Doutrina da Salvação (Vivendo diferente de Lo-debar em Jerusalém)
Hebreus 10:5-7
O Velho Testamento fala tanto da salvação
por Jesus Cristo quanto fala o Novo Testamento. O que o Velho
Testamento revela por símbolos, tipos, enigmas e mistérios, o Novo
Testamento revela abertamente. Entendemos melhor os ensinos do Novo
Testamento se consideramos as profecias e mistérios do Velho
Testamento. Entendemos melhor os mistérios do Velho Testamento se
consideramos os ensinos do Novo Testamento. O que sobreveio como
figuras no Velho Testamento foi escrito para nosso aviso (I Cor.
10:11) e para nosso ensino (Romanos 15:4). Fazemos bem quando tomamos
as Escrituras do Velho Testamento e do Novo Testamento como todos
proveitosos para fazer-nos perfeitos e perfeitamente instruídos para
toda a boa obra (II Tim 3:15-17).
Por Deus ser imutável (Mal 3:6; Tiago
1:17), e por Ele ter somente um eterno propósito em Cristo Jesus
(Efés. 3:11), convém examinar todas as Escrituras para sermos
instruídos bem nesta doutrina gloriosa da salvação. Pelo Espírito
de Cristo estar nos profetas (I Pedro 1:10-12; Apoc 19:10), o que foi
escrito, mesmo desde o princípio, no Velho Testamento, fala da obra
expiatória de Cristo (Hebreus 10:5-7).
Para resumir muitos aspectos da salvação
vistos claramente no Novo Testamento, o Velho Testamento pode ser bem
útil. O caso do arco de Noé, com a sua pregação a todos por mais
de que cem anos, a exclusividade da graça de Deus sobre a família
de Noé, a preservação e perseverança destes até a obtenção da
terra nova, pode ser mencionado para resumir essa doutrina de
salvação. Pode ser considerado também o tabernáculo com as suas
ofertas, sacerdócio, tipos como claras apresentações de todos os
aspectos de salvação. O tempo esgotará se mencionamos também as
vidas de Abraão, José, filho de Jacó, Josué, Rute e Ester, pois
essas vidas manifestam claramente a graça e misericórdia de Deus no
assunto de soteriologia. Não correremos para todos esses casos mas
queremos estudar um único caso do Velho Testamento e assim fazendo,
com as bênçãos de Deus, entenderemos melhor esse assunto
importante. Queremos observar o tratamento do rei Davi para com o
Mefibosete (II Sam 9:1-13).
O designo
da restauração de Mefibosete foi a glória do rei. O caso Bíblico
da restauração de Mefibosete trouxe um incapaz e desprezível à
mesa do rei, uma ação que redundou para a glória da graça do rei.
Assim entendemos o designo da salvação é trazer um morto em
pecados e ofensas à gloriosa luz da presença de Deus para a Sua
glória (Romanos 11:36, "Porque dEle e por Ele, e para
Ele, são todas as coisas; glória pois a Ele eternamente.";
Efés. 1:6, "Para louvor e glória da Sua graça").
A causa da restauração de Mefibosete foi
o desejo, o poder e a graça do rei. A procura da descendência da
casa de Saul, foi iniciada pelo rei (v. 1). O rei quis buscar o
Mefibosete. Nisso entendemos que a salvação é operada pelo seu
beneplácito, ou seja, o bom prazer da Sua vontade (Efés. 1:11). O
rei podia deixar de procurar este aleijado tão facilmente que podia
o procurar. Ninguém e nada o forçou a fazer isso como também
ninguém o impediu. Isso mostra a soberania de Deus na salvação
(Sal. 135:6; Daniel 4:35; Romanos 9:15,16,21). Graças à boa vontade
e soberania do rei, o Mefibosete foi restaurado. Graças à boa
vontade e soberania de Deus, pecadores hoje são salvos (Efés.
1:11).
O necessitado
da restauração foi Mefibosete. O nome Mefibosete significa coisa
vergonhosa (Leaves, Worms,
Butterflies & T.U.L.I.P.S., p. 150). O nome do lugar que ele
morava era Lo-Debar, um nome que significa sem
pastagem (Leaves ..., p.152).
Mefibosete é descrito como aleijado de "ambos os pés" (v.
3,13) e um "cão morto" (v. 8). Este homem buscado pelo rei
não tinha nada glorioso para merecer a atenção do rei. Ele era
descendência do inimigo do rei, aleijado e desprezível.
Externamente, ele era incapaz de viver uma vida real (aleijado de
"ambos os pés"), e, internamente, ele reconhecia que não
merecia nenhuma bondade do rei ("cão morto"). Tudo isso
retrata a posição do pecador que Deus busca. O pecador é
descendência do primeiro Adão, e inimigo (Romanos 5:12; 8:6-8) como
também é terrivelmente aleijado espiritualmente (Romanos 5:6,8;
Efés. 2:1). Além disso, o pecador habita contentemente nas trevas
(João 3:19) onde a morte reina (Romanos 6:23) não merecendo nada
senão a justa condenação de Deus. Se o rei Davi não buscasse em
graça e misericórdia, Mefibosete não teria sido restaurado. Assim
é a condição do pecador hoje (Romanos 3:10-18; 5:12). Sem Deus
buscar em graça e amor, nenhum pecador será salvo (Romanos 5:8;
Efés. 2:8,9).
Como o Mefibosete era um aleijado
(incapaz), morador de Lo-Debar (lugar sem pastagem) e reconhecia seu
estado de baixeza ao ser trazido na presença do Rei (II Sam 9:6,
"Eis aqui teu servo"), assim o pecador é incapaz (Romanos
8:6-8), morto em pecado (longe da santidade de Deus, Romanos 3:23), e
reconhece o seu estado de baixeza quando é trazido na presença do
Deus (Atos 9:6, "Senhor, que queres que faça?"; 16:29-31;
17:30).
Notamos que a incapacidade de Mefibosete,
mesmo sendo total, pois era aleijado de ambos os pés, não impediu-o
do poder de escolha. Ele era livre a escolher segundo a sua
capacidade. Todavia notamos também o fato que a sua livre escolha
não capacitou-o a andar. Assim entendemos que o pecador, mesmo sendo
um agente livre e com poder de livre escolha, não tem por isso, a
capacidade de fazer nada agradável a Deus (Romanos 8:6-8). O poder
de livre escolha não sobrepuja a natureza pecaminosa do homem.
Notamos também que a incapacidade de
Mefibosete não o fez menos responsável de vir ao rei quando o rei o
buscou. Mefibosete era inteiramente responsável de usar todos os
meios possíveis para obedecer o desejo do rei Davi. De maneira
nenhuma devia o Mefibosete usar a sua incapacidade como uma desculpa
de continuar longe do rei. Contrariamente, a sua incapacidade devia
fazer ele clamar pela misericórdia do rei para o ter a misericórdia
em o capacitar à obedecer (Mar 9:20). Nisso entendemos a
responsabilidade de todo o pecador a se arrepender e crer em Cristo
Jesus (Atos 17:30) apesar da sua triste incapacidade.
Entendemos, diante da incapacidade de
Mefibosete e da soberania de Deus, que o rei Davi fez uma escolha sem
depender das condições do escolhido nem considerar o que este
pensava do assunto. Essa escolha do rei Davi foi pessoal e individual
(v. 5, "mandou o rei Davi, e o tomou da casa de Maquir, filho de
Amei, de Lo-Debar.") e particular e preferencial. A escolha do
rei foi dirigida somente para com Mefibosete (v. 5) e não para
qualquer outro aleijado na cidade. Essa escolha do rei para com
Mefibosete foi primeira e antes de mencionar qualquer desejo ou ação
de Mefibosete (v. 1-3). Assim também é a eleição. É pessoal e
individual (Jer. 31:3; Romanos 9:11-13; Gal. 1:15), particular e
preferencial e antes de qualquer desejo do homem para com Deus (João
1:13; Romanos 9:15,16, "Compadecer-me-ei de quem me compadecer,
e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois
isso não depende do que quer, nem de que corre, mas de Deus, que se
compadece.").
O preço
pago para a restauração de
Mefibosete foi totalmente pago pelo rei Davi (v. 3-5). Assim também,
a salvação é pago por Deus. A salvação das nossas almas requer a
obediência de um justo no nosso lugar e este Justo foi dado pelo Pai
(Isaías 9:6; 53:4-6). Cristo é este Justo no lugar dos injustos (I
Pedro 3:18; Romanos 5:8). O que foi pago pelo rei Davi para trazer
Mefibosete foi expendido não para trazer todos os aleijados à casa
real, mas somente aquele que foi incluso na sua aliança. São estes
também pelos quais Cristo morreu (Mat. 1:21; João 10:11,14-16;
Isaías 53:4-6,8), estes que são chamados, justificados e
glorificados (Romanos 8:28-30, "segundo o seu propósito").
A base
desta escolha foi o amor e
fidelidade de Davi à aliança que ele fizera com Jônatas (v. 1,7,
"por amor de Jônatas"). Essa aliança foi feita entre Davi
e Jônatas antes mesmo que Mefibosete foi nascido (I Sam
20:14-17,23,42). Esse acontecimento representa a fidelidade de Deus à
Sua aliança feita em amor com Cristo antes da fundação do mundo
(Hebreus 10:5-7; Efés. 1:3-6) para com todos o que o Pai tem dado ao
Filho (Jer. 31:3,31-33; João 6:37; 17:9).
O
efeito do preço pago é
entendido pois o preço pago pela restauração de Mefibosete
eficazmente cumpriu o desejo do rei Davi. É observado que ele
verdadeiramente "veio a Davi" (v. 6). Depois disto, foi
posto em lugares abençoados (v. 9-11). Todos pelos quais Cristo
morreu, virão a Ele (João 6:37, "Todo o que o Pai me dá virá
a Mim"; João 10:27, "As minhas ovelhas ouvem a minha voz,
e eu conheço-as, e elas me seguem;"; II Pedro 3:9, "não
querendo que alguns se percam, senão que todos venham a
arrepender-se.").
É edificante notar o fato quando
Mefibosete veio à presença do rei ele disse: "Eis aqui teu
servo" (v. 6). Assim, ele mostrou seu reconhecimento do senhorio
do rei sobre a sua vida. Assim entendemos que todos dos Seus que
venham a se arrepender, reconhecem a Sua senhoria sobre as suas vidas
(Romanos 8:15, "recebestes o Espírito de adoção de filhos,
pelo qual clamamos: Aba, Pai."; I Cor. 1:1, "santificados
em Cristo Jesus").
Os meios
da chamada de Mefibosete para a
restauração exemplifica os meios que Deus emprega para chamar os
Seus hoje. O Ziba, como servo do rei, representa todos esses meios. O
Ziba representa o Espírito Santo e os pregadores da Palavra de Deus.
O Ziba foi enviado a dar a mensagem do rei Davi ao Mefibosete. Nisso
entendemos que é o Espírito Santo que ilumina, desperta, convence e
regenera o pecador (João 16:7-13). O Espírito Santo faz essa obra
magnificente pela Palavra de Deus sendo ministrada por seus servos
(Romanos 1:16; 10:14,15). Essas duas representações dadas ao Ziba
mostram a realidade que existem tanto a chamada interna quanto a
chamada externa para trazer os pecadores à obediência e
santificação (Gal. 1:15, II Tess 2:14).
Na hora certa, a vontade do rei Davi, a
obra do servo Ziba e a responsabilidade de Mefibosete, fizeram que a
restauração desejada veio a ser efetuada. A escolha do rei Davi não
era a restauração, mas ‘para ela’. Assim também a eleição
não é a própria salvação, mas "para a salvação" (II
Tess 2:13). O envio de Ziba não era a restauração, mas um meio
eficaz à ela. A restauração foi manifesta quando Mefibosete veio
ao rei Davi em obediência. Isso mostra que a eleição ou a
predestinação não é a salvação nem unicamente a obra do
Espírito Santo pela Palavra de Deus pregada mas tudo juntos operando
pela fé, o dom de Deus para o pecador, efetuam um fim glorioso: a
salvação do pecador (João 14:6; II Tess 2:13,14).
Notamos que a restauração de Mefibosete
na casa do rei Davi não eliminou a sua invalidez física (v. 13). Na
mesma maneira a salvação também não elimina a natureza pecaminosa
da nossa carne antes que morramos (Romanos 7:21-24). Todavia, a
restauração de Mefibosete deu a ele uma vida completamente nova que
ele humildemente viveu na presença do rei Davi. Isso representa a
salvação nos dando uma nova natureza que faz tudo "novo"
(II Cor. 5:17; Col. 3:10,11), uma vida vivida em constante
arrependimento e fé (Col. 2:6; Hebreus 11:6), uma natureza nova que
nos traz mais e mais na imagem de Cristo que a criou (Col. 3:10).
Consideramos outra vez como a restauração
de trouxe Mefibosete representa tanto a realização da salvação
quanto os efeitos práticos da salvação:
1 - Mefibosete foi dada uma disposição
nova que causou ele a não mais querer fugir (II Sam 4:4) e motivou
ele a desejar ser submisso a palavra do rei. Essa disposição nova é
uma representação de regeneração.
Essa obra divina dá um novo coração aos que são buscados por
Deus, e faz que entendam as coisas espirituais (I Cor. 2:14,15). Ela
capacita os escolhidos a crer na Palavra do Senhor e vir em
obediência a Jesus Cristo (Tito 3:5, "Não pelas obras ... mas
segundo a Sua misericórdia ... nos salvou pela lavagem e renovação
do Espírito Santo"; II Tess 2:13; João 15:3,5, "Sem Mim
nada podeis fazer"; Efés. 2:8,9, "Porque pela graça sois
salvos ...").
2 - A operação do rei para com Mefibosete
trouxe uma conversão
nítida na vida de Mefibosete (v. 8,11). Essa mudança é uma
representação da conversão na vida do salvo. Essas mudanças
radicais manifestam-se inicialmente na hora da salvação no
arrependimento do pecado e a fé no Senhor Jesus Cristo (II Cor.
5:17). Depois da salvação são manifestas por uma vida que continua
não desejando voltar a vida velha (Col. 2:6; Romanos 7:24; Gal.
2:20).
3 - A restauração trouxe Mefibosete a ser
posto na casa do rei Davi (v. 11). Essa verdade representa a
justificação.
Na justificação o pecador é feito justo e é posto diante de Deus
com plena aceitação (Romanos 5:1; 8:1).
4 - A restauração trouxe Mefibosete a ser
posto como filho
amado do rei (v. 11, "comerá à minha mesa como
um dos filhos do rei").
Isso representa a verdade de adoção.
A salvação traz os justificados à relação amorosa e posição
privilegiada de filhos de Deus (Gal. 4:6. I João 3:1,2; Romanos
8:16,17).
5 - A restauração trouxe Mefibosete a
viver bem diferente daquela vida que ele antes vivia no Lo-Debar (no
lugar sem pastagem), para viver na cidade de Jerusalém (cidade de
paz). Isso representa a santificação.
A salvação santifica
os em Cristo tanto diante de Deus quanto diante dos homens (Prov.
4:18; I Cor. 1:1; II Cor. 6:14).
6 - A restauração trouxe Mefibosete à
uma eterna posição diante do rei (v. 13, "sempre"). Isso
representa a glorificação.
Todos os adotados viverão para sempre na presença do seu Deus e
Salvador (I Tess 4:17, "e assim estaremos sempre com o Senhor").
7 - A restauração fez que Mefibosete
"sempre comia
à mesa do rei" (v. 12). Nisso entendemos não somente a
provisão do rei em sustentar o Mefibosete (preservar ele) mas também
a responsabilidade de Mefibosete a estar à mesa do rei e a comer
(sua perseverança). Isso representa a preservação
divina para com os Seus salvos pois Deus sustenta e guarda os seus
(Judas 24, "Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de
tropeçar ..."). Também representa a perseverança dos salvos
para com o Salvador pois os salvos procuram ser apresentados ao
Salvador irrepreensíveis (I João 3:3, "E qualquer que nele tem
esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro.").
Assim temos um resumo da obra da salvação.
Espero que somos abençoados a entendermos como no "princípio
do livro está escrito" de Cristo (Hebreus 10:5-7). Pelo Velho
Testamento, essa passagem aparentemente obscura e somente histórica,
exemplifica aberta e gloriosamente as grandezas da salvação quando
vista pela lupa das doutrinas claramente ensinadas no Novo
Testamento. São as doutrinas explicadas no Novo Testamento que nos
revela como Cristo e a Sua obra da salvação é presente no Velho
Testamento. Que Deus abra os nossos olhos a regozijarmos na presença
de Cristo em cada página da Palavra de Deus.
Conclusão
Espero e oro que as verdades deste
maravilhoso assunto, com as bênçãos de Deus, tragam os pecadores
ao Salvador, confirmem os ânimos dos salvos e glorifiquem o Senhor
Deus Pai das luzes de Quem vem toda e boa dadiva e dom perfeito
(Tiago 1:17).
Se você se considera um "cão morto"
e está ouvindo a voz do Salvador, venha hoje mesmo a Ele para a
salvação da sua alma. Venha se arrependendo do pecado crendo pela
fé nas revelações divinas do Filho de Deus, Jesus Cristo.
Se você já foi posto na mesa do rei, vive
humildemente ao serviço dele crescentemente para a Sua glória.
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