Pesquisar este blog

domingo, 20 de agosto de 2017

Onde começa a missão do homem no Pacto da Nova Aliança



Uma segunda possibilidade é que poderíamos entender essa aliança como "nova" fazendo dela um contraste com aquela ideia errônea que os judeus tinham da Lei como sendo uma aliança legal para a salvação. Aquela antiga aliança (considerada entre os judeus como aliança de salvação) caducou, pois ela foi tornada imperfeita. Em Jeremias 31:31-34 o profeta parece falar ali de uma aliança inteiramente nova. Mas surge a seguinte pergunta: Em que, então, diferem as duas alianças ali apresentadas?
A nova aliança é o pacto movido pelo pulsar da vida de Jesus, o Verbo de Deus já no início que agora é manifesto:
Gênesis 1:1
No princípio, Deus criou os céus e a terra.

Provérbios 8:22-31
O SENHOR me possui como fundamento do seu Caminho, antes mesmo do princípio das suas obras mais antigas; …

Efésios 3:9
e revelar a todos qual é a dispensação deste mistério que, desde os séculos passados, foi mantido oculto em Deus, que tudo criou.

Colossenses 1:17
Ele existe antes de tudo o que há, e nele todas as coisas subsistem.

Hebreus 1:10
E acrescenta: “Tu, Senhor, no princípio estabeleceste os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos.

Hebreus 7:3
sem pai, sem mãe, sem origem nem antepassados, sem princípio de dias nem fim de vida; no entanto, por ser à semelhança do Filho de Deus, Ele permanece sacerdote perpetuamente. Cristo supera o sacerdócio levítico

Hebreus 13:8
Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente!

Apocalipse 1:2,8,11
o qual comprovou tudo quanto viu da Palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo. …

Apocalipse 2:8
“Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: ‘Aquele que é o primeiro e o último, que foi morto e ressuscitado, faz as seguintes afirmações:

Apocalipse 21:6
E declarou-me ainda: “Tudo está realizado! Eu Sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A todos quantos tiverem sede lhes darei de beber graciosamente da fonte da Água da Vida.

Apocalipse 22:13
Eu Sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Derradeiro, o Princípio e o Fim.
Por ser ele o princípio, nele não há erros como nos outros personagens estudados, mas, sim uma gama de preceitos que falam da missão do homem, tendo este compreendido o Cristo neste Mundo.
João 1:14
E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Vimos a sua glória, glória como a do Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade. A proclamação de João Batista

1 João 1:1,2
O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam a respeito da Palavra da Vida. …

Apocalipse 19:13
Estava vestido com um manto salpicado de sangue, e seu Nome é Palavra de Deus.

Graça e Verdade esta é a vida do Mundo o próprio Haja de Deus estava ali, o Verbo, a Palavra e o Deus Vivo. Seu sangue que purifica o homem, ou seja, limpa. Quando algo é limpo é demonstrado todos os erros e falhas do eu, do ego, do ente e do ser. A somática é o homem, ou seja, o homem é o ser piscobiosocial, então para Cristo, ou, na nova aliança não é o erro, mas, as intenções.
O pecado é tratado no interior do homem primeiro “pisco”, (Mateus 5:27. Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. 28. Eu, porém, vos digo, que qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, em seu coração, já cometeu adultério com ela). Os daqueles que compõe a nova aliança está em sua mente a princípio, trata na intenção e, evitar a consumação da ira (Mateus 5:38. Ouvistes o que foi dito: “Olho por olho e dente por dente”. 39. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao perverso; mas se alguém te ofender com um tapa na face direita, volta-lhe também a outra). Evitar o pecado é o que o Senhor deseja.
Começarei com as palavras de São Paulo I Coríntios 6: 18 Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.    19 Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?    20 Porque fostes comprados por preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo. O pensamento da nova aliança é de uma regeneração de dentro para fora, e, não, de fora para dentro, em todos os pontos da vida.
Mateus 5:37
Seja, porém, o teu sim, sim! E o teu não, não! O que passar disso vem do Maligno. Jamais use a vingança

Lucas 22:40
Chegando ao lugar, Jesus lhes instruiu: “Orai, para que não venhais a cair em tentação”.

João 17:15
Não oro para que os tires do mundo, mas sim, para que os protejas do príncipe deste mundo.

Então a onde começa a sua missão neste Mundo, no próprio Mundo, todavia, deve ser dito que não somos do Mundo e, sim enviados ao Mundo como o Pai enviou a Cristo (Jo 20:21). E, isto é provado em I cor. 6: 6. Entretanto, prego isso como concessão e não como mandamento. 7. Porquanto gostaria que todos os homens estivessem na mesma condição em que eu vivo, contudo, cada ser humano tem seu próprio dom da parte de Deus; um de determinado modo, outro de forma diferente. Melhor estar solteiro, pior é a separação

8. Digo, no entanto, os solteiros e às viúvas: Melhor seria se permanecestes como eu. A sua missão começa antes do seu lar em sua transformação, em seu ser em mudança mudará o seu trabalho, Mundo e lar. Então aos casados que cuide da sua família, e, não abandone a obra de Deus e, ne a família (I Cor. 6:10. Todavia, ordeno aos casados, não eu, mas o Senhor: Que a esposa não se separe do marido. 11. Se, porém, ela se separar, que não se case, ou que se reconcilie com o seu marido. E que o marido não se divorcie da sua esposa.), para que possa suportar o dia a dia no lar. Destarte, poder-se-ia a outra parte ir embora, então, não poderia casar-se de novo, mas, não ficaria impedido de fazer a obra de Deus.
Esta mudança notória faz no interior cria esta resistência no dizer não naquilo que o Mundo oferece e, taxa como normal. A missão na sua plenitude chega ao lar cuidando dos conjugues, família e parentes:

(I Pedro 3: 1. Semelhantemente vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos; para que também, se alguns deles não obedecem à palavra, sejam ganhos sem palavra pelo procedimento de suas mulheres, 2. considerando a vossa vida casta, em temor.    3. O vosso adorno não seja o enfeite exterior, como as tranças dos cabelos, o uso de joias de ouro, ou o luxo dos vestidos,  4. mas, seja o do íntimo do coração, no incorruptível traje de um espírito manso e tranquilo, que és, para que permaneçam as coisas    5. Porque assim se adornavam antigamente também as santas mulheres que esperavam em Deus, e estavam submissas a seus maridos;    6. como Sara obedecia a Abraão, chamando-lhe senhor; da qual vós sois filhas, se fazeis o bem e não temeis nenhum espanto.  
7. Igualmente vós, maridos, vivei com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações.  
8. Finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, cheios de amor fraternal, misericordiosos, humildes, 9. não retribuindo mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; porque para isso fostes chamados, para herdardes uma bênção.  
10. Pois, quem quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano; 11. aparte-se do mal, e faça o bem; busque a paz, e siga-a.)
         A forma abrangente deste texto mostra que antes de pensar em sair ir além deve pensar na sua casa e, como ela está? Seus filhos como estão? Antes deles te respirarem deves tu respeitas a eles também, pois, se não eles nunca aprenderão o que é respeito (Ef 6: 1. Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo.    2. Honra a teu pai e a tua mãe {que é o primeiro mandamento com promessa}, 3. para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra.  

4. E vós, pais, não provoqueis à ira vossos filhos, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor.), tais coisas estarão munindo à  para a guerra Mundial das Missões.

(II Tim. 2:1 Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus; 2 e o que de mim ouviste de muitas testemunhas, transmite-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.    3 Sofre comigo como bom soldado de Cristo Jesus.    4 Nenhum soldado em serviço se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.    5 E também se um atleta lutar nos jogos públicos, não será coroado se não lutar legitimamente.    6 O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos.  7 Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo.  
8 Lembra-te de Jesus Cristo, ressurgido dentre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu evangelho, 9 pelo qual sofro a ponto de ser preso como malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa. 10  Por isso, tudo suporto por amor dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação que há em Cristo Jesus com glória eterna.  

11 Fiel é esta palavra: Se, pois, já morremos com ele, também com ele viveremos; 12 se perseveramos, com ele também reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; 13 se somos infiéis, ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si mesmo).

Parte do estudo do livro Homem: Onde começa sua missão?

Adquira no: https://www.amazon.com.br/dp/B074WH75M3

terça-feira, 15 de agosto de 2017

REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO

Resultado de imagem para Inspiração e revelação bíblica



A teologia cristã, como a Bíblia a apresenta, é uma unidade orgânica; e, como tal, deverá ser estudada, atendendo-se ao todo, e não a cada uma das partes em separado. Nenhuma doutrina poderá ser convenientemente estudada e aprofundada, sem a enquadrar-mos no sistema geral a que pertence. O nosso objetivo é, pois, tratar da revelação e da inspiração, de acordo com a doutrina bíblica. É necessário, no entanto, começarmos por distinguir esta doutrina das restantes verdades do Cristianismo. A doutrina da inspiração bíblica é, como veremos, uma parte da doutrina geral da revelação que, por sua vez, se baseia nas doutrinas fundamentais da criação e da redenção. Nas páginas que se seguem serão expostas estas diferentes relações, de maneira a compreendermos melhor a doutrina que se pretende inculcar.

I. A REVELAÇÃO

A palavra "revelação" pode ser tomada em dois sentidos: ativo e passivo. No primeiro caso significa a atividade de Deus, enquanto se dá a conhecer aos homens; no segundo, o conhecimento que lhes é comunicado. A idéia bíblica de revelação deve partir duma indução da evidência, para o que julgamos bastarão as páginas que se vão seguir.

a) O Velho Testamento

É freqüente o Velho Testamento afirmar que a existência e a história de Israel, como nação, e a sua religião como a Igreja, foram o resultado evidente da revelação divina. Deus revelou-Se na aliança efetuada com Abraão como seu Deus, comprometendo-Se a continuar essa aliança com a sua descendência (#Gn 17). Foi assim que os conduziu do cativeiro para a Terra Prometida, transformando-os num povo que passou a servi-Lo (#Êx 6.2-8; #Êx 19.3-6; #Sl 105.43-45). Deu-lhes a Sua "Lei" (torah, lit. "instrução"), e ensinou-lhes como deviam prestar-Lhe culto. Levantou uma série de intérpretes para lhes anunciarem "a Palavra do Senhor". Vezes sem conta e em momentos decisivos da sua história, esse Deus demonstrou o completo domínio que possuía das circunstâncias, revelando o que por eles iria fazer antes do acontecimento (cfr. #Is 48.3-7).

Israel tinha a consciência de ser o único povo a travar tais relações com Deus (#Sl 147.19-20), para quem a religião significava precisamente o conhecimento de Jeová, e supunha a revelação do Mesmo na aliança que fizera. A não ser assim, os gentios cairiam na idolatria. A religião revelada de Israel iria reparar as blasfêmias proferidas por outra religião qualquer. Por isso, quando Deus Se manifestou a outras nações, com quem não tinha efetuado qualquer aliança, foi exclusivamente para os julgar pelos seus pecados (#Êx 7.5; #Ez 25.11,17; #Ez 28.22-24).

O que o Velho Testamento supõe da Sua revelação é que não a considera total, perfeita, mas apenas preparatória para algo de maior. Os profetas anteviam aquele dia em que Deus iria revelar-Se de maneira mais prodigiosa com o aparecimento do Messias, que iria reunir o povo disperso e estabelecer o Seu reino entre os novos habitantes desse reino. Os céus e a terra renovar-se-iam (#Is 45.17-25); seria transformada a religião de Israel; enfim, todas as nações veriam e compreenderiam a glória de Deus em Israel (#Is 40.1-4; #Ez 36.23). É o que dá a entender o fecho do Velho Testamento (#Ml 4).

b) O Novo Testamento

Os escritores do Novo Testamento estavam convencidos de que só em Cristo se encontrava o significado da história judaica e do Velho Testamento. Por outras palavras, que o desenrolar dos acontecimentos em Israel, desde o seu início e através de todos os tempos, bem como a composição do Velho Testamento foram orientados por Deus, tendo em vista a encarnação. As deduções desta doutrina levaram, naturalmente, à idéia teológica fundamental pela qual se entende a revelação. A idéia é esta: Deus, Criador Onipotente, que "faz todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade" (#Ef 1.11), previu a queda do gênero humano pelo pecado. Determinou, então, glorificar-Se através da Igreja; e, para isso, designou Seu Filho, que iria salvá-la, na qualidade de Ministro e Medianeiro de Deus. A história do mundo foi, e será sempre, nada mais nada menos que a execução do Plano divino, infalível sem dúvida, nos seus objetivos. Desde que o Filho de Deus apareceu para instaurar o Seu reino messiânico, foi enviado por Deus o Espírito Santo cuja missão no mundo era não só completar a revelação já começada na terra, em conformidade com os desígnios divinos, mas também, através da fé, conduzir o Seu povo à salvação prometida. A revelação do Plano de Deus era, pois, completada pelo Espírito, que o deu a conhecer aos apóstolos. Mas a plena execução só em Cristo se realizará com o Seu "aparecimento" (parousia), quando a Igreja obtiver a sua perfeição.

Esta é, a traços largos, a doutrina do Novo Testamento acerca da revelação. Embora mais explícita nas Epístolas Paulinas (cfr. #Rm 8.28-39; #Ef 1.3-14; etc.) e no Evangelho de S. João (cfr. #Jo 6.37-45; #Jo 10.14-18; #Jo 10.27-29; #Jo 16.7-15; 17), não é difícil notá-la mais ou menos em todos os livros, podendo ser reduzidos a três classes os principais textos que a eles aludem.

1. TEXTOS REFERENTES À PESSOA DE CRISTO-O Filho é a imagem do Pai (#2Co 4.4; #Cl 1.15; #Hb 1.3), sendo assim a perfeita revelação do Pai aos que têm olhos para ver (#Jo 1.18; #Jo 14.7-11). Toda a "plenitude" de Deus habita no Filho encarnado (#Cl 1.19; #Cl 2.9). Todos aqueles que compreendem o significado da vida e morte de Cristo, reconhecerão os desígnios ou "a sabedoria" de Deus relativos à salvação da Igreja (#Cl 2.2-3; #1Co 1.24; #1Co 2.7-10). Ninguém pode compreender a revelação sem uma luz espiritual vinda do alto (#Jo 3.3-12; #Jo 6.44-45; #Mt 16.17; #Gl 1.16).

2. TEXTOS REFERENTES AO PLANO DIVINO-O Plano divino para a salvação do Seu Povo escolhido, tanto judeu como gentio, era "o mistério", a divina "sabedoria", que Deus concebeu antes da criação, mas conservou oculta até ao tempo dos apóstolos. Só então veio a lume o verdadeiro significado da eleição e da história de Israel, e bem assim da revelação do Velho Testamento. A finalidade de Deus foi sempre, não a salvação de uma das muitas nações do mundo, mas a criação duma nova nação, cujos membros seriam recrutados de todas as outras, e passariam por um novo nascimento espiritual (cfr. #1Pe 2.9-10). Os regenerados seriam glorificados, tal como o seu Chefe ("as primícias" do novo povo, #1Co 15.20,23), de sorte que, ao chegar ao Céu no Seu corpo glorioso, fosse um penhor e uma garantia para os que um dia partilhassem com Ele dessa glória. Várias vezes Paulo alude à revelação deste mistério (#Ef 1.8-12; #Ef 3.3-11; #1Co 2.7-10; #Rm 16.25-26; #Rm 11.25-36; #2Tm 1.9-11). A fonte desta revelação é Deus; o Mediador, Cristo (#Gl 1.12; #Ap 1.1); o veio de transmissão, o Espírito Santo (#1Co 2.10-12; #2Co 3.15-18; #2Co 4.6; #Ef 3.5). Para que pudesse ser transmitido intato à Igreja, o Espírito inspirou as palavras do testemunho apostólico (#1Co 2.13), tal como inspirou as palavras de Cristo (#Jo 3.34; #Jo 12.48-50), de maneira a formarem um "corpo de doutrina" (typos; lit. "modelo" #Rm 6.17; #2Tm 1.13). Esta é, sem dúvida, a "sã doutrina" (#1Tm 1.10; 6.3; #2Tm 4.3; #Tt 1.9; #Tt 2.1), a "tradição" apostólica (#2Ts 2.15; #2Ts 3.6), a orientadora da fé e a vida das Igrejas.

3. TEXTOS REFERENTES À EXECUÇÃO DO PLANO DIVINO-Deus manifesta os Seus desígnios através de palavras e de ações; e cada uma destas ações, que marca um passo além no Seu Plano da história redentora pode chamar-se, apropriadamente, uma "revelação". O Novo Testamento conhece duas revelações deste gênero, que devem ainda realizar-se: a aparição do anticristo (#2Ts 2.3-8) e a parousia de Jesus (#1Co 1.7; #2Ts 1.7-10; #1Pe 1.7,13). Esta última encerra a história e precede o dia do Juízo Final. Cristo revelará, então, os eternos desígnios de Deus relativos aos impenitentes e aos santos, a manifestação da ira para aqueles e a glória para estes (#Rm 2.5-10; #Rm 8.18; #1Pe 1.5).

Tal é, em resumo, o material bíblico em que assenta a doutrina teológica da revelação.

c) A Revelação Original

A doutrina da revelação baseia-se no fato de Deus ter criado à Sua imagem e semelhança o homem, que O devia conhecer, amar, servir e glorificar. Para ser verdadeira, a religião do homem tem de ser baseada na revelação de Deus. Foi assim que Deus Se revelou a Adão, para que este vivesse em amizade com Ele. O primeiro conhecimento da Divindade, teve-o Adão através da restante criação, que acabava de sair do nada. O mundo que contemplava oferecia-lhe testemunho eloqüente do poder e da sabedoria do Criador. Não obstante a queda de Adão, (#Gn 3.18; #Rm 8.19-22), o Universo ainda proclamava a glória de Deus (#Sl 19; #Rm 1.19-20). E antes, como seria? Mais eficazmente, sem dúvida. Adão conheceu ainda Deus pelo conhecimento de si próprio, pois como mais nobre e mais perfeita criatura contribuía para revelar e proclamar mais alto a glória de Deus. A Providência divina deu-lhe ainda a conhecer a bondade do Criador. Se, apesar do caos que sobreveio ao mundo após o pecado, o decorrer dos acontecimentos ainda dá este testemunho (#At 14.17), o que não seria quando Adão só conhecia o paraíso, os animais que Deus lhe dera para dominar, e a esposa que criara para ele! (#Gn 2.18-24). Finalmente o testemunho das obras de Deus foi suplantado pela revelação verbal, quando necessária (embora não saibamos como transmitida) (#Gn 2.16-17).

Talvez não compreendamos devidamente esta doutrina. O conhecimento que Adão tinha de Deus no Éden, antes da queda, está tão fora da nossa compreensão, como o conhecimento de Deus que a Igreja gozará nos Céus depois da Ressurreição. Mas as características permanentes da auto-revelação divina merecem ainda mais algumas considerações:

1. A FINALIDADE DA REVELAÇÃO-Deus deu-Se a conhecer ao homem, a fim de que este atingisse o objetivo para que foi criado: para O conhecer, amar e adorar. O Criador é transcendente e inacessível às Suas criaturas, até ao momento que Se revele a elas; e o conhecimento que o homem tem de Deus é correlativo e conseqüente à primeira auto-revelação divina. Adão no Paraíso necessitava da revelação para viver em amizade com Deus.

2. OS MEIOS DA REVELAÇÃO-Revelação é a manifestação pessoal de Deus às Suas criaturas racionais. A afinidade que ela inicia é comparada, na Escritura, à do marido com a mulher, do pai com o filho, do amigo com amigo (cfr. #Jr 3; #Os 11.1; #Is 41.8; #Mt 7.11; #Jo 15.15; #Ef 5.25-27). Tal afinidade ou parentesco não poderia ser criado sem que Deus Se dirigisse pessoalmente ao homem. É Deus quem deve abrir-Se, quem deve falar. Agir sem uma explicação não é meio normal para se dar a conhecer. Adão não podia limitar-se em ver Deus apenas nas Suas obras; necessitava de O ouvir, de receber a Sua revelação verbal.

Certamente, revelação é mais do que uma simples informação comunicativa, tal como a fé é algo mais que o mero conhecimento das verdades. Nas revelações humanas as atitudes pessoais não podem, por natureza, exprimir-se duma forma verbal. Pode indicar-se a sua existência, definir-se-lhe a natureza, por meio da palavra, mas só através da ação, podem-se exprimir e manifestar devidamente. Por isso, quando Deus revela o Seu amor pela humanidade, o significado profundo contido nas palavras que pronuncia só será compreendido à medida que forem conhecidas as ações divinas. A atitude pessoal de Deus para com o homem requer, portanto, palavras e obras em matéria de revelação. O que importa, é frisar que dificilmente se pode admitir a revelação sem palavras.

3. A EFICÁCIA DA REVELAÇÃO-Que insondável mistério este, o de um Deus infinito dar a conhecer os Seus pensamentos ao homem, criatura mortal e finita! Não se imagine, todavia, que, de forma alguma, Deus é impedido na Sua ação reveladora por qualquer obstáculo humano. É certo, porém, que o conhecimento que o homem teve e tem acerca de Deus é imperfeitíssimo e, em muitos casos, não se adapta convenientemente ao seu objeto. Mas Deus, Criador da inteligência humana, preparou-a de maneira a poder compreendê-Lo perfeitamente no caso de lhe fazer qualquer revelação, sobretudo no que respeita à religião. Adão podia assim compreender Deus, quando Este Se dignasse revelar-Se-lhe. É assim que, ao manifestar-Se ao homem pecaminoso, Deus concede-lhe a faculdade de reconhecer a Sua Palavra e de a receber tal como é. Ao ato de confiança que resulta do exercício desta faculdade, dá a Escritura o nome de fé. Em #Hb 11.3 é a própria faculdade que assim é denominada. Pode-se, pois, afirmar que Adão no Paraíso tinha fé, e que quando o Espírito concede a faculdade da fé àqueles a quem Deus pretende dar-Se a conhecer, isto nada mais é que a restauração daquilo que o homem perdeu com a queda. Após a queda, o homem arriscou o seu estado primitivo e corrompeu a sua natureza. Deus adaptou-Se, por isso, à nova situação, integrando-o no processo redentor que logo iniciou, de maneira a remediar os efeitos do pecado. Mas os três aspectos da revelação, que notamos, ficaram e ficam constantes e firmes.

d) Deus revelou-se como Redentor Por causa do pecado o homem perdeu a possibilidade de apreender e compreender o testemunho que a criação dava de Deus. O significado e a mensagem do livro permaneceram os mesmos, mas ele é que não sabia lê-lo. E os Céus proclamavam a glória de Deus a ouvidos surdos. "Não se importaram de ter conhecimento de Deus" (#Rm 1.28). O homem deixou de amar e servir naturalmente o Criador, "porque a inclinação da carne é inimizade contra Deus" (#Rm 8.7). Apenas no coração lhe ficou uma ligeira idéia de Deus, isto é, uma noção de que havia algo ou alguém superior a ele, merecedor de que se lhe preste o devido culto; mas o homem não se dignou atribuí-lo ao seu criador. Sob a influência da descrença agora, contrariamente à Escritura que a condena, reina a cegueira e negação absoluta do verdadeiro Deus (cfr. #Rm 1.21-32; #Ef 2.2,3; #Ef 4.17-19).

Nestas condições é clara a insuficiência da auto-revelação na criação e da Providência de Deus. Mas Deus ainda Se manifesta nas Suas obras (#Rm 1.19-20), embora os homens fechem os olhos "detendo a verdade em injustiça" (#Rm 1.18). Ora, a continuação da revelação original não leva ao conhecimento de Deus e apenas serve para não se poder desculpar a ignorância do mundo. Supondo mesmo que o homem conseguisse ler bem "o livro das criaturas", essa leitura só e levaria ao desespero. Porque esta chamada revelação geral traz o conhecimento dum Deus que não admite mas castiga a desobediência e a ingratidão do homem (#Rm 1.18). Odiando, todavia, o pecado, Deus ama o pecador. Só o sabemos através duma revelação especial,  cujo centro é ocupado pela figura de Jesus.

Desde a queda que o Criador se deu a conhecer como Redentor, a surgir numa determinada época da história humana, mas sempre envolto naquilo que os apóstolos consideravam um "mistério". Todo o plano girava em torno da missão terrena do Filho encarnado. Em Cristo, apenas, se cumpriram todos os símbolos, figuras e representações a que aludem as profecias das Escrituras do povo de Israel (cfr. #Mt 5.17; #Lc 24.27; #Jo 5.39; #At 13.26-33; #Hb 7.10). É nesta missão que se baseia toda a atividade redentora de Cristo. Quando subiu ao Céu, por exemplo, o Senhor entrou na posse do Seu ministério celestial, de onde passou a conceder aos crentes, através do Espírito, as graças que prometera nesta terra, embora esse ministério só tenha o seu epílogo quando da segunda vinda de Mestre. Os desígnios de Deus a respeito da redenção, bem como a Sua plena e definitiva manifestação, só serão revelados quando a Igreja atingir a plenitude de perfeição, que lhe permitirá manifestar a glória de Deus (#Ap 21.11), e aparecer com o seu Salvador glorificado (#Ap 21; 22.5). Entretanto, continuará a manifestar-se a graça de Deus. A nova criação, por isso, tanto ou mais que a antiga, e a graça especial, tanto ou mais que a providência comum, são motivo de revelação, a manifestar mais uma vez a glória de Deus.

e) A revelação verbal

No âmbito da Redenção que abrange a salvação da Igreja, a revelação verbal tem um lugar primordial. Antes de nada mais, era um elemento importante na série de atos pelos quais a Redenção foi operada. Sem a revelação verbal nunca Abraão teria entrado em Canaã, nem Moisés conduzido Israel do Egito, e ainda a vida de Jesus teria corrido risco logo nos primeiros anos da Sua infância (cfr. #Gn 12.1-5; #Êx 3.6-13; #Mt 2.13-15). Em seguida, a revelação verbal foi sempre necessária como fundamento da fé. Neste aspecto salienta-se tal importância, sobretudo quando se analisa o significado soteriológico da fé. Como atividade, a fé não é só o instrumento que une o pecador a Cristo, mas, como faculdade, é o órgão daquele conhecimento e daquela amizade com Deus, outrora perdida, que pode, no entanto, reaver-se através da Redenção.

Ora, o objeto que movimenta esta faculdade é a Palavra de Deus como tal (cfr. #1Ts 2.13). A fé "ouve a Sua voz" e responde à Sua Palavra de promessa confiada e obedientemente. Sem uma palavra proferida por Deus, a fé não pode subsistir (#Rm 10.17). O motivo é evidente. Sem uma palavra de explicação, a obra redentora de Deus não seria facilmente reconhecida. Como vimos, sem se pronunciar, as intenções do Criador não poderão ser compreendidas pela criatura. O caso da encarnação dá a entender que a mais compreensiva das revelações divinas é a de mais difícil compreensão por parte do homem. Cristo, a Palavra de Deus em pessoa, realizou totalmente os desígnios redentores do Pai. Em Cristo, Deus manifestou-se claramente na Sua obra redentora, e por isso mesmo, o caso de Cristo transcende em absoluto o poder de interpretação do homem. "Não é de crer", escreve B. B. Warfield, "que a suprema revelação de Deus em Jesus Cristo fosse conhecida e compreendida, sem uma preparação, e esta sem ser acompanhada de revelações explicativas por palavras". Ainda não é tudo. Como poderíamos, sem ninguém no-lo dizer, acreditar numa verdade misteriosa e quase absurda, qual é a de Jesus-Deus encarnado, que veio a este mundo morrer numa cruz para resgatar o homem do pecado? Para crermos, outorgou Deus uma explicação verbal desse caso miraculoso do Homem-Deus, que vem a ser o evangelho, ou o kerygma dos apóstolos, a anunciar o dom de Deus da Palavra viva e das promessas de vida eterna aos que O receberem. Assim, parece que a revelação verbal relativa à ação redentora de Deus na história não é um mero apêndice a essa ação, mas parte integrante da mesma, como elo da cadeia de acontecimentos a que dizem respeito aquelas revelações. Se bem que o programa da redenção implique a salvação do homem, isso não basta. É necessário que os pecadores voltem à fé e ao conhecimento de Deus através do Evangelho, cujas promessas se mantêm idênticas em toda a história da redenção, desde Adão e Abraão até aos nossos dias, isto é, uma aliança em que Deus se prontifica a ser o Deus do Seu povo, Deus protetor e justo Juiz, não somente neste mundo mas também no outro, em especial para premiar os que n’Ele crêem e esperam. A fé salvadora tem sido a mesma, desde Abel até hoje (#Hb 11.4). Quanto ao seu conteúdo, porém, a promessa vai-se tornando cada vez maior. É que, adentro do plano dessa aliança, Deus vai revelando novas bênçãos particulares, já incluídas nesse plano, e o fundamento objetivo em que se baseia, que é a Sua obra redentora. É um processo que Deus vai utilizando sem cessar através dos séculos. Trata-se dum progresso, não no sentido de que cada nova revelação venha considerar a anterior como antiquada ou descabida, mas no sentido de que Deus vai ampliando aquilo que já ensinara, explicando aquilo que pretende fazer, até se aperfeiçoar o modelo da verdade que tem a sua plenitude em Cristo. Foi assim que, na devida altura enviou o Seu Filho para executar a Obra da Redenção, coroando em seguida o plano da revelação com o Evangelho. Em princípio, esse plano esteve sempre intimamente ligado ao plano de Deus acerca da história da Redenção. A cumular esse plano, a figura do Homem-Deus, Jesus Cristo.

A revelação verbal manifestou-se de múltiplas maneiras. Por vezes, casos anormais, como visões, sonhos, e a inspiração profética, que podia ir desde as mais prolongadas meditações aos arrebatamentos do êxtase. Noutros casos Deus servia-Se apenas do Seu divino concurso,  isto é, cooperando no exercício dos dotes naturais, e assim levando-os ao conhecimento da verdade através dos processos normais do pensamento: a investigação histórica, a exegese das Escrituras Canônicas, a meditação e a oração, o raciocínio lógico e teológico. Os livros históricos e da Sabedoria do Velho Testamento, bem como todo o Novo Testamento, exceto o Apocalipse, parece que supõem uma revelação deste gênero. Limitações do espaço não nos permitem tratar mais pormenorizadamente os diversos modos de revelação mas é importante notar antes de prosseguirmos que na Escritura não há indicação de diferença da integridade e pureza da revelação obtida por aqueles processos. Embora pareçam limitados em si mesmos, todos os órgãos de revelação são, na mão de Deus, um instrumento eficaz para o Seu desígnio.

f) A revelação bíblica

Deus quis deixar escrito aquilo que revelou. Mas o livro que escolheu para tal fim não contém todas as revelações verbais (cfr., por exemplo, a referência em #2Cr 9.29 aos livros proféticos que desapareceram), mas apenas as que se relacionavam com a finalidade do livro, que era não somente apresentar um fundamento para a fé pessoal e um guia para o crente, mas também permitir à Igreja que o compreendesse, que interpretasse a sua história, que reformasse e purificasse continuamente a sua vida e repelisse todos os assaltos, -quer lhe venham de dentro, pelo pecado e pela heresia, -quer de fora, pela perseguição e pelas ideologias rivais. Todos os problemas que a Igreja enfrentou, ou virá ainda a enfrentar, têm em princípio a sua resolução nas Escrituras. É porque a Bíblia, apesar de ser um livro humano, que fala de pecado e do erro e em muitos lugares da fraqueza dos seus autores, não deixa de ser, acima de tudo, uma obra divina, cujo autor primário é Deus.

Como prová-lo? Primeiramente pelo testemunho de Cristo e em seguida pelo testemunho de Espírito; sendo o primeiro uma prova externa, enquanto o segundo poderemos considerá-lo como uma prova interna. Examinemo-los:

1. O TESTEMUNHO DE CRISTO-Em primeiro lugar a autoridade de Cristo considera o Velho Testamento como inspirado por Deus. Trata-se dum testemunho firme e categórico, pois para Cristo a "Escritura" é uma unidade (cfr. #Jo 10.35), cuja autoridade, permanente e absoluta, supõe uma origem divina (cfr. #Mt 5.17-20; #Lc 16.17; #Mt 19.4-6). Os argumentos da Escritura são duma força extraordinária (#Mt 22.32,41 e segs.; #Jo 10.34,35). Quem não se apercebe da ênfase com que Cristo pronunciou aquele "está escrito"? Por isso todo o Seu ministério foi um testemunho contínuo a confirmar a autoridade divina do Velho Testamento, pregando e morrendo em obediência ao que estava escrito (cfr. #Mt 8.16,17; #Mt 26.24,54; #Lc 4.18-21; #Lc 18.31-33; #Lc 22.37). O Mestre, a quem a Igreja se submete, em tudo Se sujeitou à Palavra do Pai expressa no Velho Testamento. São os apóstolos os primeiros a confirmar tal testemunho (cfr. #2Tm 3.16; #2Pe 1.20-21; #Rm 3.2). Outros textos referem-se a palavras proferidas por Deus ou pelo Espírito Santo (cfr. #Mt 19.4,5; #At 4.25,26; #At 13.34-35; #Hb 1.6; #Hb 3.7).

Em segundo lugar a autoridade de Cristo supõe que o Novo Testamento tem o mesmo caráter do Velho. Jesus ensinou os discípulos a ler o Velho Testamento "cristologicamente", isto é, a considerá-lo como uma revelação profética de acontecimentos relativos a Si próprio (#Lc 24.24,25,44-45; #Jo 5.39,46). Os apóstolos assim procederam (cfr. #At 3.18,24; #1Pe 1.10-12), admitindo-o como se fosse escrito em primeiro lugar para beneficio dos crentes (cfr. #Rm 4.23,24; #Rm 15.4; #1Co 9.10; #1Co 10.11; #2Tm 3.16), ainda que só o poderiam vir a compreender os que o lessem à luz de Cristo (#2Co 3.14-16).

Ora, visto que Deus escrevera as Suas revelações proféticas para que pudessem ser continuamente acessíveis e duma forma inviolável para benefício, não só de Israel, mas também da Igreja Universal, preparou-as com tal sabedoria, que nada mais se poderia esperar senão o Novo Testamento para as cumprir. Há, no entanto, algumas considerações a fazer a este respeito. Em primeiro lugar, Cristo prometeu o Espírito aos apóstolos para que recordassem e compreendessem aquilo que já lhes ensinara (#Jo 14.25,26), e bem assim recebessem novas revelações, que Lhe diziam respeito, mas que eles ainda não podiam "suportar" (#Jo 16.12-14). Assim preparados, poderiam ser legítimos intérpretes do Mestre junto da Igreja, em todos os tempos e em todas as partes do mundo (#Jo 17.20; #Mt 28.19). Qual teria sido, pois, a intenção de Cristo, senão a de lhes impor a obrigação de deixarem por escrito esse testemunho que iriam perpetuar? Em segundo lugar, os apóstolos afirmam que, sob o impulso do Espírito Santo, ensinam e escrevem a verdade pura. É a inspiração verbal (#1Co 2.13), que só quem é "espiritual" pode compreender em toda a sua extensão e profundidade (#1Co 14.37; G1 1.8; #2Ts 3.6,14). O que não se pode negar é que os apóstolos exigiam para as suas obras uma autoridade tão categórica, como a que atribuíam ao Velho Testamento. Em terceiro lugar, veja-se como Paulo cita Deuteronômio juntamente com Lucas, e como Pedro se refere às epístolas paulinas, como parte integrante do Cânon das Escrituras (#1Tm 5.18; #2Pe 3.16). Finalmente, diversos séculos de exegese cristã demonstraram que, sob o ponto de vista teológico, os dois Testamentos formam uma unidade orgânica, que se completam mutuamente num harmonioso testemunho a Cristo.

Concluindo, seja-nos lícito afirmar que, à luz da intenção evidente de Cristo de escreverem os apóstolos os seus testemunhos, a autoridade que eles para si e para os outros reclamam, levam-nos, sem dúvida a admitir, que o Novo Testamento veio completar o Velho.

2. O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO-Se é pelo uso da faculdade da fé que distinguimos a Palavra de Deus por aquilo que ela é, deve ser também a fé que vê a natureza real daquilo que contempla. Assim o interpretou a Igreja através dos tempos. Já que é o Espírito que infunde a fé, operando no íntimo dos crentes, a presença desta convicção é o que se chama o testemunho do Espírito.

A Bíblia é, pois, a Palavra de Deus revelada aos homens, enquanto nessas páginas Deus manifesta as Suas intenções relativas aos planos que traçou para salvação do Seu Povo. Chamar à Bíblia uma narrativa ou um testemunho é pouco, porque é muito mais. É uma narrativa, sim, não só daquilo que Deus disse, mas também daquilo que Deus ainda diz presentemente. É um elo na cadeia da ação redentora de Deus. O seu conteúdo, lido ou ouvido, é o meio pelo qual os pecadores chegam ao conhecimento do Pai e do Filho, baseados no ministério histórico de Cristo, que ele lembra e explica, e através da ação regeneradora do Espírito, que opera com a Palavra. Não é, todavia, a Palavra de Deus, no sentido em que cada frase separada, incluindo as palavras proferidas pelos perversos, exprime a intenção de Deus ou reflita a Sua divina vontade. A Bíblia é a "Palavra de Deus Escrita", mas considerada no seu todo, ou, com mais precisão, a teologia da Bíblia é uma unidade orgânica, que os nossos antepassados tão sugestivamente denominaram "corpo da divindade". Aqui se encontra a imagem da mente Divina, a transcrição dos Seus pensamentos, a declaração da Sua graça, a personificação verbal de todos os tesouros de ciência e sabedoria ocultos no Seu divino Filho. Aqui assenta toda a nossa fé.

II. A INSPIRAÇÃO

a) O significado da inspiração

A palavra inspiração, não sendo bíblica, significa, normalmente, uma influência sobrenatural do Espírito de Deus sobre os autores bíblicos, garantindo que, aquilo que escreveram era precisamente o que Deus pretendia que eles escrevessem para a transmissão da verdade divina, podendo, por isso, dizer-se realmente "inspirados" ou theopneustos,  literalmente, "soprados por Deus" (#2Tm 3.16). Como já não é novo para nós este assunto, limitar-nos-emos agora a corrigir alguns equívocos.

A "inspiração" que garante a comunicação infalível da verdade revelada é bem distinta da "inspiração" do artista criador. Nada de confusões. A inspiração não só não implica estado anormal do espírito do escritor, -por exemplo, visões ou audição de vozes estranhas, -como não supõe, também, a aniquilação da sua personalidade. Deus providencialmente preparou os meios humanos de inspiração para que os escritores pudessem cumprir a sua tarefa; e, na maior parte dos casos, apenas através das faculdades normais. Muitos estados de espírito são na realidade compatíveis com a inspiração. Não é necessário supor-se que os autores tinham sempre a consciência de que estavam a ser inspirados, quer dizer, que sabiam estar a escrever as Escrituras Canônicas. Nem há razão para afirmar-se que um documento inspirado não possa, na providência divina, ter sido compilado ou extraído de fontes por um processo vulgar de composição histórica, passando por várias edições até atingir a sua forma definitiva. O que deve admitir-se é que no fim de contas a obra foi theopneustos,  e que através dela Deus quis comunicar aos homens a Sua graça salvadora. Sendo assim, só podemos admitir a inspiração verbal. E se as palavras da Escritura são inspiradas por Deus, é quase uma blasfêmia não admitir a infalibilidade da sua doutrina, e a ausência de erro nessas palavras. São prerrogativas que não podemos aprovar, ou desaprovar, através da argumentação vulgar; porque as consideramos artigos de fé, baseadas que são na doutrina de Cristo e no testemunho do Espírito a confirmarem que as Escrituras Canônicas foram inspiradas por um Deus que não pode mentir. Quem as nega rejeita o testemunho de Cristo, dos apóstolos e da própria Igreja Cristã relativo à natureza da "Palavra de Deus" escrita, e com certeza não possui nem compreende o testemunho interno do Espírito Santo.

b) O problema da inspiração

Nenhuma doutrina cristã está isenta de problemas, e isto porque Deus quis que a Sua verdade fosse um objeto de fé. Ora, o fundamento da fé é o testemunho e a autoridade do próprio Deus; donde se segue que são coisas distintas o acreditar numa autoridade e o acreditar em face duma demonstração racional. O pecado original do homem foi um desejo de evidenciar a sua sabedoria auto-suficiente, uma vontade de não admitir qualquer autoridade externa, capaz de agir por si própria (cfr. #Gn 3.5,6); e Deus deliberadamente apresenta a verdade salvadora aos pecadores e de tal forma que, ao aceitá-la, supõe-se um ato de arrependimento intelectual de sujeição à doutrina de Deus. Daí a renúncia à própria sabedoria (cfr. #Rm 1.22; #1Co 1.19-25) a fim de que só possa sobressair aquela outra sabedoria, que é apanágio dos que ouvem a Palavra do Senhor. Para ser mais completa essa renúncia, Deus determinou, ou melhor, garantiu, que nem um só artigo de fé pudesse ser demonstrado, tal como qualquer teorema geométrico. O homem deve contentar-se com o conhecimento que adquire pela fé, conhecimento esse que, no fim de contas, jamais poderá atingir a perfeição neste mundo. Não conseguiremos, pois, eximir de dificuldades a doutrina da Inspiração Bíblica, tal como sucede com a doutrina da Trindade ou da Encarnação. Nem esperemos neste mundo resolver todos os problemas. Não é de admirar, portanto, que muitos cristãos caiam na heresia, a respeito desta ou doutras doutrinas. Convém, no entanto, indicar qual a atitude a tomar perante os erros que se nos apresentem.

Em primeiro lugar, esta doutrina não raro é amesquinhada por aqueles que dizem professá-la, e afirmam que a Bíblia é produto da inspiração em certo sentido, mas nunca inspiração verbal. Deus inspirou ou revelou a verdade aos escritores, que sendo criaturas falíveis e pecaminosas, poderiam falsificá-la. Por isso, é possível admitirmos erros nas Escrituras. Mas não foi assim, como vimos, o pensar de Cristo e dos apóstolos. É errado o pensamento de que nem todos os livros da Bíblia estão ao mesmo nível de profundidade espiritual e finalidade de doutrina; mas, na Sua providência soberana, podia Deus preparar e dirigir os instrumentos humanos apenas para escreverem precisamente aquilo que entendesse, nem mais nem menos. Por outras palavras, segundo esta teoria, a Bíblia não é aquilo que Deus pretendia, nem aquilo que Cristo pensava e ensinava. É evidente que tal teoria é inadmissível.

Em segundo lugar, rejeita-se por vezes a nossa doutrina, recorrendo-se a pretensos argumentos internos da Bíblia. Tais objeções, todavia, supõem fundamentalmente uma idéia humana a priori daquilo que provavelmente será a Bíblia inspirada. E, só o fato de as apresentar como argumentos válidos para duvidar do que Deus afirma desse livro, é já um sinal de impenitência intelectual, inconsciente talvez, mas não menos real por isso. O melhor é, na realidade, começar por aceitar o testemunho de Deus sobre a inspiração verbal, e só depois examinar os argumentos internos da Escritura para se chegar à conclusão da probabilidade da inspiração verbal. Por mais rigoroso e profundo que seja o exame, verificar-se-á que a inspiração se adapta perfeitamente a todas as formas do pensamento, a todos os métodos literários, a todas as figuras estilísticas e a todas as características vocabulares dos escritores. Estes são os canais condutores da verdade inspirada. Desconhecê-los, pode ser um perigo, pois é possível não se conhecer a intenção de Deus, e nesse caso descobrir erros onde na realidade não existem. Ao estudar-se a Bíblia, deve seguir-se o princípio, baseado na fé, de que a Escritura, em parte alguma é capaz de adulterar a verdade, sendo inspirada para no-la transmitir, e de que todos os acontecimentos bíblicos têm um significado que só a Igreja pode conhecer perfeitamente. Neste caso, é conveniente apreciar o texto a analisar à luz do contexto bíblico da Escritura, considerada no seu todo. Trata-se dum princípio de importância fundamental para a interpretação bíblica, que nunca se deve perder de vista, mesmo no meio das dificuldades que possam surgir a este respeito. Vamos citar aqui um exemplo apenas.

Várias vezes se diz que certas atitudes, ações e reflexões teológicas são uma refutação da doutrina duma Escritura inspirada. É uma objeção que só revela incompreensão da natureza da Bíblia. Já frisamos que a Bíblia é mais do que um simples amontoado de textos separados; é um organismo, um conjunto homogêneo, cujas partes não se podem explicar isoladamente. Ora, Deus recolheu diferentes materiais para a Sua obra; por isso não admira, que muitos dos exemplos apontados sejam maus. É que tudo serve para nossa instrução, embora tais exemplos possam ser interpretados de diferentes modos. Fala-se em erros teológicos e práticos, supondo-se que pelo fato de aparecerem na Bíblia têm a aprovação de Deus. Os princípios da teologia bíblica devem interpretar os fatos da história e da biografia bíblicas, uma vez que estes também explicam aquela. A Escritura interpreta-se com o auxílio da mesma Escritura. Já se disse que a Bíblia constitui uma unidade orgânica, que a Palavra de Deus é um todo, e que cada texto deve ser compreendido à luz da verdade que se encontra em Jesus.

Impossível aqui apresentar mais argumentos a favor da nossa tese. Limitar-nos-emos a afirmar, em conclusão, que a atitude da fé para com a doutrina da inspiração bíblica, bem como para com outras doutrinas, é a de aceitar única e simplesmente o testemunho de Deus. Nada, por isso, poderá abalar a nossa fé, já que nada pode abalar o testemunho em que se apóia. Quando tiver de enfrentar as dificuldades e as objeções, que implicam com a sua fé, o crente deve lembrar-se mais da sua possibilidade de falhar do que da infalibilidade do testemunho de Deus, ao apresentar-nos a verdade. Recorra-se, nesse caso, a uma cuidadosa retrospecção à luz dum estudo mais profundo e mais eficaz da evidência bíblica. Foi assim que se fizeram progressos doutrinários através da história da Igreja. Será assim que também nos nossos dias se conseguirá uma compreensão mais fiel e mais perfeita da doutrina da inspiração da Bíblia, aceitando-a como a Palavra de Deus, isenta de erro e infalível.


J. I. PACKER