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terça-feira, 14 de março de 2023

A Mulher e o Dragão (Apocalipse 12)

 


12:1 Em Apocalipse, um sinal é uma pessoa ou um acontecimento que parece ter um significado maior do que ele mesmo. No Evangelho de João, cada sinal aponta para a divindade de Cristo (Jo 2.11). Em Apocalipse, além dos grandes sinais adicionais no céu (Ap 12:3; 15.1), existem sinais demoníacos na terra (Ap 13.13, 14; 16.14; 19.20). A mulher vestida do sol é interpretada por alguns estudiosos como a Igreja, por outros como os judeus cristãos e, por outros como israelitas, os descendentes humano de Abraão, Isaque e Jacó. A coroa de doze estrelas é uma referência às doze tribos de Israel, ou talvez aos doze apóstolos (Ap 21.12-14). As estrelas lembram a visão de José (Gn 37.9-11), que significava a supremacia deste sobre seus irmãos.


12:2 A descrição de dores de parto antes de dar à luz a Criança que se torna o regente das nações (v.5) pode referir-se especificamente a Maria, mãe de Jesus (Mq 5.3; Lc 2.5-7). Detalhes posteriores (Ap 12:6, 13-17), no entanto, sugerem que a mulher provavelmente tem uma referência mais ampla. Como uma representação semelhante é usada em relação a Israel em Miquéias 4.9-10, pode ser uma representação da nação judaica ou do remanescente fiel dentro da nação. Além disso, a primeira profecia da Bíblia, Gênesis 3.15, serve como um lembrete da batalha entre a Semente da mulher e Satanás.


12:3 O sinal do grande dragão vermelho é interpretado no versículo 9 como Satanás, que inicialmente aparece nas Escrituras como uma serpente no jardim do Éden (Gn 3). A imagem está de acordo com o Antigo Testamento e com o uso extrabíblico (Is 27.1). O dragão com sete cabeças e dez chifres se refere a Satanás e ao império sobre o qual ele governa durante o curso de tempo.


Sete cabeças, dez chifres e sete diademas referem-se ao esplendor, ao poder e à glória de Satanás (v.9) como deus deste século (2 Co 4.4). Essa descrição é quase idêntica à da besta que subiu do mar em Apocalipse 13.1.


12:4 A referência à terça parte das estrelas do céu pode ligar esse acontecimento ao juízo das trombetas no qual a terça parte é a proporção característica de destruição (Ap 8.7), incluindo a terça parte das estrelas (v.12). No entanto, também é entendida como uma referência à rebelião da terça parte dos anjos que seguiram Satanás. A tentativa do dragão de tragar o Cristo recém nascido revela que a estratégia de Herodes para matar Jesus, quando este era um bebê (Mt 2.3-16) foi satanicamente inspirada.


12:5 O varão que há de reger [...] com vara de ferro é uma figura messiânica do Salmo 2.8, 9; no entanto, a essa altura, não existe nenhum regente terreno acima de todas as nações. Da perspectiva desse cenário celestial, o Filho Regente é logo arrebatado para o trono de Deus, aparentemente, referindo-se à ascensão de Cristo (At 1.9).


12:6 O deserto aqui é um lugar de proteção preparado por Deus (Os 2.14) para a mulher. A referência ao Senhor alimentando a mulher no deserto lembra a provisão milagrosa dele para Israel no deserto do Sinai (Êx 16). Mil duzentos e sessenta dias é o período de provisão e proteção para a mulher no deserto. A maneira detalhada na qual esse mesmo período de tempo é expresso (um tempo, e tempos, e metade de um tempo, no v. 14) sugere metade de um período literal de sete anos de tribulação (Dn 9.27).


12:7, 8 Miguel é um arcanjo (Jd 9). De acordo com Daniel 12:1, ele é um anjo guardião especial da nação de Israel. Aparentemente, comanda um exército de anjos. Miguel e os exércitos celestiais são vitoriosos, deixando Satanás e seus demônios fora dos limites do céu.


12:9 A expulsão do diabo para a terra significa que esse mundo se tornou a sua base de operações e que a sua ira é descarregada em direção aos habitantes da terra (v. 12). Desse modo, é provável que o fim dos tempos seja o período de guerra espiritual mais acirrada da história (Ef 6.10-18).


12:10, 11 A derrota final de Satanás (v.7-9) é acompanhada da referência a outras derrocadas dele pela crucificação de Cristo (o sangue do Cordeiro), pela a palavra do seu testemunho e pelo testemunho fiel de alguns dos irmãos que mesmo sendo martirizados não negaram a verdade. Todos esses acontecimentos precedem a vinda do reino do nosso Deus.


12:12 Aqueles que estão nos céus têm um bom motivo para se alegrarem por causa da expulsão permanente do diabo. Por outro lado, a terra e o mar (criação natural), agora, têm um ai adicional (Ap 8.13; 9.12; 11.14) para enfrentar, a grande ira do diabo, que sabe que pouco tempo lhe resta. Logo, Satanás será amarrado no abismo por mil anos (Ap 20.1-3).


12:13-16 Muitas das representações nesses versículos parecem um paralelo com o período que antecedeu o êxodo, quando Israel foi perseguido por Faraó e seu exército (Êx 14). A referência posterior ao cântico de Moisés (Êx 15), em Apocalipse 15.3, oferece apoio a essa interpretação.


12:13 O derrotado dragão, precipitado na terra (Ap 12:9), persegue agora o povo que pertence ao Messias representado pela mulher que deu à luz o filho varão regente (Ap 12:1, 2, 4, 5). É provável que seja o povo judeu, ou, se esse grupo for o citado em Apocalipse 12:10, 11 refere-se aos cristãos.


12:14 A mulher (v.1-6) é, de alguma forma, levada para o seu lugar de proteção contra a serpente, o deserto, como se fosse carregada pelas asas de uma grande águia. Isso faz lembrar como Israel escapou dos egípcios e chegou ao monte Sinai (Êx 19.4; Dt 32.11, 12). Um tempo provavelmente equivale a um ano; então, o período de proteção aqui é de três anos e meio, que corresponde ao período do testemunho das duas testemunhas em Apocalipse 11.3. É equivalente também ao período da autoridade da besta, quarenta e dois meses (Ap 13.5), que inclui a sua habilidade para fazer guerra aos santos e vencê-los (Ap 13.7; Dn 7.25; 12:7).


12:15, 16 O perigo da água como um rio para a mulher é afastado quando a terra se abre, talvez da mesma forma que se abriu para o rebelde Corá e seus seguidores em Números 16.30-33. Não há um modo de determinar se esse é o relato de uma enchente real ou a descrição figurativa de um ataque de Satanás contra os protegidos por Deus.


12:17 Irado por sua incapacidade para destruir a mulher, Satanás, o dragão, apela para fazer guerra contra um grupo próximo. O resto da semente dela são os crentes em Cristo, já que são eles que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo. Não está claro se são cristãos judeus (filhos naturais da mulher) ou cristãos gentios (filhos espirituais; Gl 3.29). Em desespero, o diabo opõe-se a todo e qualquer traço de fé orientada em Jesus.


terça-feira, 7 de março de 2023

Ezequiel 14

 



1 - 7 Convite ao Arrependimento 


14.1-3 Deus revelou a Ezequiel que o grupo de anciãos de Israel era composto de pessoas de coração dividido (1 Rs 18.21; Mt 6.24; Tg 1.5-8). Aparentemente, eles buscavam a mensagem divina por intermédio do profeta Ezequiel, mas, em seu íntimo, desejava adorar outros deuses. Devo eu ser interrogado por eles? Deus conhece a mente e o coração de todos (Sl 139.1-6), e faz uma pergunta retórica a Ezequiel, questionando se Ele deveria oferecer direcionamento por meio de revelações a tais religiosos hipócritas (v. 4,5).


14.1 Em pelo menos um aspecto, o exílio na Babilônia tornou-se uma bênção o povo judeu por estimular um novo tipo de judaísmo, o transcultural, mais versátil e mais receptivo, diferente do que o que vinha sendo professado em Judá. Um dos principais fatores para esse desenvolvimento foi a criação das sinagogas [centros de estudo do judaísmo, muito parecido com nossas igrejas hoje]. Em Judá, os israelitas viam o templo de Jerusalém como o centro de sua vida cultural e religiosa. Entretanto, com a destruição daquele edifício em 587 a.C., foi necessário estipular um novo local para os mestres da Torá ensinarem as Escrituras ao povo, preservando assim a identidade cultural e religiosa judaica. Como a ideia de construir um templo na Babilônia não era viável, os cativos começaram a reunir-se em assembleias locais para adorar, estudar as Escrituras e debater questões políticas. Provavelmente, foram os líderes de um ou mais desses grupos que se reuniram com Ezequiel. Em pouco tempo, esses grupos, conhecidos como sinagogas, o termo grego para reunião ou assembleia, assumiram a responsabilidade formal ao receberem autoridade das comunidades judaicas no exílio.


14.2-4 Responderei conforme a multidão dos seus ídolos. Deus responde aos hipócritas permitindo que eles experimentem as consequências da descrença e da desobediência deles. A idolatria consistia não apenas num erro teológico de adorar outros deuses, mas trazia também a imoralidade, o resultado natural de as pessoas se afastarem do Deus vivo. O Senhor nunca causa o mal (Sl 5.4), mas permite o sofrimento que o mal traz ao mundo (Jó 1; Rm 6.23). Por esse processo, aqueles que não se arrependem são punidos, os pecadores são estimulados a arrependerem-se (v. 5), e os justos são purificados (Tg 1.2-4).


14.5 Apanhar a casa de Israel no seu coração. Essas palavras declaram o propósito de Deus de restaurar o povo (Pv 3.12; Ap 3.19), ao permitir que o pecado produzisse suas funestas consequências.


14.6, 7 Qualquer tipo de idolatria era condenado, quer fosse praticado por israelitas (membros do povo escolhido por Deus) ou por estrangeiros (gentios) que estivessem vivendo em Israel. Pessoas de qualquer cultura que recebessem revelações específicas a respeito de Deus eram consideradas responsáveis pela maneira como reagiam à verdade.


8 - 11 Palavra contra a idolatria 


14:8 Os idólatras que não se arrependessem seriam separados não apenas de Deus, mas também do povo de Deus (Ez 13.9). Essa experiência seria um sinal sobre como o Senhor honrou Sua promessa de punir a desobediência com maldições (Lv 20.1-7).


14.9-11 A ligação entre a soberania de Deus e a responsabilidade dos seres humanos está implícita nesses versículos. O Senhor permite que as revelações mentirosas, anunciadas pelos falsos profetas, tenham continuidade por propósitos que apenas Ele conhece, mas o pseudo profeta terá de prestar contas pelo conteúdo de suas mensagens. Esses falsos profetas israelitas deliberadamente ignoravam a verdade e misturavam-na com falsidades. Sua punição seria a mesma do que perguntava (os anciãos). Entretanto, caso se convertessem, estariam sujeitos ao plano redentor divino (v. 5).


12 - 20 Noé, Daniel e Jó


14.12-20 A infidelidade de Jerusalém era tão ofensiva a Deus que a presença de gigantes espirituais [como Noé, Jó e Daniel em Jerusalém] não poderia impedir o juízo divino sobre a cidade, que acarretaria a morte de muitos judeus pela fome, pelo ataque de animais selvagens, pelas invasões militares (espada) ou por doenças (peste). Noé, Daniel e Jó. Compare-se com Jeremias 15.1, onde os nomes de Moisés e Samuel são invocados de maneira semelhante. Nessa lista, a citação do nome de Daniel parece estranha, pois este não era um patriarca, como Noé e Jó, e sim um contemporâneo de Ezequiel, que estava entre os primeiros líderes israelitas deportados para a Babilônia (Dn 1), um reino cujos grandes feitos ainda estavam para ser manifestos.


A grafia do nome de Daniel, em hebraico, no livro de Ezequiel é Dan-El, em vez de Daniel, levantando dúvidas se o profeta estaria referindo-se a outro indivíduo. Isso porque existem alguns relatos preservados sobre um herói da Antiguidade chamado Dan-El, porém este era um adorador de Baal; logo não poderia ser considerado um justo, de acordo com os padrões divinos, ressaltados por Ezequiel. É possível que os primeiros ouvintes da mensagem de Ezequiel estivessem familiarizados com outro temente a Deus que desconhecemos [ou se trate do mesmo Daniel que escreveu o texto que recebeu seu nome e compõe o AT].


21 - 23 Os quatro juízos


14.21 Esses juízos, embora proclamados hipoteticamente até o momento, realmente sobreviveram a Jerusalém (Lv 26.22-26).


14.22, 23 Alguns seriam levados para fora. Quando os exilados observassem o seu caminho e os seus feitos — ou seja, suas atitudes malignas, seriam relembrados a respeito da justiça e da graça de Deus. Esse é um modo notável para se falar do remanescente. Originalmente, o conceito dizia respeito aos justos. Aqui é usado como uma amostra do povo ímpio, cujos atos justificavam as ações de Deus em Seu julgamento soberano: não fiz sem razão tudo quanto tenho feito nela.


Apocalipse 11

 



11.1 João recebeu uma cana semelhante a uma vara, muito parecida com aquela usada por Ezequiel (Ez 40.3,5) em sua visão das medidas do templo (Ez 40—48). Mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele adoram. Esse é o templo do período da tribulação que em algum momento será edificado (Ap 13.14,15; Dn 9.27; Lc 21.24; 2Ts 2.4). A medida dos que nele adoram pode significar avaliação daqueles que prestam adoração ao Senhor no templo, bem como proteção para os fiéis e juízo, para os infiéis.


11.2 Em Lucas 21.24, é profetizado que os gentios pisarão a Cidade Santa até que os tempos dos gentios se completem. Aparentemente, o período de quarenta e dois meses é a conclusão do tempo dos gentios. A palavra gentios aqui pode ser traduzida também como nações (Ap 11.9; 10.11).


11.3 Quarenta e dois meses (v.2) é o mesmo período que mil duzentos e sessenta dias (Ap 12.6). E quase certo que um tempo, e tempos, e metade de um tempo (v.14) seja também um período de três anos e meio formado por quarenta e dois meses lunares. Essas expressões também se encontrem nas profecias em Daniel (Dn 12.6,7,11,12).


As duas testemunhas profetizarão durante 1260 dias com impressionante poder (Ap 11.5,6). Então, parece que o período de dominação da besta (v.7; 13.5) sé dá durante a missão das testemunhas, cada uma ocupando em termos gerais metade do período da tribulação. As duas testemunhas sem nome são extraordinariamente semelhantes a Elias e Moisés (ver Êx 7-11; 1 Rs 17; Ml 4.5), que apareceram com Cristo no monte da transfiguração (Lc 9.29-32).


É possível também que essas duas testemunhas simbolizem todos os crentes fiéis [do AT e do NT] (bem como a Lei e os Profetas) testificando durante a tribulação. Vestidas de pano de saco significa que as testemunhas estão de luto pelo mundo que não expressa arrependimento (Mt 11.21).


11.4 As testemunhas são descritas como duas oliveiras e dois castiçais, associando-as à visão em Zacarias 4, sobre os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a terra (Zc 4-14). Lá, os dois ungidos são Zorobabel e Josué, o sacerdote. Mas o princípio universal para essas e todas as outras testemunhas do Senhor é que o testemunho delas pela verdade não é por força, nem por violência, mas pelo Espírito do Senhor (Zc 4.6).


11.5 O fogo saindo da boca das duas testemunhas para que, se alguém se opuser a elas, seja morto é parecido com a descrição da praga de morte trazida pelo exército de cavaleiros em Apocalipse 9.16-18. Aparentemente, a missão delas é impossível de ser interrompida durante três anos e meio (Ap 11.3) até quando acabarem o seu testemunho (v.7). O fogo também lembra dois dos milagres de Elias (1 Rs 18; 2 Rs 1).


11.6 As duas testemunhas têm a autoridade para impedir a chuva durante os dias da sua profecia, identificando-as com Elias, cuja oração fez com que não chovesse durante três anos e meio (Tg 5.17). Transformar as águas em sangue (Êx 7.17-21) e assolar a terra com pragas (Êx 7—11) lembra a experiência vivenciada por Moisés no Egito.


11.7, 8 O verbo traduzido como acabar é o mesmo que Jesus usou quando gritou triunfantemente na cruz: Está consumado (Jo 19.30). A besta tem a permissão para matar as duas testemunhas na cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito. A besta, que vem à tona como um governante mundial satanicamente autorizado nos capítulos 13 e 17, emerge do abismo, assim como a praga dos gafanhotos demoníacos da quinta trombeta (Ap 9.1-10). A grande cidade no Apocalipse geralmente é a Babilônia (Ap 14.8), que provavelmente representa Roma[ou qualquer grande império mundial, ou sistema satânico] (l Pe 5.13).


Porém, a descrição mais adiante, de onde o seu Senhor também foi crucificado, parece referir-se a Jerusalém. Alguns estudiosos entendem a frase como simbólica, significando o mundo pecaminoso no qual Cristo foi crucificado. Sodoma foi o primeiro modelo de degeneração moral em uma grande cidade (Gn 19); o Egito era o protótipo da idolatria desenfreada e da escravidão imposta.


11.9, 10 Povos, e tribos, e línguas, e nações são aqueles para quem o testemunho do evangelho deve continuar até à consumação dos séculos (Mt 28.19,20). Os que habitam na terra são aqueles sobre quem o juízo de Deus recairá (Ap 6.10; 8.13). Estar morto por três dias e meio lembra os três anos e meio da missão das testemunhas (v.3). A morte das duas testemunhas (v.7) iniciará uma celebração global entre os infiéis que odiaram a mensagem verdadeira delas.


11.11 O espírito de vida, vindo de Deus, lembra a profecia dos ossos secos (Ez 37). Uma ressurreição pública assim poderia causar um grande temor por todo o mundo se fosse transmitido com a ajuda da tecnologia moderna de satélites. A sequência completa dos acontecimentos servirá para lembrar Israel da missão de Jesus Cristo — Sua morte, ressurreição e ascensão.


11.12 “Subi cá” é a mesma ordem dada a João em Apocalipse 4.1. Subiram ao céu em uma nuvem lembra a descrição da ascensão de Cristo (At 1.9) e o ensino de Paulo sobre o arrebatamento, em 1 Tessalonicenses 4.17. Alguns estudiosos acreditam que o arrebatamento da Igreja acontecerá nesse momento. Mas é difícil conciliar essa descrição de morte e ressurreição (At 11.9-11) com o recolhimento dos crentes vivos (quer dizer, o arrebatamento).


11.13 E naquela mesma hora. Logo após as duas testemunhas ascenderem ao céu, um grande terremoto (Ap 6.12) destruirá a décima parte da cidade, resultando em sete mil mortes. Aqueles que sobreviverem ficarão apavorados e glorificarão a Deus.


11.14 O segundo ai inclui a sexta trombeta (Ap 9.12-21) e um segundo interlúdio (Ap 10.1—11.13). O terceiro ai, ao que tudo indica, é a sétima trombeta (v.15-19), pois é dito que cedo virá e, como Apocalipse 8.13, relacionados aos ais aos três últimos sopros de trombeta. O último ai pode estender—se, já que a palavra ai aparece novamente em Apocalipse 12.12.


11.15 Nosso Senhor reinará para todo o sempre antecipa o retorno de Cristo (Ap 6.12-17; 19.11-21).


11.16-18 Os vinte e quatro anciãos foram previamente vistos adorando a Deus (Ap 4-10,11) e ao Senhor Jesus (Ap 5.8-10) continuamente. Aqui, a ação de graças deles ao Senhor Deus todo-poderoso entra em uma nova fase: eles glorificam o poder e a ira de Deus e a correspondente distribuição de galardão e juízo. Essa estrofe de ações de graças parece refletir no cumprimento da grande profecia messiânica no Salmo 2.


11.17 “Reinaste” pode referir-se a um governante atual no céu, ou ao fato de Cristo já ter vindo à terra para subjugar as nações (v.18) a essa altura. Também é possível que o tempo verbal no passado aluda à certeza, um acontecimento futuro tão certo quanto outros planos de Deus cumpridos para o mundo. Por exemplo, em Romanos 8.30, é dito que o crente é justificado e já está glorificado (tempo passado), embora a glorificação de fato acontecerá mais tarde, quando o cristão entrar na presença de Jesus, com um corpo incorruptível.


11.18 Veio a tua ira (Ap 6.16,17). A ira de Satanás também será vista em Apocalipse 12.12, mas a ira divina não pode ser rivalizada (Ap 14-19). O tempo dos mortos inclui a entrega dos galardões ao povo de Deus, Seus profetas, servos e santos (2 Co 5.10), e o pronunciamento do castigo eterno das nações infiéis (Mt 25.46). Isso é pelo que os mártires oraram em Apocalipse 6.10; não está terminado até Apocalipse 20.12-15. Aqueles que temem o nome de Deus são os que responderam com fé ao evangelho eterno (Ap 14.6,7), possivelmente incluindo os que temeram e glorificaram a Deus no versículo 13.


11.19 O templo de Deus, nesse caso, não é o mesmo dos versículos 1 e 2. Aquele templo terreno tinha um átrio externo dado às nações (v.2); este templo está no céu. Uma arca do concerto é citada aqui, embora a arca do concerto feita por Moisés, ao que tudo indica, foi destruída pelos babilônios quando eles saquearam e queimaram o templo em Jerusalém (2 Cr 36.18,19). A arca representava a presença, liderança e proteção de Deus sobre Israel no deserto (Nm 10.33-36) e na Terra Prometida (Js 3.3,15-17). Aqui, a arca pode representar bênçãos parecidas relacionadas ao novo concerto e à volta de Cristo (Hb 9.1,4,11,23-28). Pode também antecipar a proteção divina à mulher que deu à luz o Messias no deserto em Apocalipse 12.5, 6, 14. Relâmpagos e trovões provinham do trono de Deus no céu (Ap 4.5) e foram lançados sobre a terra no início do juízo anunciado pelas trombetas (Ap 8.5), juntamente com terremotos (v.5) e a saraiva (v.7).



quarta-feira, 1 de março de 2023

Ezequiel 13

 



Esboço


1-7 Denuncia contra os falsos profetas

8-16 Juízo contra os falsos profetas 

17-23 Profecia contra falsas profetizas


13.1-23 Nesse trecho, Ezequiel profetiza um juízo contra os falsos profetas, tanto homens (v. 1-16) como mulheres (v. 17-23). Em cada caso, primeiro ele descreve o pecado de maneira vívida (v. 1-7,17-19); então, apresenta o veredicto divino de condenação (v. 8-16, 20-23).


13.1-4 Os falsos profetas eram loucos, como raposas nos desertos. O vocábulo hebraico traduzido como desertos transmite a ideia de lugares abertos e desolados (v. 5). As raposas são descritas vagueando entre os escombros dos muros da cidade. Os profetas eram loucos, porque confundiam seus próprios pensamentos com os de Deus. Eram como raposas entre as ruínas, porque buscavam ganhos para si e tiravam vantagem do sofrimento humano ao seu redor. Agiam mais como saqueadores do que como restauradores.


13.5 Não subistes às brechas, nem reparastes a fenda da casa de Israel, para estardes na peleja no dia do Senhor. O sentido aqui é que eles não edificaram muros de proteção espiritual. Os falsos profetas não contribuíam com orações, não serviram de exemplo nem deram bons conselhos a Judá, a fim de que a nação se voltasse para Deus [ao contrário]. O dia do Senhor representa períodos em que Deus confirma Sua vitória (Ez 7.19; 30.3). A expressão é utilizada particularmente pelos profetas para descrever as ocasiões nas quais Deus tem uma atividade incomum ao lidar com o povo, seja promovendo libertação ou juízo (J1 2.1; Sf 1.7). Nesse dia por vir [o Juízo final], o Senhor irá cumprir Seus propósitos para o mundo: resgatar os justos e julgar os pecadores.


13.6, 7 Os falsos profetas, tais como Balaão, praticavam adivinhação (Js 13.22). Essa era a arte pagã de tentar prever o futuro e buscar direcionamento por meio de meios duvidosos e proibidos expressamente na Lei mosaica; meios como a astrologia, a leitura do fígado e entranhas de animais, a consulta a médiuns ou bruxos para buscar uma comunicação com os mortos (1 Sm 28.3-19). Esses falsos profetas esperavam obter algum tipo de revelação. Entretanto, não encontravam a verdade, porque não procuravam por ela onde Deus a revelara — na Lei e nos Profetas.


Ao iniciarem suas predições afirmando que o Senhor dissera algo, esses pseudo profetas estavam declarando enganosamente que Deus havia falado com eles quando, na verdade, isso não acontecera. Os profetas de Deus nunca procuravam nem forjavam visões, tampouco por meio de métodos de adivinhação (Dt 18.10; M q 3.6). Eles recebiam visões e profecias da parte do Espírito do Senhor.


13.8 O julgamento divino sobre visão de vaidade e adivinhação mentirosa (v. 7) é reapresentado neste versículo Como falais vaidade e vedes a mentira, portanto, eis que eu sou contra vós, diz o Senhor Jeová. O vocábulo hebraico para vaidade é traduzido como em vão, em Êxodo 20.7.


13.9 Pelo fato de esses falsos profetas terem proclamado mensagens que contradiziam a verdade divina (v. 10), foram condenados. O Senhor os afastaria do povo de Israel. Eles não teriam mais participação na nação nem herança na terra. Entrarão na terra. Os falsos profetas não tomariam parte na restauração futura do povo à Terra Prometida.


13.10-16 Esses falsos profetas experimentariam a ira de Deus, assim como os muros de Jerusalém que estavam sendo erguidos naquela época seriam destruídos. Jerusalém seria invadida e subjugada por causa dos pecados de seus habitantes. A pregação sobre uma falsa paz havia estimulado o povo a edificar, imaginando ter um futuro garantido; entretanto, ocorreria exatamente o oposto. Os falsos profetas haviam enganado o povo com uma esperança vã de conforto e prosperidade (v. 10). Esse engano os tomava não apenas antagonistas à verdade de Deus, mas também ao próprio Deus. A destruição deles estava assegurada.


13.17-19 As filhas. As mulheres judias que atuavam como falsas profetizas, porque elas confundiam suas próprias ideias com as de Deus e lançavam encantamentos de morte por meio de magia ou bruxaria (Lv 19.26). As almofadas e os travesseiros (v. 18) [ou invólucros e véus (v. 18 ARA)] eram elementos utilizados em rituais ocultistas no Oriente Médio antigo.


13.20-23 Entristecestes o coração do justo com falsidade, não o havendo eu entristecido, [...] e esforçastes as mãos do ímpio (v. 22). Essas “profetisas” lançavam dúvidas entre os que não se envolviam com adivinhações demoníacas e estimulavam os que já haviam sido iniciados. Elas seriam punidas com o mesmo julgamento que recairia sobre os falsos profetas.



terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens




 Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus".

Mateus 5:16


Assim como a luz brilha a partir de um pedestal, os discípulos de Cristo devem deixar sua luz brilhar perante as outros...”para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus”  Jesus deixou bem claro que não haveria nenhum erro quanto à fonte de boas obras de um crente , A luz do crente não brilha para ele mesmo; essa luz deve ser refletida em direção ao Pai Levando as Pessoas a Ele.

Não existe cristianismo sem ter a prática das boas obras, é Deus que inspira o salvo a fazer tais ações que expressam o reino dos céus na Terra, ou seja, as mesmas obras de Jesus Cristo (Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz. João 13:15), as pisadas de Cristo é o exemplo do ministério cristão.

Jesus ensinou, pregou, curou os enfermos, libertou os oprimidos pelo Inimigo e logo “a sua fama correu por todas as terras em derredor” (Lucas 4.14). Jesus foi bem-sucedido em seu ministério e tudo o que Ele realizou foi “pela virtude do Espírito Santo”. O ministério de Jesus causou um impacto sobre o seu povo, os judeus. Jesus em João 8:12 disse “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida". Esta luz era a pregação do seu evangelho aos que estavam em trevas vivendo sem luz. As trevas nada mais é que a ausência de luz. Trevas é escuridão total, falta de orientação e perdição. Quem anda em trevas, anda sem direção, pois não tem uma fonte de luz para se guiar. Quem aceita a Cristo, anda na luz e passa a refletir a Sua luz (Falando novamente ao povo, Jesus disse: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida". João 8:12).

Por isso, a importância do nosso testemunho para iluminar este mundo tão sombrio (Porque outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Vivam como filhos da luz... Efésios 5:8). Não há como unir a luz com as trevas, a simples presença da luz dissipa as trevas. Nenhuma escuridão é capaz de resistir a luz (A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram. João 1:5). Quando colocamos as nossas trevas na maravilhosa luz de Cristo, toda escuridão é aniquilada e assim podemos caminhar em retidão. (Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados. Colossenses 1:13-14)



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Ezequiel 12

 


12.1-20 Ezequiel encena uma profecia como se estivesse em Judá, preparando-se para seguir ao cativeiro após a queda de Jerusalém.


12. 1-6 A direção de Deus para Ezequiel 


12.1, 2 A comunidade dos exilados à qual Ezequiel ministrava é descrita duas vezes como casa rebelde. Isso é definido com mais detalhes pelas expressões olhos para ver e ouvidos para ouvir (Is 6.10). A dureza de coração dos israelitas durou mais de um ano (Ez 1.1,2; 8.1). Eles não davam ouvidos às palavras do profeta nem atentavam para as dramatizações dele sobre o julgamento iminente (cap. 4—6).


12.3-8 A encenação realizada por Ezequiel era para advertir os exilados na Babilônia de que não eles deveriam esperar um retorno breve a Jerusalém. O profeta já havia dito que a cidade logo sucumbiria (cap. 4;5); os habitantes que não fossem mortos seriam levados para o exílio. Os ouvintes de Ezequiel devem ter compreendido facilmente a advertência dele, porque era semelhante ao que o profeta demonstrara seis anos antes, quando os primeiros judeus foram levados para o exílio. A expressão traduzida como sinal maravilhoso é um vocábulo hebraico que, nesse trecho, não significa milagre, e sim um sinal visível (Ez 12.11; 24.24,27). E fiz assim, como se me deu ordem. Em contraste com a desatenção e a desobediência do povo, o profeta de Deus sempre era fiel às ordens do Senhor (cap. 2— 5).


12: 7-16 O cativeiro é anunciado 


12.9, 10 Os ouvintes de Ezequiel eram pessoas que já haviam experimentado o exílio; todavia, eram tão rebeldes e resistentes à mensagem que continuavam perguntando ao profeta com desdém: Que fazes tu?


O príncipe em Jerusalém era Zedequias (v. 12-14), governante de Judá (2 Rs 24.17-20). Carga. A mensagem declarada por um profeta geralmente era denominada carga, ou jugo (Is 13.1; 15.1).


12.11-14 Falando em 592 a.C, seis anos antes, Ezequiel predisse a deportação dos primeiros judeus de Jerusalém para a Babilônia, e profetizou exatamente o que aconteceria ao líder, Zedequias. O rei tentaria escapar durante a noite, em segredo e disfarçado (o rosto cobrirá); no entanto, seria preso e cegado pelos babilônios; então, seria levado para o exílio, onde morreria (2 Rs 25.1-7; Jr 52.1-11). Ezequiel era um sinal para seus ouvintes que já estavam no exílio, pois ele declarava verbalmente e por encenações simbólicas o destino dos judeus que ainda viviam em Jerusalém. A terra dos caldeus é a Babilônia.




12.15, 16 A expressão o Senhor é usado em lugar do nome de Deus. Ela aparece nessa profecia para indicar o relacionamento especial do Senhor com os israelitas. Ezequiel explicou aos exilados que aquela situação adversa tinha um propósito. Por meio dela o Senhor se revelaria como um Deus pessoal e amoroso. O objetivo da adversidade era corrigir e instruir: Assim, saberão. Além disso, os exilados seriam um testemunho ou sinal entre as nações. A invasão de Jerusalém pelos caldeus não indicava que o Senhor era fraco, pois isso ocorreu como consequência do pecado do povo contra Deus. No entanto, o Senhor demonstraria que Seu propósito final era o de levar Seu povo ao arrependimento e restaurá-lo (Hb 12.1-11). Por meio dessa experiência difícil, os israelitas aprenderiam que seu Deus era santo e amoroso. O pecado era ofensivo ao Senhor, mas ainda assim Ele desejava alcançar, perdoar e restaurar os pecadores.


12. 17-20 Haverá Fome em Israel 


12.17-20 Aqui há novamente outra dramatização da profecia sobre o temor e a escassez de comida em Jerusalém durante o cerco.




12.18, 19 Ezequiel deveria demonstrar e declarar ao povo da terra (ou seja, aos seus companheiros de exílio) a advertência de Deus sobre as terríveis condições às quais o povo de Judá e de Jerusalém seria submetido.


12.20, 21 Para o cumprimento da profecia de que Jerusalém e Judá seriam desoladas, veja 2 Reis 25.8-21; Jeremias 39.8-10; 44-1-6; 52.1-30; Lamentações 1.3,4.


12: 21-28 O fim das visões falsas 


12.22 O ditado popular entre os exilados indica como eles eram resistentes às profecias de Ezequiel. Prolongar-se-ão os dias, e perecerá toda visão? Embora já estivesse cativo, o povo se mostrava cínico e apático, pensando erroneamente que um atraso no juízo significava que não haveria castigo, pelo menos não para aquela geração (Ez 12.25, 27, 28; 2 Pe 3.3, 4).


12.23-25 Chegaram os dias e a palavra de toda visão. Um provérbio antitético substituiria o antigo (v. 22), e os falsos profetas que faziam oposição a Ezequiel deixariam de profetizar. A expressão em vossos dias deixa claro que os exilados veriam o julgamento sobre Jerusalém cumprir-se.


12.26-28 O povo continuava achando que o castigo seria postergado; Ezequiel deveria assegurar a todos uma segunda vez de que o julgamento não [seria] mais retardado.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Santidade ao Senhor

 



Há uma palavra simples, todavia profunda, que ocorre novecentas vezes na Bíblia. Você a encontra primeiramente em Gênesis, quando somos informados como Deus criou o céu e a terra. Você a encontra pela última vez no capítulo final da Bíblia, onde nos é dito sobre a criação de um novo céu e de uma nova terra por Deus. Um livro inteiro, Levítico, é dedicado ao assunto desta palavra.


Apesar disso, esta palavra é estranhamente negligenciada hoje. Embora ela descreva a exclusividade de Deus e o chamado de todos os Seus filhos, ela é amplamente ignorada.

Esta pequena, todavia maravilhosa, palavra é santo. Entre outras palavras, santo, santificar e santificação são obtidas de sua raiz.


O que significa santo, santidade? Qual é o chamado bíblico à santidade? Como se deve praticar a santidade? Por que as igrejas necessitam tão desesperadamente da santidade em nossos dias?

Dividamos nosso assunto em cinco seções: (1) O que Santidade é: Eliminando as Concepções Erradas. (2) Santidade na Escritura: Ser separado. (3) Santidade na Teologia: Santificação. (4) Santidade na História: O Entendimento da Igreja. (5) Santidade na Prática Hoje: A Maior Necessidade da Igreja e Nossa.


O QUE SANTIDADE É: ELIMINANDO CONCEPÇÕES ERRADAS


Santo e santidade são termos que levam a uma considerável concepção errada. Para alguns, a palavra santo parece arcaica; imaginam algo antiquado e retrógrado. Para outros, santidade cheira a legalismo moralista; isto é, santidade demanda uma longa lista de proibições. De pessoa para pessoa, de grupo para grupo, esta lista variará, mas uma lista sempre existirá onde quer que a santidade esteja. Ainda para outros, a santidade é associada com uma repugnante atitude de “sou mais santo que você”. Eles a vêem como uma ferramenta desprezível com a qual se implementa a superioridade arrogante. Finalmente, para alguns, santidade denota uma perfeição inatingível. Eles vêem a santidade como uma doutrina desalentadora que não prega nada senão o pecado e exige uma perfeição radical.


Embora haja fragmentos de verdade em certos aspectos destas concepções, todas estas idéias falham em expressar o verdadeiro conceito de santidade. De acordo com o uso original da palavra, santidade em todas suas formas (isto é, quando aplicada a qualquer pessoa, lugar, ocasião ou objeto) implica o ser separado do uso comum secular para o propósito de ser devotado a Deus.


Santidade significa ser separado. Mas o que significa o ser separado? Duas coisas. O sentido negativo de ser separado é o chamado da santidade para nos separarmos do pecado. O sentido positivo de ser separado é o chamado da santidade para nos consagrarmos a Deus. Estes dois conceitos – separação do pecado e consagração (ou separação) a Deus – compreendem a palavra santidade. Quando combinados, estes dois conceitos fazem a santidade muito compreensiva. De fato, a santidade cobre o todo da vida. Todas coisas, nos diz Paulo, devem ser santificadas: “Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada” (1 Timóteo 4:4,5).


O chamado para santidade é um chamado absoluto, exclusivo. Deus nunca nos chama para Lhe dar um pedaço de nossos corações. O chamado para santidade é um chamado para todo o nosso coração: “Filho meu, dá-me o teu coração” (Provérbios 23:26).


O chamado para a santidade é holístico. Isto é, nossa vida inteira está envolvida – corpo e alma, tempo e eternidade. E também em cada esfera de nossa vida na qual somos chamados a atuar: em privacidade com Deus, na confidencialidade de nossos lares, na competição de nosso trabalho, nos prazeres da amizade social, bem como na adoração dos domingos. O chamado à santidade é um chamado de sete dias por semana e de 365 dias por ano. Ele é radicalmente compreensivo; como tal, o chamado à santidade pertence à essência da fé e da prática religiosa.


Assim, você pode ver quão erradas são as concepções erradas de “arcaísmo, legalismo e superioridades” com respeito à santidade. A santidade nunca se apresenta na Escritura como um conceito farisaico com uma lista sem fim de “fazer” e “não fazer” combinada com uma atitude de justiça própria. Pelo contrário, a santidade é um compromisso para toda a vida de nos separarmos para o senhorio de Jesus Cristo. A santidade não é uma lista, mas um estilo de vida. Santidade significa viver para Deus. Santidade é a religião por excelência. É a relação com Deus – uma relação pactual, certamente – manifestada pela graça em fé e prática, através de todas as esferas da vida.


Isto se tornará mais cristalino à medida que examinar o conceito da Escritura de santidade.


SANTIDADE NA ESCRITURA: SER SEPARADO


No Antigo Testamento, se fala de santidade primariamente com relação a Deus. “O SENHOR nosso Deus é santo” (Salmos 99:9). Santidade é a própria natureza de Deus – o próprio fundamento de Seu ser. Três vezes santo, intensamente santo é o Senhor (Isaías 6:3). Deus é santidade. Santidade é a coroa permanente de Deus. Ela é o “brilho de todas as Suas perfeições”, como os Puritanos costumavam dizer. Santidade é o pano de fundo para tudo mais que a Bíblia declara sobre Deus.


O conceito de santidade divina do Antigo Testamento apresenta três verdades cardinais sobre Deus: Primeiro, denota a separação ou a diferença de Deus de toda a Sua criação. A palavra hebraica mais comum para santo é qadosh, a qual tem como seu significado mais fundamental o ser separado ou apartado. Deus está acima e além de toda a Sua criação. Nada é como Ele. “A quem, pois, fareis semelhante a Deus, ou com que o comparareis?” (Isaías 40:18). “O SENHOR é Deus; nenhum outro há senão Ele” (Deuteronômio 4:35,39; 1 Reis 8:60; Isaías 45:5,6,14,18,21,22; 46:9; Joel 2:27).


Em segundo lugar, denota a total “separação” de Deus de tudo que é impuro ou mal. Deus é a perfeição moral. Sua santidade é total retidão e pureza (Isaías 5:16). Seus olhos são muito puros para contemplar o mal (Habacuque 1:13).


Em terceiro lugar, por causa de Deus ser separado por natureza de todo pecado, Ele é inacessível para os pecadores, aparte de um sacrifício santo (Levítico 17:11; Hebreus 9:22). Somente com um sacrifício sangrento e vivificar o Deus santo pode habitar justamente entre os pecadores (porque o salário do pecado é a morte, Romanos 6:23) – e isto por causa de Cristo, o Sacrifício que haveria de vir. Em e através da vinda do Messias, o único e perfeito Deus de Israel pode viver entre o Seu povo escolhido: “Eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti” (Oséias 11:9). Esta aparente contradição – o Santo em vosso meio – é explicável somente através de Jesus Cristo, o sacrifício apontado por Deus, porque o Santo vê somente um Cristo perfeito quando Ele olha para o Seu povo (cf. Catecismo de Heidelberg, Q. 60).


Deste triplo conceito de Deus como o Santo, se deduz naturalmente que tudo associado com Deus (isto é, fenômeno divino) deve ser também santo. Por conseguinte, o descanso instituído é “um repouso santo” (Êxodo 16:23); Sua morada é o “santo céu” (Salmos 20:6); Ele se senta num “santo trono” (Salmos 47:8); Sião é Seu “santo monte” (Salmos 2:6); Seu próprio Nome é santo (Êxodo 20:7). Assim, também, Sua igreja é chamada a ser uma “santa assembléia” (Êxodo 12:16) e Seu povo do pacto um “povo santo”: “Porque povo santo és ao SENHOR teu Deus; o SENHOR teu Deus te escolheu, para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos que há sobre a terra” (Deuteronômio 7:6).


Israel, o povo do pacto de Deus, é chamado à santidade por meio de uma santa separação do pecado (Deuteronômio 7:6), através de uma santa consagração a Deus (Levítico 11:44), de uma santa adoração a Deus (cf. a maior parte de Levítico), e de uma santidade ou limpeza interior (Levítico 16:30; Salmos 24:3-4).


O Novo Testamento


O Novo Testamento ressalta todo o ensino do Antigo Testamento sobre a santidade. Ele desenvolve uma maior ênfase, contudo, sobre os temas da santa Trindade e dos santos consagrados. A santidade é sempre atribuída a uma Pessoa da Deidade. O Deus de amor é o Pai Santo (João 17:11); Jesus Cristo é o Santo de Deus (Marcos 1:24; João 6:69); e o Espírito de Deus é denominado Santo noventa e uma vezes!


Em termos de santos, o Novo Testamento destaca três temas. Primeiro, ele acentua a dimensão ética da santidade. A ênfase recai sobre o interno em lugar da santidade ritual. Básico para isto é o testemunho do próprio Jesus, que como o Filho do homem viveu uma vida de completa santidade, porque Ele “não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1 Pedro 2:22). Ele é “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores” (Hebreus 7:26). Como resultado de Sua obra redentora, os crentes nEle são declarados justos e entram na santidade: “Na qual vontade temos sido santificados pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez por todas” (Hebreus 10:10).


Em segundo lugar, o Novo Testamento enfatiza o caráter normativo da santidade entre os crentes. A santidade pertence a todos os verdadeiros seguidores de Cristo. Um termo comum para todos os crentes é santo (hagioi), geralmente traduzido por “santo”. Santos, portanto, não se refere a pessoas preeminentes na santidade, mas ao crente típico que é santo em Cristo (1 Coríntios 1:30). Santidade é uma realidade interna para todos os que estão unidos com Cristo. Embora um filho de Deus sinta freqüentemente quão ímpio ele é em si mesmo e possa não ousar se chamar um “santo”, Deus vê todos os Seus eleitos como santos e santificados em e através da perfeita obediência, ativa e passiva, de Seu Filho amado. Por amor de Cristo, seu estado é santo diante de Deus e sua condição é feita santa pelo Espírito que habita neles.


Em terceiro lugar, o Novo Testamento contempla a santidade como transformadora de toda a pessoa: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso SENHOR Jesus Cristo” (1 Tessalonicenses 5:23). Embora esta “santidade completa” esteja além do alcance do crente nesta vida, ela sempre continua sendo seu objetivo e oração. Ele se deleita em buscar a santidade e procura o “aperfeiçoamento da santidade no temor de Deus” (2 Coríntios 7:1).