SALMO 6
A primeira parte do título (Sl 4) refere-se ao regente dos instrumentos
de corda. A outra frase, sobre Seminite,
que significa "em tom de oitava" (cfr. #1Cr 15.21), refere-se
provavelmente a uma marcação que era uma oitava inferior à usual. Moffatt
traduz: "harpas reguladas para vozes baixas".
A ansiedade e a tristeza reduziram Davi à paralisia do desespero próprio
em que o seu único remédio é uma confiança implícita na misericórdia de Deus. A
ocasião pode ter coincidido com #2Sm 15.1-6. O poema divide-se em quatro
partes.
a) O caráter angustioso da situação (1-3)
A repetição e o paralelismo do verso 1 cria um sentimento de tristeza e
de tensão. Em primeiro lugar, há um conflito entre o ideal e o real. A
acentuação sobre a ira da repreensão de Deus e o desprazer aflitivo do Seu
castigo implicam numa tensão na mente de Davi que resultava da sua ignorância
da causa da ira divina.
Em segundo lugar, o sofrimento de Davi não só é psicológico (porque sou
fraco, "debilitado" -SBB) mas também físico (os meus ossos estão
perturbados); isto é, a sua vida está franzida pela aridez e frialdade das
circunstâncias em que se encontra e também por causa da aparente não
intervenção de Deus. Isto dá motivo ao escárnio dos seus inimigos e enche a sua
mente das sombras incertas da dúvida. Todavia, ele crê que Deus pode curar o
seu corpo em desequilíbrio e que está atormentado pela doença.
Em terceiro lugar, a angústia da sua alma (3) é maior do que qualquer
outra coisa. Ele sente-se apanhado entre a intensidade da sua tribulação e a
incerteza das suas causas e da sua duração. Senhor, até quando? (3) Não se
trata de uma pergunta petulante a respeito dos propósitos de Deus mas uma
expressão pungente do seu coração em agonia. Cfr. #Jó 7.3-6; #Jó 16.9-16.
>Sl-6.4
b) A petição (4-5)
O fundamento dos seus rogos a Deus move-se agora da experiência pessoal
e da necessidade humana para assuntos não temporais e para o caráter divino.
Volta-te (4) pode ter o significado de "repete", isto é, livra-me
como o tens feito em emergências anteriores (do que o verso 8 pode ser um
reflexo). Por tua benignidade (4). A súplica por salvação baseia-se no caráter
de Deus essencialmente compassivo. Cfr. #Êx 34.6.
>Sl-6.5
O verso 5 introduz uma razão para fortalecer os rogos pela salvação. Se
Davi vivesse, poderia recordar Deus com ações de graças. Mas no sepulcro
("Seol", que significa o lugar dos mortos) ele não poderia fazê-lo.
Cfr. #Sl 30.9; #Sl 88.10; #Is 38.18. O uso, aqui feito, de um argumento baseado
no que se situa fora da existência terrena, é a contrapartida do argumento
inicial (1) fundamentado na crença de que o julgamento espiritual se expressava
em termos de prosperidade ou miséria pessoal. Ambas eram suposições erradas,
mas não invalidam de forma alguma o apelo fundamental à misericórdia de Deus.
>Sl-6.6
c) As circunstâncias da aflição (6-7)
Há aqui um regresso, numa forma diferente, ao modo como se apresentam os
primeiros versos. A lamentação diária é expressada na imagem de lágrimas intermináveis
e do cansaço dos olhos encovados. De um lado, manifesta-se o seu próprio
sofrimento (6) e do outro, pensamentos vexatórios acerca daqueles que o odeiam
(7). Tudo isto lhe rouba o sono e fá-lo parecer prematuramente velho.
>Sl-6.8
d) A visão de fé (8-10)
Estes versos interpretam-se melhor como uma experiência antecipada
daquilo que é mais desejado. Pode apresentar-se colorido pela recordação de
ocasiões anteriores, mas, primariamente, trata-se de um sentimento intuitivo de
um cumprimento que é ainda futuro. O verso 10 é uma expectação, daquele
cumprimento, mais sóbria mas igualmente confiante; aqueles que se lhe opõem
serão transtornados pela contradição óbvia do que esperam. Em lugar da
perturbação da sua própria alma (3) eles é que se perturbarão. A intervenção de
Deus, em resposta aos seus rogos (2-5), inverterá todos os seus valores e
lançá-los-á em confusão de uma forma absoluta e inesperada (cfr. #Sl 35.4-8;
#Sl 83.13-17; notem-se passagens do Novo Testamento como #2Ts 2.4-10; #2Pe 3.3-10).
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