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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

REVOLTA E CONTRA-REVOLTA


Salmo 2

Este Salmo é geralmente considerado como messiânico, mas foi baseado, pode-se dizer quase que com toda a certeza, numa ocasião histórica como a que nos é narrada em 2Sm 5.17 ou em 2Sm 10.6 e seguintes. Uma situação semelhante é comemorada no Sl 83.5-8, mas a característica distintiva do Sl 2 está no seu discernimento da crise cósmica por detrás de um acontecimento de caráter nacional.

O poema representa o mundo inteiro organizado contra o Senhor em deliberada oposição ao Seu governo. Isto sugere uma diferença fundamental entre a perspectiva da terra e a do céu; daqui provêm o contraste entre a agitação e a futilidade dos povos em rebelião e a equanimidade e imutabilidade dos propósitos de Deus.

a) A conferência mundial (1-3)

A questão apresentada no vers. 1 é retórica e não analítica, por que qualquer revolta contra Deus é considerada sem fundamento. O furor das nações não é a fúria da ira concertada, mas o tumulto que resulta da disputa ruidosa entre gentes que imaginam coisas vãs, isto é, que se rebelam e fazem projetos vãos e ineficazes. Historicamente, o objeto do ataque dos ímpios era o ungido do Senhor, Davi (Cfr. 1Sm 24.6); essencialmente, era o próprio Deus; profeticamente, era o Messias (cfr. At 4.25-27).

>Sl-2.4

b) A confiança celestial (4-6)

Só é possível avaliar verdadeiramente a situação discernindo a mente de Deus, que Se senta entronizado no Céu e contempla todo o tumulto da insurreição com a suprema confiança no ilimitado poder da verdade (cfr. 2Co 13.8). Então (5) tem uma força peculiar. Significa o fim do tempo da aparente liberdade do homem e o estabelecimento, na terra, do propósito divino. Tão certo está este clímax determinado que Deus pode permitir-se conceder séculos às nações rebeldes de modo que todos os planos delas possam amadurecer, todas as objeções possam ser utilizadas e toda a resistência possa ser tentada (cfr. Ez 33.11). Então, na plenitude dos tempos, Ele intervém com ira (lit. "soprando com força pelas narinas") e no Seu furor (lit. "com ardente ira") e enuncia a Sua palavra enfática (cfr. Rm 1.18; 2Ts 2.8-13). Eu, porém ungi o meu Rei sobre o meu santo monte (6; cfr. Hb 1.2-3). O argumento de Davi, contra os que se lhe opunham, era que Deus o tinha indigitado para o trono, pelo que qualquer resistência que lhe fosse feita significava disputar com Deus (cfr. Sl 4.3).

>Sl-2.7

c) A sua autoridade real (7-9)

Imagina-se que as nações rebeldes, reunidas em revolta tumultuosa sobre a terra, foram momentaneamente apaziguadas pela declaração divina que ecoa desde o Céu. No silêncio que se supõe seguir-se, o próprio Davi dirige-se aos reis e aos povos congregados. Em primeiro lugar, ele defende o seu reinado, como sendo autorizado pelo Senhor, com fundamento no parentesco (7), doação (8), e vocação, isto é, o poder de vencer (9). A frase Tu és meu Filho (7) encontra um paralelismo no Sl 89.26-27 e as palavras Eu hoje te gerei podem entender-se, historicamente, como fazendo referência ao dia da entronização de Davi. Foram, porém verdadeira e completamente cumpridas em Jesus Cristo, como o Novo Testamento ensina. At 13.33; Rm 1.4 declaram que Ele foi aclamado "Filho" pelo próprio fato da ressurreição. Hb 1.5 e Hb 5.5 citam a frase, associando-a com a encarnação e o sacerdócio de Cristo. Alguns manuscritos, incluindo o Códice de Bezae, usam-na em relação com o batismo de Jesus (Lc 3.22). Semelhantemente, a dádiva prometida das nações e dos domínios deste mundo veio a ser uma expectativa messiânica e desde há muito que se entende como dizendo respeito a Cristo. Ap 2.27 cita o vers. 9 em ligação com "o fim", isto é, a vinda de Cristo em poder e glória (cfr. também Ap 19.15).

>Sl-2.10

d) A ação razoável (10-12)

Na segunda parte do discurso de Davi, ele retrocede para a realidade da situação descrita nos vers. 1-3. Aquele perigo ainda não passou; a crise ainda não está resolvida; a elasticidade do divino Então (5) ainda não deu de si; os eventos futuros podem ainda ser moldados pelos homens. Esta é a razão do apelo feito aos reis e juízes da terra. Sedes prudentes... Servi ao Senhor... beijai (isto é, prestai homenagem) ao Filho, porque, de outro modo, não poderá haver escape do desastre.

O Salmo não descreve o resultado real, porque é um resumo de toda a história, com o estranho poder do tempo que se manifesta em renovadas crises. 

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