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sexta-feira, 25 de maio de 2012

AS CARTAS ÀS SETE IGREJAS Ap 2.1-3.2



É da opinião de alguns que estas cartas foram escritas antes do corpo principal do livro e foram enviadas separadamente às diferentes igrejas; mais tarde foram ampliadas e compiladas a fim de todas as igrejas tirarem proveito. A teoria não é impossível, porém é duvidosa, pois as cartas estão intimamente relacionadas com o início e o fim do livro; e, se eliminarem as passagens em apreço, o que restar constituirá mensagens bem abrutas. Cada carta se endereça ao "anjo" da igreja e começa com uma descrição de Cristo, tirada da visão introdutória, tendo os pormenores que se mencionam especial relevância à igreja sob consideração. A designação de Cristo na carta aos Laodicenses constitui uma exceção, sendo uma reminiscência da saudação com que o Apocalipse começa. Semelhantemente, cada carta conclui com uma promessa no tocante a galardões a serem distribuídos no segundo advento; de modo geral, estas promessas têm uma especial aptidão para cada igreja individualmente-e é-lhes dada uma encarnação visionária nos capítulos finais do livro.

a) A carta à igreja em Éfeso (Ap 2.1-7)

Éfeso era a maior cidade da Ásia e o centro da administração romana daquela província. Tomou o título de "Guardiã do Templo", originalmente em referência ao famoso templo de Ártemis, posteriormente, porém estende-se aos dois ou três templos devotados ao culto dos imperadores. Paulo fundou aqui a igreja que se tornou o centro para a evangelização do resto da província e aqui residia o apóstolo João. A igreja em Éfeso, consequentemente, deve ter-se tornado a principal do leste, com a possível exceção de Antioquia. Kiddle sugere que esta carta foi colocada em primeiro lugar, não tanto pela importância da igreja, como pela advertência que lhe foi entregue. (Por semelhante razão, a carta aos Laodicenses foi colocada por último).

A designação de Cristo em vers. 1, tanto é um encorajamento como é uma advertência. As sete estrelas estão na sua mão (isto é, Ele mantém a vida espiritual delas), e a sua presença é coextensiva a todas as igrejas. Mas o poder que sustêm é também competente para a remoção judicial; assim o título prepara o ouvinte para o vers. 5. Eu sei (2) declara uma verdade de semelhante importância dupla. A frase encabeça cada uma das sete cartas, ora proporcionando conforto (#Ap 2.9; #Ap 2.13, etc.), ora envergonhando (#Ap 3.1-15). Aqui ela precede uma recomendação. As obras dos efésios são trabalho e paciência (2); aquela se manifesta nos esforços para vencer os falsos mestres (2), esta na resignação paciente frente à oposição, quer dos falsos apóstolos, quer de outras fontes (3). Os maus são aqueles que se chamam profetas e não o são. Comparar predições de Paulo em #At 20.29-30; #1Tm 4.1-3. É possível que os principais ofensores sejam os nicolaítas mencionados no vers. 6.

A falta dos efésios é talvez a perversão de sua principal virtude; sua oposição aos falsos irmãos os conduzia a repreensão e dissensão dentro da igreja, levando-as assim a deixar o seu primeiro amor. Isto interpretaria o "amor" a que se faz referência como sendo o amor fraternal. Pode, contudo, se referir ao amor a Deus; compare #Tg 2.2-5, visto que uma manifestação deste amor é impossível sem a outra, podemos talvez incluir ambas em nosso texto (cfr. #Mc 12.30-31 com #1Jo 4.20). Brevemente a ti virei (5) significa que o Senhor "virá" numa visitação de juízo. Ver também #Ap 2.16. Um exemplo da sua "vinda" em bênção se acha em #Ap 3.20. Tais afirmações de maneira nenhuma entram em choque com a verdade de sua vinda final, fato este que os teólogos não têm sempre reconhecido quando falam da "vinda" de Cristo ao crente e dos seus "adventos" na história, como se o reconhecimento desses aparecimentos secundários de algum modo-invalidassem a verdade do aparecimento supremo.

Os nicolaítas eram julgados logo cedo como adeptos de Nicolau de Antioquia, um dos sete (#At 6.5). Deduzimos de #Ap 2.14-15 que eles mantinham o mesmo erro que os balaamitas, a saber: ensinar a comer coisas sacrificadas aos ídolos e a adulterar. Foram estas as principais matérias condenadas por decreto do concílio apostólico (#At 15.29). É notável que os nomes de Balaão e Nicolau são cognatos (Balaão-"Ele tem consumido o povo"; Nicolau-"Ele vence o povo"). Se este ensino foi tão energicamente repelido pelos efésios (vers. 2), concluímos que se espalhava muito. A injunção: Quem tem ouvidos... (7) repete-se em conexão com as promessas ao vencedor em todas as sete cartas. Está freqüentemente nos lábios do nosso Senhor através dos quatro Evangelhos (#Mt 13.9-43, etc.).

O Espírito é o Espírito Santo, se bem que o orador seja Cristo. Para semelhante fenômeno comparar #Rm 8.9-11 e #2Co 3.17. "Vencedor" retrata o cristão como fiel batalhador de Cristo, "membro da igreja militante, vitorioso, não obstante as circunstâncias" (Swete). Parece haver pouca justificativa em limitar o termo, como quereriam alguns, somente aos mártires, ainda que seja verdade que o vencedor só pode demonstrar sua vitória absoluta sendo fiel até a morte.

Comer da árvore da vida (7) é participar da plenitude da vida eterna; a árvore se encontra "no meio do paraíso de Deus", a Jerusalém celestial, que deverá manifestar-se na terra para o homem redimido (ver #Ap 21.10-22.2). As bênçãos da primeira criação, perdidas pelo homem, serão restauradas em escala ainda maior na "regeneração" (#Mt 19.28).

>Ap-2.8

b) A carta à igreja em Esmirna (Ap 2.8-11)

Esta cidade era uma das mais prósperas na Ásia Menor e tomou o nome de "Metrópole". Ali os judeus constituam uma colônia excepcionalmente numerosa e próspera; seu antagonismo à igreja cristã, aparece, não somente nesta carta, mas também na de Inácio aos esmirnenses. O título dado a Cristo (8) reaparece em #Ap 1.17. Esta igreja, prestes a ser severamente provada, necessitava relembrar que o seu Salvador era o Senhor da história e conquistador da morte (cfr. vers. 10).

Contrastar a condição dos cristãos em Esmirna com a riqueza material e a pobreza espiritual dos laodicenses (#Ap 3.17). A blasfêmia dos judeus (9) seria dirigida principalmente contra Jesus, mas eram capazes de blasfemar mesmo contra o Deus que eles confessavam. Os cristãos de Esmirna mais tarde relataram como os judeus se aliaram aos pagãos em reivindicarem a morte de Policarpo, Bispo de Esmirna, na base de sua oposição à religião estatal. Desse modo, em vez de constituírem uma assembléia de Deus, eles haviam-se tornado a sinagoga de Satanás (9; ver também #Ap 3.9). Uma vez que se nega que os judeus tivessem o direito de manter o seu nome nacional, torna-se evidente que os cristãos se consideram os legítimos herdeiros de Abraão, como em #Rm 2.28.

>Ap-2.10

As coisas que esses crentes brevemente têm de sofrer podem ter relação com a oposição dos judeus. Tal aflição terá a duração de dez dias (10), isto é; um período abreviado. Às vezes acredita-se ser idêntico à "grande tribulação" de #Ap 7.14, mas parece mais provável ser alusão a uma perseguição local. O diabo ("caluniador") será então o agente utilizado para provar os cristãos; tal provação por meio de perseguição se distingue da que se menciona em #Ap 3.10, onde lemos da hora da tentação que deverá vir sobre o mundo inteiro, pois desta última os cristãos serão preservados (cfr. #Ap 7.2-12.6). A coroa da vida (10) alude-se à grinalda conferida ao vencedor nos jogos, "a coroa que consiste de vida". Swete lembra que a coroa não é diadema, mas o emblema de festividade, nesse caso a grinalda é um apto símbolo de vida, pois esta última tem que ser compreendida à luz das descrições finais do livro, uma vida de sagrado privilégio, gozo e de galardões destinguidos (#1Co 9.25-27). A segunda morte (11). Em #Ap 21.8 define-se como "o lago que arde com fogo e enxofre". É uma frase rabínica; comparar o muito citado Targum de Jerusalém sobre #Dt 33.6, "Que viva Rúben nesta época e não morra a segunda morte de que morrem os injustos no mundo vindouro". Charles aptamente compara I Enoque 99.11, "Ai de vós que propagas o mal para o vosso próximo, pois perecereis em seol", conceito este que não implicava em aniquilamento, como torna claro I Enoque 109.3.

>Ap-2.12

c) A carta à igreja em Pérgamo (Ap 2.12-17)

Pérgamo era descrita por Aretas como "dada à idolatria mais do que toda a Ásia". Atrás da cidade situava-se uma colina, mais de 300 metros de altitude, coberta de templos pagãos. Entre eles o mais destacado de todos era o grande altar de Zeus, colocado sobre uma plataforma, esculpido na rocha, dominando a cidade. O culto ao imperador foi estabelecido ali primeiro que em Éfeso ou Esmirna, de sorte que posteriormente, Pérgamo se tornou o reconhecido centro do culto na Ásia. Daí dizia-se desta igreja, que habitava onde está o trono de Satanás (13). Este fator explicava a causa das dificuldades peculiares dos cristãos de Pérgamo.

O título no vers. 12 tem eco em #Ap 1.16 e antecipa #Ap 2.16. A minha fé (13) abrevia "fé em mim". A informação dada sobre o ensino de Balaão é tirada dos dois trechos, #Nm 25.1-2 e #Nm 31.16. O cristão que correspondia a Balaão provavelmente desprezava a carne, e deste modo descontava a importância da pureza física, justificando suas ações talvez, pela perversão do ensino de Paulo (repudiado por este em #Rm 3.8 e #Rm 6.1). "Permaneçamos no pecado, para que abunde a graça". O sentido de vers. 15 é ou, "Vós também tendes entre vós os nicolaítas, que vos ensinam assim como Balaão ensinava a Israel", ou "Vós também, como os efésios (6), tendes convosco os nicolaítas", sendo implícita a comparação com Balaão. Parece preferível aquele sentido. O vers. 16 apresenta a "vinda preliminar" de Cristo para o juízo se os pergamenses não se arrependerem. Ver 2.5 n. A promessa ao vencedor (17) alude à corrente expectação judaica de que desceria novamente do céu o maná quando se manifestasse o Messias. Ver II Baruque 29.8. Aqui o maná tipifica a vida espiritual, assim como "água da vida" e "fruto da árvore da vida" (#Ap 22.17-19). A promessa é especialmente apta para os que eram tentados a participar de festividades em que se comiam alimentos sacrificados aos ídolos. Abstendo-se dessas iguarias, os cristãos podiam antecipar um banquete mais farto no reino de Deus.

>Ap-2.17

A pedra branca (17) é de difícil interpretação devido aos diversos fins para os quais seixos foram empregados pelo mundo da antigüidade, cada um dos quais dava um excelente sentido simbólico. Assim uma pedra branca entregue por um júri significava ao réu sua absolvição, uma preta, culpabilidade. O seixo do vencedor outorgava-lhe ingresso a todas as festividades públicas. O tessern hospitalis estava em duas partes, inscritas com dois nomes cujos donos trocaram partes de maneira que cada pessoa tinha um convite aberto para a casa da outra. O Sumo Sacerdote levava doze pedras no seu peitoril inscritas com os nomes das doze tribos de Israel. Isto de modo nenhum exaure todas as possíveis interpretações. A nossa interpretação será em parte condicionada na nossa compreensão do novo nome escrito na pedra. Se o nome é de Cristo ou de Deus (cfr. #Ap 3.12 e #Ap 19.12), então pode haver uma alusão ao conceito do poder inerente ao nome de Deus; o cristão participa do poder de Deus e apropria para si de um modo que nenhum outro o pode fazer. Se o nome é um novo nome conferido ao crente, então a alusão é ao hábito de conferir novos nomes às pessoas que atingiram um novo estado, como Abrão e Jacó se tornaram Abraão e Israel; a pedra branca então significa o direito do vencedor de entrar no reino de Deus em um caráter todo próprio, moldado nele pela graça de Deus.

>Ap-2.18

d) A carta à igreja em Tiatira (Ap 2.18-29)

Tiatira era a menor das sete cidades. Não tinha nenhum templo devotado ao culto dos imperadores, de sorte que os cristãos não eram tão perturbados por aquele culto como as igrejas precedentes. O problema desta igreja centralizava-se nas situações comprometedoras criadas pelos interesses comerciais. Tiatira era uma cidade industrial, célebre pelos seus muitos grêmios comerciais. Era tão necessário unir-se a essas sociedades como é para o artesão hodierno, ser membro do seu determinado sindicato comercial; de outra forma, envolvia um ostracismo que tornaria quase impossível seu negócio. A dificuldade no caminho do cristão que se unia a tais grêmios era a necessidade de participar das periódicas refeições comuns quando se comia carne que fora dedicada à deidade pagã (talvez o padroeiro do seu grêmio). Pode-se entender que certos cristãos liberais não hesitariam em participar de tais festividades, alegando que "um ídolo não é nada" (#1Co 8.4). Logo, a desculpa podia achar-se pela licenciosidade em que muitas vezes estas refeições culminavam; e o próximo passo seria participar da devassidão geral. Isto era geralmente aconselhado pelos nicolaítas, e pode-se entender como isto encontrava fácil aceitação em Tiatira, onde a frase "negócio é negócio" seria bem aceita. O título provém de #Ap 1.14-15, Filho de Deus (18) sendo talvez sugerido por #Sl 2.7, uma vez que este salmo posteriormente é muito citado. Note-se que os olhos como chama de fogo antecipam o vers. 23, e os pés reluzentes, o vers. 27. Charles alega que as tuas obras (19) são definidas pelas qualidades que se seguem, "o teu amor, o teu serviço, a tua fé e a tua paciência" se esta interpretação é correta, é importante no esclarecimento do que o escritor quer significar com a expressão "julgado segundo as obras" (#Ap 20.12-14). A profetiza que propaga o ensino dos nicolaítas é simbolicamente chamada Jezabel, pois a rainha daquele nome tentou estabelecer um culto idólatra em lugar do culto a Jeová e ela mesma foi acusada de prostituição e feitiçaria (#2Rs 9.22). Note-se a inserção curiosa em alguns manuscritos de "tua mulher Jezabel" que implica ser o "anjo" da igreja, o seu administrador. No vers. 21 deduzimos que "Jezabel" anteriormente tinha sido advertida, sem resultado, ou por João ou por algum outro líder cristão. A "cama" em que Jezabel seria prostrada corresponde à grande tribulação (22), de sorte que é uma cama de sofrimento que está em mente aqui. O idiotismo é hebraico e ocorre em 1Mac 1.5 e Judite 8.3. É possível que aqueles que com ela adulteram (22) devem ser distintos dos seus filhos (23), no sentido que aqueles foram suficientemente influenciados por Jezabel, a ponto de comprometerem a sua lealdade cristã, enquanto estes abraçaram inteiramente a sua doutrina; aqueles deveriam ser castigados, estes exterminados. Por tais juízos as igrejas reconhecerão que Cristo sonda os rins e os corações (23). No uso hebraico, os rins são a sede das emoções, enquanto o coração é a sede do intelecto. As profundezas de Satanás (24) podem ser uma alusão satírica à pretensão gnóstica de conhecer exclusivamente as profundezas de Deus. Tal sabedoria não é divina, mas satanicamente inspirada. De outra forma, reflete o ensino nicolaíta que o cristão deve participar afoitamente dos excessos do paganismo e demonstrar que é imunizado de sua poluição. Os cristãos que assim procederam gabaram-se do seu conhecimento das profundezas de Satanás e, assim, desdenharam os seus irmãos mais escrupulosos. Para outra carga comparar #At 15.28-29; os dois preceitos principais do concílio apostólico foram abstenção de coisas sacrificadas aos ídolos e ao adultério. O vencedor aqui se define como o que guardar até ao fim as minhas obras (26). Ele deverá receber uma delegação da autoridade de Cristo sobre as nações (26) e participar do seu triunfo sobre os povos rebeldes (27); esta função faz parte daquela autoridade e antecipa a vinda de Cristo para o juízo (#Ap 19.11) e não o reino milenário, propriamente dito (#Ap 20.4-6). O verbo traduzido "regerá" no vers. 27 deve ser "destruirá". A estrela da manhã (28) parece ser o próprio Cristo (como em #Ap 22.16); maior do que o privilégio de reinar por Cristo será o irrestrito gozo de plena comunhão com Ele.

Ap-3.1

e) A carta à igreja de Sardes (Ap 3.1-6)

Sardes era uma cidade de glória delustrada. Outrora tinha sido a capital do antigo reino da Lídia, mas entrou em ocaso, depois da conquista persa, até que Tibério a reconstruiu depois de um terremoto. A cidade era célebre por duas coisas: a sua indústria de tintura e lã, e a libertinagem. A igreja em Sardes parece refletir a história da cidade. Houve tempos quando tinha um nome para progresso espiritual, mas agora era sem vida (1); a libertinagem caracterizava tanto os cristãos como os pagãos, de sorte que ali havia poucas pessoas que não tinham contaminado os seus vestidos (4), isto é, manchado a sua profissão cristã. Consequentemente, ela foi censurada com uma severidade igualada somente na carta aos laodicenses. O título reflete #Ap 1.4 e #Ap 1.16. Cristo se apresenta como o possuidor dos sete espíritos, possivelmente para representar o Seu perfeito conhecimento dos feitos da igreja (veja vers. 6), se bem que isto possa sugerir os dons espirituais que ele deseja conferir-lhe em contraste ao estado desanimado da igreja. Para as sete estrelas (1) ver #Ap 1.4; #Ap 1.20. Note-se que embora alguns cristãos permaneçam fiéis ao seu Senhor (4), a igreja como tal é caracterizada como morta; por estarem nesta condição todos são tidos como responsáveis. Com a primeira parte do vers. 2, comparar #Mt 24.42; com a segunda parte, comparar #Dn 5.27. Os tempos dos verbos no vers. 3 são descomunalmente variados: "Lembra-te (presente), pois, do que tens recebido (perfeito) e ouvido (aoristo); e guarda-o (presente), e arrepende-te (aoristo). E, se não vigiares (3) relembra #Mt 24.43-44 e se refere ao Advento final. Alguns estudiosos consideram que #Ap 16.15 tem sido deslocado e deve ser inserido logo antes desta afirmação. É fato que a situação de #Ap 16.15 no contexto atual é curiosa e fica melhor aqui, mas a deslocação do texto não passa de ser pura conjetura. O seu nome (5). Segundo certo uso da época o nome era sinônimo de "pessoa". É de supor que os cristãos contaminavam os seus vestidos acomodando-se aos costumes pagãos dos seus próximos. Aquele que mantinha o seu caráter e testemunho imaculados haveria de acompanhar a Cristo num vestuário de glória. Andarão comigo (5); Swete compara o convívio dos doze com Ele, nos dias do seu ministério terrestre. O vencedor recebe a dupla promessa deste privilégio. A literatura apocalíptica, contemporânea considerava o corpo da ressurreição como um vestuário de glória. A idéia é usada por Paulo (ver #2Co 5.4), e se revela neste livro também (ver #Ap 4.4). Porém #Ap 7.13-14 e #Ap 19.8 parecem salientar a pureza moral no uso deste símbolo, enquanto que, segundo Swete, o uso de branco às vezes denota festividade (#Ec 9.8) e vitória (2Mac 11.8). Parece que várias idéias se associam com este quadro; é bom aceitar e ao mesmo tempo reconhecer que o elemento ético predomina.

O riscar do livro da vida (5) recorda #Êx 32.32, onde o livro mencionado é um registro dos cidadãos do reino teocrático, aqui trata-se do registro de reino eterno, como em #Dn 12.1 e muitas passagens neotestamentárias (ver por exemplo, #Lc 10.20; #Fp 4.3; #Hb 12.23). Ver #Ap 20.12,15, onde isto se explica. Para a confissão do vencedor, comparar #Mt 10.32.

>Ap-3.7

f) A carta à igreja em Filadélfia (Ap 3.7-13)

Devido a freqüentes terremotos, a população de Filadélfia era pequena. A igreja parece ter sido numericamente fraca (vers. 8, "tendo pouca força"). Não há nenhuma alusão à perseguição das autoridades pagãs nem a heresias dentro da igreja; como em Esmirna, os judeus criavam um problema (9). Em contraste notável à carta que precede e à que se lhe segue, não há repreensão nem advertência do Senhor para esta igreja, mas apenas encômio e exortação. Os predicados santo e verdadeiro (7), aplicados aqui a Cristo, são usados em #Ap 6.10 em referência a Deus, assim dando uma das muitas indicações neste livro de que os atributos de Deus são compartilhados por Cristo. Jesus é verdadeiro no sentido de "fiel a sua palavra". Isto se diz em conexão com a sua posse da chave de Davi (7), uma frase que recorda #Ap 1.18, mas que, na realidade, cita #Is 22.22; reivindica para Cristo o direito de ingressar ou fechar ao homem a cidade de Davi, a nova Jerusalém, o reino messiânico. A relevância deste poder se manifesta no trecho entre parênteses, vers. 8-9.

>Ap-3.9

Os judeus de Filadélfia não eram mais dignos do nome do que os seus compatriotas em Esmirna e, como estes, são designados a sinagoga de Satanás (9). Este versículo declara que um dia, presumivelmente ao estabelecer-se o reino messiânico, eles serão obrigados a reconhecer que estes cristãos desprezados são na realidade os companheiros do Filho do Homem, os herdeiros do reino de Deus. É claro que os judeus ainda negavam esta última reivindicação. "Vós cristãos", diziam eles, "sois excluídos do reino; é para nós, os judeus". "Assim não", declara o Senhor; "Eu sou fiel à minha promessa. Só eu tenho a chave do reino. Tenho posto diante do meu povo, uma porta aberta que ninguém pode fechar. Eles entrarão no reino, e a homenagem que vós, judeus, esperais receber dos gentios (#Is 60.14), vós tereis que prestar a eles". Esta interpretação coaduna afirmações aparentemente sem nexo e concorda com a promessa do vers. 12. A fidelidade desta fraca comunidade cristã (8) receberá a sua devida compensação. A hora da tentação ("provação"), de que o Senhor guardará estes cristãos, não se refere ao prazo em que os juízos de Deus cairão sobre a terra, mas às próprias tribulações. Cfr. #Mc 14.35, onde a "hora" representa os horrores da cruz e as circunstâncias concomitantes. A tribulação mencionada aqui se aplica àqueles que habitam na terra (10), a frase técnica neste livro para os descrentes do mundo (cfr. #Ap 11.10). Para uma representação pictórica desta promessa ver #Ap 7.1-4.

>Ap-3.12

O vencedor será na nova era uma coluna no templo (12); #Ap 21.22 torna claro que não haverá outro templo na Jerusalém celeste senão Deus e o cordeiro. Esta promessa assegura nossa indissolúvel união com Deus para todo sempre. Escreverei sobre ele o nome do meu Deus (12). Caso esta frase se usar com a mesma metáfora a inscrição seria na coluna e não na testa do vencedor.

I Macabeus 19.26-48, relata como os feitos de Simão Macabeus foram inscritos sobre tábuas de bronze; estas foram fixadas "sobre colunas no monte de Sião", "dentro do recinto do santuário, num lugar conspícuo". Destarte foram conservados permanentemente os anais das façanhas de Simão. O motivo de orgulho do vencedor, contudo, não deverá ser nos seus feitos, mas antes no fato de que ele leva o nome do seu Deus, e da cidade de Deus, e o novo nome de Cristo; isto é; ele pertence a Deus e a Cristo revelado em glória (#Ap 19.12); é cidadão da nova Jerusalém, o eterno reino de Deus (#Ap 21.2).

>Ap-3.14

g) A carta à igreja em Laodicéia (Ap 3.14-22)

Laodicéia era situada à margem dum rio e ficava no entroncamento de três estradas que atravessavam a Ásia Menor. De modo natural, ela se tornou um grande centro comercial e administrativo. Três fatos que se conhecem acerca da cidade, lançam luz sobre esta carta: era um centro bancário de fabulosas reservas financeiras; as indústrias principais eram de tecidos e tapetes de lã; possuía também uma faculdade de medicina. A igreja não era acusada de imoralidade, nem de idolatria, nem tão pouco de franca apostasia (perseguição era desconhecida em Laodicéia). A terrível condenação que se pronunciava sobre ela era devido ao orgulho e auto-satisfação do elemento pagão dentro da igreja de sorte que sua comunhão com Cristo se enfraqueceu tragicamente. A severa descrição da sua condição espiritual (17) e a admoestação ao arrependimento (18), são apresentados em termos das três ocupações da cidade.

Na qualidade de o Amém (14) Jesus é a encarnação da verdade e fidelidade de Deus (ver #Is 65.16); o uso cristão do Amém acrescenta a idéia de que Ele é também cumpridor fiel dos propósitos declarados de Deus. Nesta designação achamos um contraste singular com a infidelidade dos laodicenses. Semelhantemente o título o princípio da criação de Deus (14) exalta a Cristo como Criador acima das pequeninas criaturas orgulhosas que se gabam da sua auto-suficiência. No vers. 16, se encontra uma censura sem igual no Novo Testamento, como expressão do aborrecimento de Cristo. A referência prende-se ao último juízo (cfr. #Lc 13.25-28). Os vers. 17 e 18 formulam uma só afirmação: Pois dizes: ... Aconselho-te que compres... A pretensão dos laodicenses não é apenas que eles de nada carecem, mas que a sua riqueza, tanto moral como material se deve completamente aos seus próprios esforços. Revela-se a sua verdadeira condição de pobreza, apesar de possuir dinheiro; de nudez, a despeito da sua abundância de vestidos; de cegueira, embora haja nela muitos médicos. Esta igreja, portanto é a única de todas as sete, a ser chamada de miserável. O seu recurso é "comprar" (cfr. #Is 55.1) de Cristo o ouro fino de um espírito regenerado, de pureza de coração, que possa levá-la à glória da ressurreição (#Ap 7.13-14) e da graça pela qual possa apropriar as realidades espirituais (cfr. #1Co 3 e #2Co 4). A condição repugnante dos laodicenses não extinguiu o amor de Cristo para com eles; a escorchante censura não é senão a expressão do seu profundo afeto que os possa levar ao arrependimento. O gracioso convite que se segue dirige-se, não à igreja coletivamente (que exigiria "se ouvirdes" a minha voz, mas a cada membro individualmente. Cristo deseja participar com eles mesmo nas atividades mais comuns da vida. Coincidente com o alto privilégio que se oferece a estes cristãos quase apóstatas é a promessa que transcende às que foram aplicadas às outras igrejas. Assim como o crente pede a Cristo que compartilhe consigo tudo quanto tem vida transitória, de igual modo, o Senhor o convida, se ele permanecer até o fim, a compartilhar o trono dos séculos vindouros dado pelo Pai. O cumprimento da promessa do reino milenar é descrito em #Ap 20.4-6, e do reino eterno da nova Jerusalém em #Ap 22.5.

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