a) O sonho de Nabucodonosor (2.1-16)
No
segundo ano (1). Alguns pensam que esta frase entra em conflito com o
período de treinamento de três anos, mencionado no capítulo primeiro. Mas a
frase "três anos" (1.5) necessita referir-se tão somente a certas
porções de anos (cfr., por exemplo, 2Rs 18.9-10; Jr 34.14; Mc 8.31), pelo que o
primeiro ano de treinamento poderia compreender parte do ano da subida de
Nabucodonosor ao trono, e o terceiro ano poderia compreender parte do segundo
ano de seu reinado (computação babilônica). O rei ficou tão perturbado com seu
sonho que passou-lhe o seu sono (1). Por isso convocou imediatamente
aqueles que acreditava serem capazes de dizer-lhe o significado de seu sonho.
Esses homens desejaram saber qual o sonho, para que pudessem interpretá-lo (4).
A palavra siríaco (4), isto é, "aramaico", parece designada
para chamar a atenção ao fato que desde esse ponto até o fim do capítulo 7 a
linguagem empregada é o aramaico. Pode ser, contudo, que a palavra sirva para
indicar a linguagem na qual os caldeus falaram com o rei. Alguns críticos têm
afirmado que tal declaração não poderia ser histórica; porém, à luz da
recentemente descoberta (1942) carta de Adon, em aramaico, tal objeção já não
tem valor (cfr. "More
Light on Daniel's First Verse" em Bible League Quarterly, n.º 203, 1950, págs. 6-8, de F. F.
Bruce).
No
que tange ao aramaico usado no livro de Daniel, pode ser dito que nada existe
nele que por si mesmo pudesse excluir ter sido empregado por Daniel. Se,
entretanto, o presente aramaico provasse ser posterior, não afetaria a autoria
de Daniel, mas meramente demonstraria que o aramaico original foi modernizado
por um escritor de data posterior. É difícil determinar por qual razão são
empregados dois idiomas no livro de Daniel; mas o próprio Daniel provavelmente
assim escreveu, empregando o aramaico, ou linguagem do mundo, para aquelas
seções de seu livro que versam principalmente sobre as histórias dos impérios
mundiais, e empregando o hebraico para aquelas seções que desenvolvem o futuro
do povo de Deus e de Seu reino.
O
motivo pelo qual o rei não queria relatar seu sonho não era que o havia
esquecido (versículo 5 deveria ser traduzido não o que foi me tem escapado,
mas "a coisa é certa para mim"), mas que ele queria testar os sábios.
Sereis despedaçados (5). A crueldade contida nessa ameaça era
generalizada na antigüidade, e caracterizava a maneira de tratar dos reis
babilônicos. Os caldeus declaram sua incapacidade de relatar e interpretar o
sonho, asseverando que tal conhecimento só pode ser encontrado entre os deuses cuja
morada não é com a carne (11). Mediante essa confissão os caldeus fazem
referência a Deus, pois mesmo no negro paganismo permanecia a persuasão que
Deus existe (cfr. Rm 1.21). O rei, entretanto ficou indignado e ordenou que os
sábios fossem executados (12-13). Daniel, sabiamente, interveio e solicitou um
prazo (14-16).
b) Oração de Daniel (2.17-23)
A
interpretação é chamada de segredo (18), visto que se trata daquilo que
não pode ser obtido pela razão humana isolada. Em resposta à revelação, Daniel
bendisse a Deus em oração. A Deus pertence a sabedoria -- Ele é onisciente e
todo-sábio -- e a força -- pois governa tudo (20). O curso da história
está nas mãos de Deus, que altera os tempos e as estações, e o destino dos
governantes também está sob Seu controle. Quando a verdadeira sabedoria é
encontrada entre os homens, essa é um dom de Deus, e o verdadeiro entendimento
também vem da parte dEle (21). Ele revela o profundo e o escondido (22),
a saber, as maravilhosas obras de Deus visando a salvação dos homens. Foi a
esse Deus soberano que Daniel expressou seus agradecimentos.
c) A interpretação do sonho (2.24-49)
Quando
Daniel reapareceu perante o rei procurou deixar claro que não viera dar a
interpretação do sonho mediante seu próprio poder, mas deu a glória a Deus
(28). O sonho foi de natureza escatológica, isto é, tinha a ver com o fim
dos dias ou, em outras palavras, com a era messiânica (cfr. At 2.16-17; 1Tm
4.1; Hb 1.1). Daniel relata o conteúdo do sonho descrevendo o colosso que o rei
tinha visto, cujas diversas porções eram feitas de diferentes metais. A cabeça
de ouro foi identificada como o próprio Nabucodonosor, e isso provavelmente
significa que devemos compreender o império babilônico representado por seu
grande rei. Outras partes da imagem, segundo Daniel, representam outros reinos.
Diferentes
interpretações a respeito dessa simbologia têm sido aventadas. A maioria dos
eruditos críticos que negam a autenticidade de Daniel acreditam que os quatro
impérios representados pelo colosso são: Babilônia, Média, Pérsia e Grécia. Tem
sido sustentado por alguns dos advogados dessa posição que, visto que a Média
não existia como império separado após a queda da Babilônia, que o livro de
Daniel está, portanto, laborando em erro. Há, entretanto, fortes razões para
que essa identificação seja rejeitada (ver The Prophecy of Daniel, págs.
275-294). Objeções a esse ponto de vista serão destacadas conforme for prosseguindo
a exposição. De tempos em tempos os eruditos conservadores têm identificado os
reinos como Babilônia, Medo-Pérsia, o Império de Alexandre, e os sucessores de
Alexandre. Mas, em sua maioria, a posição conservadora tradicional tem sido a
identificação desses reinos como Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma, tendo
consciência que o Império Romano foi dividido pelo Imperador Teodósio pelos seu
dois filhos Honório e Arcádio. Essa é a única posição que pode interpretar
corretamente o versículo 44, um versículo que declara distintamente que o reino
messiânico seria erigido nos dias dos reinos já mencionados. Os dois primeiros
pontos de vista assumem que o reino messiânico será erigido após os
quatro impérios humanos, e isso está definidamente contra o ensino do versículo
44.
O
ensino dispensacionalista interpreta os dez dedos da imagem como a representar
um tempo que o Império Romano será revivificado e dividido em dez reinos.
Deve-se notar, entretanto, que menção nenhuma é feita quanto ao número dos
artelhos.
A
pedra cortada, sem mão (34) representa o Messias e o crescimento do
reino messiânico, reino esse que é descrito como de duração eterna e de origem
divina (44), assim ficando contrastado com os impérios humanos e temporais do
colosso.
Deus
é Deus dos deuses... (47). A confissão do Nabucodonosor em realidade não se
eleva acima do nível do politeísmo. Ele reconhece a superioridade do Deus de
Daniel; contudo, não O adora como o único verdadeiro Deus.
Não
é necessário imaginar que o engrandecimento de Daniel (48) tenha envolvido
necessariamente o profeta nas superstições de Babilônia. Podemos estar certos
que um homem de devoção total a Deus, tal como ele foi, o conservaria livre de
tal conspiração.
Excelente monografia. Que Deus continue te abençoando.
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