SALMO 71
Este Salmo não tem título, ainda que a Septuaginta o atribua a
"Davi", aos fi1hos de Jonadabe, e àqueles que primeiramente foram
levados cativos, o que parece ligá-lo com os primeiros anos do exílio (cfr. Jr
35). Trata-se da oração de um homem idoso (9,19), e existe certa doçura e
serenidade nela que é a característica de uma longa vida passada na dependência
de Deus (cfr. 5,17). Porém, não há indicação sobre a autoria, excetuando a
familiaridade do escritor com muitos outros salmos, especialmente os Sl 22
(cfr. vers. 5-6); Sl 31 (cfr. vers. 1-3): e Sl 35 (cfr. vers. 13-14,19).
Há um distinto paralelo entre os vers. 1-9 e os vers. 10-18. O restante
do Salmo tem uma estrutura diferente, mas também se divide em dois grupos
correspondentes à seção anterior.
a) Comunhão íntima com Deus (1-9)
A calma dignidade e a confiança desses versículos são inequívocas. O
apelo solicitando a ajuda divina é introduzido numa frase cheia de gentileza
(2) bem diferente dos gritos imperativos e impetuosos dos Sl 22; 35; 54; 69; 70
e está entrelaçado com a apreciação do fato que Deus sempre o tem salvaguardado
(3). A característica principal desta seção é o espírito de adoração para com o
Senhor: cada um dos primeiros oito versículos fala sobre Ele em tons de fé e
gratidão.
Em ti, Senhor (1); tua justiça (2); tu és a minha rocha (3); meu Deus
(4); tu és a minha esperança (5); tu és aquele (6); tu és o meu refúgio forte
(7); teu louvor... tua glória (8). A passagem inteira prepara o caminho para a
petição pessoal do vers. 9. Sou como um prodígio para muitos (7). Ou por causa
de sua confiança em Deus por toda a vida, o que não o livrara do perigo e da
opressão, ou por causa de suas marcantes experiências de livramento anterior do
perigo.
Sl-71.10
b) Resolução, a despeito da angústia (10-18)
Estes versículos são, realmente, outra versão da oração anterior, ainda
que tenham uma perspectiva mais lata e mais adiantada. O escritor volta-se para
considerar seus inimigos (10), bem como aqueles que formam a próxima geração
(18); é desejado o julgamento (13); a esperança é uma inspiração (14); o louvor
é previsto (15-16); e o trabalho é antecipado (18). Contraste-se o ponto de
vista para o passado, do vers. 6. Seus inimigos acreditam que o Senhor o
abandonara e estão prestes a atacá-lo (11). Eis o motivo por que a oração dos
vers. 2 e 3 é urgentemente repetida nas palavras: Ó Deus, não te alongues de
mim (12). A confissão anterior de esperança é reiterada no vers. 14. A
antecipação de louvor incessante, a respeito da glória de Deus (8) é agora
reforçada por uma vida inteira de divina tutela (17). Finalmente, o lamentoso
grito do vers. 9 é transformado no vers. 18; a possibilidade anterior das suas
forças falharem se torna indefinidamente adiada, até que o trabalho de uma vida
inteira seja realizado.
Os versículos restantes deste Salmo devem ser distinguidos dos
anteriores: neles não há qualquer referência direta à juventude e à velhice, à
perseguição, ou à necessidade de livramento imediato.
Sl-71.19
c) Esperança em Deus (19-21)
O sentimento destes versículos é comparável ao dos vers. 1-10. Não
apenas existe uma bem real consciência dos atos anteriores da compaixão de Deus
(19-20; notar o uso repetido do termo também), mas também há certo parentesco
de pensamento. Por exemplo, foi a grandeza da santidade de Deus (19) que
provocou a oração, inclina os teus ouvidos (2). Novamente, a noção de
renascimento, desde os abismos da terra (20), isto é, livramento das portas da
morte, é uma extensão do pensamento sobre o nascimento físico (6; cfr. Sl
139.15): ambas as coisas são consideradas como obras de Deus. Além disso, a
grandeza do salmista, que ele ora seja aumentada (21) é, primariamente, a rica
qualidade de seus anos maduros (cfr. vers. 9). Num sentido secundário, talvez
também signifique o prestigio nacional; como texto alternativo, o vers. 20
emprega o pronome plural, ou seja, "nos tens feito ver", "nos
darás" e "nos tirarás". Suas palavras, de novo me consolarás,
podem ser consideradas como uma variação do vers. 9, ainda que talvez também
tenha uma interpretação adicional, como se fosse uma oração nacional
(respondida em #Is 40.1).
>Sl-71.22
d) Louvor e adoração (22-24)
Nesta última porção a ênfase recai sobre o futuro, como nos vers. 14-18
(o pronome "eu" é destacado tanto no vers. 14 como no vers. 22).
Porém, em lugar de inimigos e conspirações, temos os instrumentos de louvor, o
saltério e a harpa. Ele confia na resposta à oração expressa no vers. 12, e,
portanto, exalta a verdade (isto é, a fidelidade) de seu Deus (22).
Anteriormente ele tinha olhado esperançosamente a oportunidade de declarar a
tua salvação todo o dia (15); mas agora ele segura-se na certeza de poder assim
fazer, pois a redenção de sua alma é motivo bastante para falar todo o dia
(24). Finalmente, o espírito de adoração é realçado pelo título ó Santo de
Israel (22; no saltério somente encontrado também em #Sl 78.41 e #Sl 89.18),
pois a santidade de Deus, acima de todas as coisas, é que serve de inspiração
para este regozijante louvor (cfr. #Jo 15.9-11).
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