
da sua culpa. Como Isaías afirma isso com tanta clareza em seu capítulo 53!
Agora o homem é salvo em segurança, porque o mandamento não é desprezado, nem a
penalidade, revogada. Jesus fez e suportou tudo que a justiça mais severa
poderia ter exigido. E a graça tem as mãos desimpedidas para distribuir perdões
conforme lhe apraz. O devedor é liberado, pois a sua dívida foi paga. Ele vê o
Salvador morrendo e ouve o profeta, que diz: “O castigo que nos traz a paz
estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5).
Irmãos, planejar e aceitar a expiação
foi graça da parte de Deus, especialmente porque Ele mesmo proveu a expiação às
custas de Si mesmo. Isso é maravilhoso! Aquele que foi ofendido, Ele mesmo proveu a
reconciliação! Ele tinha apenas um Filho. E, como havia um obstáculo
impedindo-o de relacionar-se com os homens, com base na pura graça, Ele tomou
seu Filho, permitiu-Lhe assumir nosso natureza frágil e, nessa, natureza
permitiu-Lhe morrer, o Justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. “Nisto
consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou
e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4.10). Isso é
o evangelho da graça de Deus — Ele é capaz de, sem injustiça, lidar com os
homens servindo-se de pura misericórdia, mas completamente separado dos pecados
ou dos méritos deles, porque tais pecados foram lançados sobre seu Filho, Jesus
Cristo, que ofereceu à justiça divina uma satisfação completa, para que Deus
seja glorioso em santidade e, ao mesmo tempo, rico em misericórdia. Sim, amado
Paulo, existe algo digno de ser pregado neste mundo!
A fim de cumprir os desígnios da
graça era necessário que a mensagem do evangelho fosse anunciada cheia de
promessa, encorajamento e bênção. De fato, essa mensagem foi
entregue a nós, pois o evangelho que pregamos está repleto de graça. Ele diz
assim: Pecador, tal como você está, converta-se ao Senhor; Ele o receberá e o
amará graciosamente. Deus anuncia: “Para com as suas iniqüidades, usarei de
misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Hb 8.12). Por causa de
Cristo, e não por causa de quaisquer agonias, lágrimas e pesares em você, Deus
afastará de você os seus pecados, como o Oriente dista do Ocidente. Ele disse:
“Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam
como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam
vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã” (Is 1.18). Você pode vir a
Jesus tal como está; Ele lhe dará remissão completa, desde que você creia nEle.
O Senhor diz hoje: “Não olhe para dentro de si mesmo, como se quisesse achar
qualquer mérito ali. Olhe para mim e seja salvo. Eu o abençoarei à parte dos
méritos, de acordo com a expiação de Cristo Jesus”. Ele diz: “Não olhe para
dentro de si mesmo, como se procurasse alguma força para a vida futura. Eu
serei a sua força e a sua salvação, pois, quando você estava sem forças, Cristo
morreu no devido tempo em favor de ímpios”.
A mensagem do
evangelho é uma mensagem de graça porque é direcionado àqueles cujo único
clamor é a sua necessidade. Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes.
Cristo não veio para chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento.
Portanto, venham aqueles que são moralmente enfermos; venham aqueles cuja
fronte está embranquecida pela lepra do pecado. Venham e sejam bem-vindos, pois
este evangelho proclamado por autoridade divina é para vocês. Com certeza, uma
mensagem como essa é digno de todo esforço em favor de sua propagação; ela é
tão bendita, tão divina, que podemos derramar, com alegria, nosso próprio
sangue a fim de proclamá-la.
Além disso, para
que este evangelho abençoador chegue ao alcance do homem, a graça de Deus
adotou um método adequado à condição do homem. Alguém pode indagar: “Como posso
ser perdoado? Responda-me logo, com verdade!” Eis a resposta: “Crê no Senhor
Jesus e serás salvo” (At 16.31). Deus não exige de você boas obras, nem bons
sentimentos, e sim que esteja disposto a aceitar o que Ele dá gratuitamente.
Deus salva com base no crer. Isto é fé: creia que Jesus é o Filho de Deus e
confie-se a Ele. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem
feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome” (Jo 1.12). Se você
crer, será salvo. A salvação “provém da fé, para que seja segundo a graça, a
fim de que seja firme a promessa para toda a descendência” (Rm 4.16).
Talvez você diga:
“Mas a fé está além de meu alcance”. Então, no evangelho da graça de Deus somos
informados de que a própria fé é um dom de Deus, que a produz nos homens por
meio do seu Espírito Santo. Sem o Espírito Santo, os homens estão mortos em
delitos e pecados. Oh! que graça preciosa! A fé ordenada é também outorgada!
“Mas”, alguém diria, “se eu crer em Jesus e os meus pecados passados forem
perdoados, tenho medo de voltar ao pecado, pois não tenho forças para me
guardar quanto ao futuro”. Ouça: o evangelho da graça de Deus é este: Ele o
guardará até ao fim; Deus manterá vivo o fogo que acendeu em você, pois Ele
mesmo diz: “Dou a vida eterna às minhas ovelhas”. E diz também: “A água que eu
lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4.14).
As ovelhas de Cristo nunca perecerão,
e ninguém jamais as arrebatará das mãos dEle. Você ouviu isso, pecador culpado,
que não tem qualquer direito à graça de Deus? A graça gratuita de Deus lhe será
dada; sim, ela será dada até a você. Se você for tornado
disposto a recebê-la, será salvo neste mesmo dia, e salvo para sempre, sem
qualquer dúvida. Digo-o novamente: este evangelho é tão digno de ser pregado,
que posso entender as palavras de Paulo: “Em nada considero a vida preciosa
para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que
recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”.
Você se sente inclinado a aceitar o
caminho e o método da graça? Permita-me testá-lo. Algumas
pessoas acham que amam algo, mas, de fato, não o amam, pois cometeram um erro
concernente ao que imaginam amar. Você entende que não tem qualquer direito em
relação a Deus? Ele diz: “Terei misericórdia de quem me aprouver ter
misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” (Rm 9.15).
Quando nos referimos à pura misericórdia, ninguém pode realmente apresentar um
direito para com ela. De fato, não existe tal direito. Se a misericórdia vem
por graça, ela não é uma dívida; e, se é uma dívida, não vem por graça. Se Deus
quer salvar uma pessoa e deixar outra perecer em seu próprio pecado obstinado,
essa outra pessoa não pode argumentar com Deus. E, se o fizer, a resposta será:
“Não posso fazer o que quero com aquilo que é meu?” Oh! você parece como se
estivesse afastado da misericórdia! Preste atenção: o seu orgulho se revolta
contra a soberania da graça. Deixe-me convidá-lo a retornar outra vez. Embora
você não tenha qualquer direito, há outra verdade, que lhe é favorável.
Por outro lado,
nada impede que você obtenha misericórdia. Se você não precisa de qualquer
bondade para recomendar-lhe a Deus, visto que tudo que Ele dá é puro favor,
nenhuma maldade é capaz de privá-lo desse favor. Embora você seja culpado, Deus
pode mostrar-lhe favor. Em outros casos, Ele já chamou os piores pecadores. Por
que não o faria com você também? De qualquer modo, nenhuma agravação de seu
pecado, nenhuma permanência no pecado, nenhum aprofundamento no pecado pode ser
a razão por que Deus não lhe daria sua graça; pois, se a pura graça, e nada
mais do que esta, tem de exercer seu reino, o mais perverso transgressor pode
ser salvo. Neste caso, há ocasião para a graça manifestar a sua grandeza. Tenho
ouvido homens apresentarem desculpas com base na doutrina da eleição. Eles têm
dito: “O que acontecerá se eu não for um eleito?” Parece-me mais sábio dizer:
“O que acontecerá se eu for um eleito?” Sim, eu sou um eleito, se creio em
Jesus, pois nunca houve um caso de uma alma descansar na expiação de Cristo,
sem que fosse eleita de Deus desde antes da fundação do mundo.
Este é o evangelho da graça de Deus, e sei que ele
toca o coração de muitos de vocês. Ele sempre estimula a minha alma, como o som
de uma marcha militar, a pensar na graça de meu Senhor manifestada desde a
eternidade, uma graça que é constante à sua escolha e lhe continuará sendo
constante, mesmo quando todas as coisas visíveis desaparecerem como faíscas que
se dissipam pela chaminé. Dentro de mim, o coração se regozija por ter de
pregar essa graça gratuita e esse amor da morte de Cristo. Existe algo neste
evangelho da graça gratuita que o torna digno ser pregado, digno de ser ouvido
e digno de morrermos por ele.
Meu amigo, se o
evangelho não lhe tem feito nada, abra seus lábios e fale contra ele. Mas, se o
evangelho lhe tem feito o que faz por muitos de nós; se tem mudado sua vida, se
o tirou da masmorra e o fez assentar-se num trono; se o evangelho é a sua
comida e a sua bebida, bem como o próprio centro e o vigor de sua vida,
testemunhe-o constantemente. Se o evangelho se tornou para você aquilo que ele
é para mim, a luz de meu coração interior, o âmago de meu ser, proclame-o onde
quer você vá e torne-o conhecido, ainda que as pessoas o rejeitem. O evangelho
é para você o poder de Deus para a salvação e será isso mesmo para todos os que
crerem.
Meu tempo acabou,
mas tenho de detê-los mais um pouco, enquanto recordo-lhe as razões por que
nós, irmãos, devemos fazer conhecido o evangelho da graça de Deus.
Primeiramente, ele é, afinal de
contas, o único evangelho que existe no mundo. Esses
evangelhos efêmeros do presente, que vão e vêm como um jornal barato —
proeminente por um dia, mas depois lançado fora —, não têm direito ao zelo de
qualquer homem. Contudo, ouvir o evangelho da graça de Deus é digno de uma
caminhada de muitos quilômetros. E, se o evangelho fosse explicado com clareza
em todas as igrejas, garanto-lhes que veríamos poucos bancos vazios: as pessoas
viriam para ouvi-lo, pois sempre têm feito isso.
É um evangelho sem
a graça de Deus que faz o rebanho passar fome, até que as ovelhas esqueçam as
pastagens… Os homens querem algo que estimule seu coração em meio aos seus
labores e lhes dê esperança quando estão sob o senso de pecado. Assim como o
sedento necessita de água, assim também o homem necessita do evangelho da graça
de Deus. E não existem dois evangelhos no mundo, assim como não existem dois
sóis neste céu. Há somente uma atmosfera a respirarmos e apenas um evangelho
pelo qual podemos viver.
Em segundo, viva pelo evangelho
porque ele glorifica a Deus. Você percebe como o evangelho glorifica a
Deus? Ele humilha o pecador, tornando-o nada, e mostra que Deus é tudo em
todos. O evangelho coloca a Deus no trono e lança o homem no pó. Depois, ele
conduz amavelmente o homem a adorar e reverenciar o Deus de toda graça, que
perdoa a transgressão, a iniquidade e o pecado. Então, propague o evangelho.
Propague-o porque assim você
glorificará a Cristo. Oh! se Ele viesse a este púlpito nesta manhã, quão alegremente O
receberíamos! Quão piedosamente O adoraríamos! Se pudéssemos apenas ver a sua
face, sua face majestosa e querida não nos prostraria em adoração? Se Ele
falasse e dissesse: “Meus amados, eu lhes confiei o meu evangelho. Mantenham-no
firme como o receberam! Não atentem às ideias e imaginações de homens,
mantenham firme a verdade como a receberam. E anunciem ao mundo a minha
Palavra, pois tenho outras ovelhas que ainda não fazem parte de meu rebanho e
que devem ser trazidas. E vocês têm irmãos que são filhos pródigos, eles precisam
retornar ao lar”. Eu lhes digo: se o Senhor os contemplasse individualmente e
lhes falasse isso, cada um de vocês responderia: “Senhor, viverei para Ti! Eu
farei que Te conheçam. Se for preciso, morrerei por Ti, a fim de tornar público
o evangelho de Jesus Cristo!”
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