a) Os primeiros oitenta anos de
Moisés (Êx 2.1-22)
Note-se a simplicidade e o tom de
veracidade neste relato, em contraste com as lendas elaboradas que registram o
nascimento dos heróis da mitologia. Um varão... uma filha (1). A omissão de
seus nomes não indica que o autor não os conhecesse. Mas trata-se antes de um
sinal da modéstia de Moisés. Compare-se isso com as referências de João a si
mesmo, em seu evangelho. Filha de Levi (1), isto é, descendente de Levi. Arca
de juncos (3). A palavra tebah, uma
"caixa" ou "baú" (provavelmente um termo egípcio), é usada
somente aqui e para designar a arca de Noé. Os "juncos" eram canas de
papiro, um material empregado para muitas finalidades no Egito, até mesmo para
a construção de grandes barcos. Conf. #Is 18.2. Nos juncos (3). Na vegetação da
margem, onde a arca seria menos notada e onde ficaria impedida de flutuar rio
abaixo. Sua irmã (4). Miriã é a única irmã de Moisés mencionada nas Escrituras.
Ver #Nm 26.59. A julgar pelas suas ações, aqui registradas, ela deve ter tido
doze anos ou mais de idade naquela ocasião.
>Êx-2.6
O menino chorava (6).
Naturalmente, em tais circunstâncias! Mas o choro do infante foi usado, na
providência de Deus, para comover o coração da princesa. Dos meninos dos
hebreus é este (6). Crianças egípcias talvez também costumassem ser rejeitadas,
mas aquele menino "famoso", tão cuidadosamente aninhado, não podia
ser senão um dos meninos dos hebreus. Tomou o menino, e criou-o (9). A mãe de
Moisés foi capaz de criar seu próprio filho em sua própria casa, até
desmamá-lo, no fim de seu primeiro ano de vida, ou, talvez, de seu segundo ou
terceiro ano (conf. II Mac. 7.27), quando então o trouxe de volta à filha de
Faraó, para ser educado no palácio real. Não somos informados se ela continuou
em sua companhia ali, mas bem podemos acreditar que ela implantou nele as
raízes da fé no verdadeiro Deus, que orientou sua conduta posterior. O adotou
(10). Ele desfrutou dos privilégios e da educação de um filho adotivo da
princesa. Esses privilégios ele mais tarde renunciou (#Hb 11.24) mas nunca
perdeu os benefícios de sua educação (#At 7.22). Chamou o seu nome Moisés (10).
A palavra hebraica, Mosheh, provavelmente é uma forma do termo egípcio mesu,
que significa criança, filho, substantivo esse derivado de um verbo que quer
dizer "produzir", "retirar". Daí a explicação, dada neste
versículo, sobre a razão pela qual ela lhe deu esse nome. A palavra hebraica
mashah também significa "retirar", e o jogo de palavras, portanto,
podia aparecer no hebraico, o que não pode aparecer na versão portuguesa.
>Êx-2.11
Sendo Moisés já grande (11). De
acordo com Estêvão (#At 7.23), tinha "quarenta anos" completos. Saiu
a seus irmãos (11). Ele não permanecera na ignorância sobre sua verdadeira
raça. "Foi este o primeiro sinal daquela poderosa simpatia e terna afeição
pelo seu povo que o caracteriza" na narrativa inteira, e que culmina no
patético grito: "Perdoa o seu pecado, se não risca-me, peço-te, do teu
livro" (#Êx 32.32), (Rawlinson). Feriu ao egípcio (12). Moisés não tinha
justificativa para esse ato, nem pela lei da terra nem aos olhos de Deus. Ele
tinha boas intenções, mas mesmo suas melhores intenções eram produto de um
espírito ainda não sintonizado à vontade de Deus. Daí a necessidade de mais
quarenta anos de disciplina, antes que seu coração e mente estivessem plenamente
habilitados para receber a revelação dos propósitos e leis de Deus. Na areia
(12). Note-se a minúcia de detalhe. Moisés escreveu sobre aquilo que viu. Os
homens de Israel atribuíram a Moisés um ofício que ele realmente não demonstrou
(14). Não podiam entender seus verdadeiros motivos (#At 7.25). Sua precipitada
ação do dia anterior fez com que suas ações posteriores ficassem sujeitas a
tais errôneas interpretações. Procurou matar a Moisés (15). Na execução
razoável da justiça. Midiã (15). O território aqui referido provavelmente era a
porção sudeste da península do Sinai.
>Êx-2.16
Sacerdote de Midiã (16). Ver #Êx
18.12. Quanto à relação entre os midianitas e israelitas, ver #Gn 25.2.
Adoravam ao mesmo Deus verdadeiro. Reuel (18) significa "Deus é
amigo". Quanto ao nome Jetro ver anotação sobre #Êx 3.1. Um homem egípcio
(19). A julgar por sua aparência e vestuário. Gérson (22). Nome derivado de
ger, " um estranho", e de sham, " ali".
>Êx-2.23
b) A chamada de Moisés (Êx
2.23-4.17)
Depois de muitos destes dias
(23). Quarenta anos depois de sua fuga do Egito. Ver #Êx 7.7. Suspiraram por
causa da servidão (23). O novo Faraó não tinha aliviado o rigor da opressão. De
conformidade com a data mais provável, o Faraó da opressão foi o poderoso Tutmés
III, mas alguns pensam que foi Ramsés II. Muitas edificações de ambos os
monarcas existem até hoje. Conheceu-os Deus (25). Conf. #Sl 31.1; #Os 13.5.
Deus prestou atenção a eles e com simpatia entendeu os sofrimentos e
sentimentos de Seu povo. Contrastar com #Mt 7.23.
Êx-4.18
c) Moisés retorna ao Egito (Êx
4.18-31)
Meus irmãos (18), isto é,
parentes. Essa era uma parte, mas não o total, do propósito de Moisés ao
retornar ao Egito. Vai, volta (19). Moisés ainda estava se demorando em cumprir
a comissão dada por Deus. A vara de Deus (20), isto é, seu antigo cajado, ainda
que agora dotado do poder divino.
>Êx-4.21
Endurecerei o seu coração (21). É
dito que Faraó endureceu o seu próprio coração, ou que seu coração foi
endurecido, em #Êx 7.13 (ver anotação), #Êx 7.14-22; #Êx 8.15,19,32; #Êx
9.7,34-35; e também que Deus endureceu o coração de Faraó, em #Êx 9.12; #Êx 10.1,20,27;
#Êx 14.4,8. Essa ação é predita em #Êx 4.21; #Êx 7.3. Note-se que esse
endurecimento é primeiramente atribuído principalmente ao próprio Faraó, e mais
diretamente a Deus só mais tarde. Deus não causa positivamente a rebeldia do
homem contra Si, mas Ele conformou de tal maneira o coração do homem que, cada
vez que ele se recusa a fazer a vontade de Deus torna-se menos responsivo à
próxima chamada ou mandamento. A consciência, assim, torna-se menos sensível, e
o coração se vai endurecendo. O homem endurece seu próprio coração, mas na
linguagem bíblica, "os acontecimentos, quer físicos ou morais, que são o
resultado inevitável do arranjo divino do universo, são referidos como se
fossem operação direta de Deus" (Hertz). Em adição a essa significação da
frase devemos notar que, tendo Faraó uma vez endurecido seu próprio coração,
Deus o feriu diretamente com um endurecimento do qual era-lhe impossível ser
renovado para o arrependimento (conf. #Hb 6.4-6), tanto como uma penalidade
como a fim de demonstrar sobre ele o Seu poder (#Rm 9.17-18), conforme também
ficou demonstrado tanto na queda do Faraó como na libertação do povo de Deus.
>Êx-4.22
Israel é meu filho, meu
primogênito (22). Isso não subentende a suposta paternidade universal de Deus,
como se as outras nações também fossem Seus filhos, mas significa que Israel
foi primeiramente eleita para receber filiação espiritual "para que a
bênção de Abraão chegasse aos gentios" (#Gl 3.14). Ver #Rm 8.14-17.
>Êx-4.24
Numa estalagem (24). Simplesmente
um lugar de descanso. E o quis matar (24). Talvez por meio de uma enfermidade.
Parece que isso foi um castigo por ele ter negligenciado quanto ao dever de
circuncidar seu filho. Antes que Moisés pudesse apresentar os mandamentos de
Deus perante Faraó e os israelitas, ele mesmo não podia omitir qualquer deles.
Daquela maneira drástica Deus levou Moisés ao ponto da total obediência, a
preparação necessária para poder ser ele usado em Seu serviço. Um esposo
sanguinário (25). Em heb. hathan-damim, lit., "cortado com sangue".
Essa expressão era aplicada a um jovem noivo, circuncidado antes do casamento.
Estas palavras foram dirigidas a seu filho, denotando o cumprimento do rito do
concerto, ou a seu marido, que assim lhe era restaurado como noivo. Qualquer que
tenha sido a significação exata, seu ato anulou o divino desprazer. E
desviou-se dele (26). Deus poupou Moisés. Foi provavelmente nessa altura que
Moisés mandou de volta a Jetro sua esposa e seu filho (ver #Êx 18.2-3). Os
sinais (30) eram os milagres dos versículos 3-9.
Êx-5.1
d) A primeira petição a Faraó e
seu resultado (Êx 5.1-6.1)
Uma festa (1). Ver 3.18 nota.
Quem é o Senhor? (2). Uma expressão de desprezo; mas Faraó, à semelhança até de
muitos israelitas, talvez ignorasse o nome. O Deus dos hebreus (3). Essa
descrição tinha mais probabilidade de ser entendida por Faraó. Por que fazeis
cessar o povo...? (4), isto é, por que os distraís com essa conversa sobre
peregrinação? etc. O povo da terra (5). Heb., ’ am ha-ares. Este termo
usualmente denota pessoa comum, mas aqui, como também em #Gn 23.7,
provavelmente significa "o concílio dos anciãos" que tinha vindo com
Moisés e Aarão. Faraó deixa subentendido que muitos deles não estavam
trabalhando. Palha (7). Ou para reforçar a massa, ou para impedir que se pegasse
nos moldes. Estão ociosos... não confiem em palavras de mentira (8,9). Satanás
freqüentemente apresenta a adoração a Deus como uma coisa vã, própria somente
para aqueles que nada mais construtivo têm a fazer. Rastolho (12). No Egito
apenas as cabeças das espigas eram cortadas, deixando longas tiras de palha
para os israelitas cortarem, carregarem e esmiuçarem, antes de usá-las na
fabricação dos tijolos. A palavra também pode incluir todas as outras espécies
de refugo do campo.
>Êx-5.19
Estavam defronte deles (20). Os
oficiais (19) estavam esperando por eles, quando vieram da presença de Faraó,
para saber qual o resultado da entrevista. Tornou Moisés ao Senhor (22). Como
quem constantemente repetia sua comunhão com Deus. Por que...? (22). Será que
Moisés ter-se-ia esquecido da advertência de #Êx 3.19? Contudo, existia agora
um outro problema, pois, em lugar de uma negação franca, Faraó havia aumentado
as cargas dos israelitas além da tolerância humana. Agora verás (#Êx 6.1).
Quanto maior fosse a violência de Faraó, maior seria a manifestação do poder de
Deus em livrar. Por uma mão poderosa (1), isto é, compelido pela forte mão de
Deus. Ver #Êx 3.19.
Êx-6.2
e) As promessas e a comissão
renovadas (Êx 6.2-13)
Eu sou o Senhor... (2,3).
Contrariamente às afirmações da moderna crítica, Deus não estava aqui
anunciando a Moisés um novo nome pelo qual Ele deveria ser chamado. Mas os
versículos que seguem demonstram que Deus estava declarando que tinha chegado o
tempo d’Ele cumprir a aliança feita com seus pais, e de fazer aquilo que Ele
tinha prometido. Portanto, Ele fortaleceu a fé de Moisés e dos israelitas,
reafirmando Seu caráter (ver anotação sobre #Êx 3.14). Ele é o Deus observador
de Suas alianças, e foi nesse aspecto de Seu caráter que Ele agora se revelava
especialmente ao Seu povo, cumprindo as promessas do concerto feito com seus
pais, pelo que também o nome "Jeová" deveria, dali por diante, ser
associado à relação de aliança entre Deus e Seu povo. Seus pais também
empregaram este nome, "Jeová", mas o aspecto de Seu caráter que Ele
então revelara particularmente a eles foi o aspecto de Seu poder, no que tangia
especialmente à multiplicação de sua descendência (#Gn 17.1-2; #Gn 28.3; #Gn
35.11).
>Êx-6.3
Deus Todo-poderoso (3) não
significa um nome de Deus (as palavras "pelo meu nome" não se
encontram no original hebraico), mas trata-se de uma frase descritiva, "o
Deus que é todo-poderoso". Os israelitas, nos dias de Jeremias e Ezequiel,
continuavam conscientes do nome "Jeová", mas #Jr 16.21, "saberão
que o meu nome é o Senhor (Jeová)" -uma frase freqüentemente encontrada em
Ezequiel -prova que era o caráter de Deus, subentendido por esse nome, que eles
não conheciam. Assim, em #Êx 6.7, o significado é que eles viriam a conhecer
que Ele era Jeová, Deus deles, não por ouvir anunciado esse nome, mas por
experimentar Seus atos de poder e amor. Outra maneira legítima de traduzir o
versículo 3, mas que dá uma diferente significação, é, "Permiti-me
aparecer a Abraão, a Isaque e a Jacó como El Shaddai, e nem mesmo a eles me
permiti ser conhecido pelo meu nome Jeová?" Ver também anotações sobre #Gn
2.4; #Gn 17.1; #Dt 5.11.
>Êx-6.4
Meu concerto (4). Ver anotações
sobre #Gn 6.18; #Gn 15.7-21; #Dt 4.13. Resgatarei (6). Essa é a primeira
instância do uso desta palavra na Bíblia, a qual expressa um dos elementos
fundamentais do ato divino da salvação. A redenção de Israel, tirando-o do
Egito, figura proeminentemente, nas Escrituras, como um tipo de nossa redenção
do pecado. O termo heb. gaal, significa "reivindicar" ou
"resgatar", especialmente como o parente resgatava a propriedade ou a
pessoa de um parente incapaz de fazê-lo. Dessa maneira Deus, o divino Parente,
cujos recursos são inexauríveis, resgata Seu povo incapacitado, ao custo do
exercício de Seu poder sobrenatural tornando-o Sua própria propriedade peculiar
(versículo 7). Conf. #Is 43.1. Juízos (6). Os atos de poder eram um julgamento
contra o opressor. Ver #Dt 4.1 nota. Eu vos tomarei por meu povo (7). Conf. #Êx
19.5-6, etc. Israel foi escolhido para ser o meio pelo qual Deus trouxe ao
mundo a Sua revelação sobre Sua própria Pessoa e sobre Sua salvação. E serei
vosso Deus (7). Ele tinha uma relação especial para com Israel; todavia não
deixou de ser o Deus da terra inteira. Eu sou o Senhor (8). A mensagem se
encerra com ás mesmas palavras com que teve início. É selada em ambas as
extremidades com a autoridade do Deus vivo e fiel.
>Êx-6.11
Que deixe sair (11). Uma
exigência maior que a primeira. Ver 3.18 nota. Incircunciso de lábios (12). Não
se trata de qualquer admissão de pecaminosidade, mas uma repetição de sua
queixa em #Êx 4.10, que ele era pesado de língua. Semelhantemente a "os
seus ouvidos estão incircuncisos" (#Jr 6.10), que quer dizer alguém que
"não pode ouvir". Conf. #Lv 26.41.
>Êx-6.14
f) As genealogias de Moisés e
Aarão (Êx 6.14-27)
Casas de seus pais (14). Um termo
técnico para "clãs" ou "famílias". Rúben e Simeão são
incluídos aqui possivelmente para mostrar a posição relativa de Levi na família
de Israel, e para mostrar que na dispensação de Deus nem sempre aquele que
nasce primeiro é o "primogênito" em lugar de honra e liderança.
Joquebede, sua tia (20). Esse nome significa "Jeová é minha glória".
É mais uma prova do conhecimento do nome Jeová desde antes do tempo de Moisés.
Ver 3.14-15 nota. O casamento de um homem com sua tia era algo permitido até
ser dada a lei de #Lv 18.12. Corá (21). Portanto, ele era primo de Moisés. Ver
#Nm 16.11. Seus filhos não pereceram juntamente com ele, e seus nomes são dados
no versículo 24 como cabeças de importantes famílias sacerdotais. Eliseba (23).
Um nome melhor conhecido em sua forma helenizada: Isabel. Seus exércitos (26),
isto é, organizados em arranjo ordeiro, por suas tribos, famílias, etc.; não uma
multidão desordenada. Não há sugestão aqui a estarem equipados de armas
militares.
>Êx-6.28
g) A comissão retomada (Êx
6.28-7.7)
A narrativa dos versículos 2-12,
interrompida pelas genealogias, é retomada neste ponto.
Êx-7.8
III. AS PRAGAS, A PÁSCOA E O
ÊXODO (Êx 7.8-15.21)
a) A Faraó é dado um sinal (Êx
7.8-13)
Fazei por vós algum milagre (9).
Provai vossas reivindicações mediante algum ato sobrenatural. O mesmo com os
seus encantamentos (11). Mediante hipnotismo e diversos outros truques, podiam
fazer uma cobra ficar rígida como uma vara. Nenhum poder sobrenatural é
subentendido aqui.
>Êx-7.14
b) As primeiras nove pragas (Êx
7.14-10.29)
As pragas não apenas provocavam
grande aflição física; mas eram um julgamento contra os deuses do Egito. O rio
Nilo era um dos principais objetos de adoração; a rã era sagrada como símbolo
da fertilidade; dentre o gado, o carneiro, o bode e o boi eram sagrados; o
deus-sol, Rá, foi eclipsado e provado como impotente mediante a praga das
trevas. "Sobre todos os deuses do Egito, farei juízos: Eu sou o
Senhor" (#Êx 12.12).
1. O NILO TRANSFORMADO EM SANGUE
(#Êx 7.14-25). Ele sairá às águas (15). Ou para banhar-se ou para atender
alguma festa religiosa. O milagre foi anunciado com antecedência (17) a fim de
que Faraó pudesse perceber que não se tratava de uma maravilha desconexa, mas
uma prova que o Senhor tem o poder de cumprir Seus desígnios e decretos.
Tornar-se-ão em sangue (17). Em #Jl 2.31 o sangue é usado em sentido
metafórico, mas aqui provavelmente deve ser considerado em sentido literal. O
rio ocasionalmente se tornava avermelhado devido à presença de certas matérias
vegetais, mas aqui não aconteceu puramente a intensificação de um fenômeno
natural; foi um milagre por causa do qual os próprios peixes morreram e a água
se tornou nojenta. Os magos... fizeram o mesmo (22). Talvez por meio de truques
ilusórios; mas ver 8.18 nota. Água limpa era obtida provavelmente como no
versículo 24. Cavaram... para beberem água (24). O versículo 19 indica que toda
água derivada do rio Nilo se transformara em sangue. Mas água obtida de outras
fontes continuava pura. Sete dias (25). Depois disso Deus permitiu que fluísse
água pura do alto rio para limpar o baixo curso do rio.
Êx-11.1
c) Advertência sobre a última
praga (Êx 11.1-10)
O Senhor disse (1). Melhor
tradução: "O Senhor dissera", pois o verbo está no mais-que-perfeito,
registrando uma palavra de Deus a Moisés, antes de sua entrevista com Faraó.
Peça (2). Ver 3.22 nota. Moisés era mui grande... aos olhos do povo (3). Em
resultado das maravilhas que ele operara, a sua consideração para com o povo,
dando-lhes a devida advertência. Moisés escreveu assim sobre si mesmo, não sem
modéstia, mas a fim de explicar por que o povo esteve tão pronto a dar suas
jóias, etc. Disse mais Moisés (4). A continuação do discurso de Moisés a Faraó.
À meia-noite (4). Qual noite, não foi especificado. Todo o primogênito (5). A
palavra hebraica significa a descendência masculina. O primogênito dos animais
(5). Diversos desses animais eram considerados como objetos de adoração. Nem
ainda um cão moverá a sua língua (7). Uma expressão proverbial. Para que as
minhas maravilhas se multipliquem (9). Conf. #Êx 7.3. A voluntariedade de
Faraó, agora intensificada pelo julgamento de Deus, serviu para atrair o
exercício do poder de Deus, a fim de impressionar tanto os egípcios como os
israelitas com Sua justiça e Seu poder.
Êx-12.1
d) A instituição da Páscoa (Êx
12.1-28)
O princípio dos meses (2). O
Êxodo foi, espiritual e nacionalmente, um acontecimento que marcou época. Conf.
#Nm 1.1. Até então o ano judaico tinha começado com o mês de Tisri, perto do
equinócio do outono. O mês em que sucedeu a saída, o mês de Abibe, era no
equinócio da primavera. Os judeus começavam agora seu ano civil no mês de
Tisri, mas seu ano sagrado começava no mês de Abibe. Um cordeiro (3). Essa
palavra pode significar igualmente bem tanto um cordeiro como um cabrito (ver
versículo 5), mas parece que eram quase universalmente empregados cordeiros. As
casas dos pais (3), isto é, a família. O primeiro e básico festival de Israel
foi um festival em família. A pureza da vida familiar é o fundamento tanto da
prosperidade espiritual como da prosperidade nacional. Pequena (4). Dez homens,
além das mulheres e crianças, eram considerados o mínimo para consumir um
cordeiro. Sem mácula (5). Conf. #1Pe 1.19; #Hb 7.26; #Hb 9.14. Não apenas todas
as ofertas a Deus devem ser tiradas do melhor, mas aquele cordeiro também
deveria tipificar o imaculado Cordeiro de Deus. De um ano (5), isto é, não mais
que um ano de idade, a idade da inocência. Guardareis (6). Para permitir
perfeita inspeção. Os negócios pertencentes a Deus nunca devem ser feitos às
carreiras. À tarde (6). Lit., "entre as tardes". Isso significa ou
"entre o pôr do sol e o fim do crepúsculo" ou então "entre o
arrefecer do dia, cerca das 15 horas, e o pôr do sol". De qualquer
maneira, de acordo com Josefo, o cordeiro era morto entre as horas nona e
décima primeira, ou seja, entre as 15 e as 17 horas. Note-se que foi na hora
nona (15 horas) que Jesus clamou com alta voz e entregou o espírito (#Mt 27.45-50).
>Êx-12.7
Tomarão do sangue... (7). A
explicação dos detalhados requerimentos, nos versículos 7-10, só pode ser visto
se percebermos neles um tipo sobre Cristo. Somente pelo sangue é que há
livramento da destruição; o cordeiro era assado no fogo para simbolizar o fogo
da ira de Deus que foi tolerado pelo Salvador; aqueles que se alimentam d’Ele
devem pôr de lado o fermento da malícia e da maldade (#1Co 5.8), e devem
comê-Lo com as ervas amargosas do arrependimento; tudo deveria ser consumido: se
é fisicamente impossível fazer isso comendo-o, então pode ser feito pelo fogo,
visto que a oferta de Cristo foi completa e Ele deve ser recebido em Sua
inteireza.
>Êx-12.11
Assim pois o comereis (11). Isso
se aplica somente à Páscoa realizada no Egito, e não às celebrações
subseqüentes; todavia, os redimidos sempre devem ser como aqueles que não têm
habitação permanente neste mundo. Ver #Lv 23.4-5; #Nm 28.16-25 quanto às
celebrações da Páscoa no deserto: e ver #Dt 16.1-8, que reafirma as regras, em
vista de sua observância na terra prometida. Os vossos lombos cingidos (11).
Amarrando de encontro ao corpo suas longas vestimentas soltas. Apressadamente
(11). Como prontos para atender a qualquer momento a chamada para a partida. É
a páscoa do Senhor (11). A palavra "páscoa", referindo-se usualmente
ao ritual inteiro, é aqui aplicada somente para o cordeiro pascal, tal como em
#1Co 5.7. "Páscoa" se deriva do verbo pasah, "passar por cima", incluindo a
idéia de "poupar e proteger". Ver versículo 13. Todos os deuses do
Egito (12). Cada deus egípcio era representado por algum animal, e estaria
impotente para proteger seu próprio representante. Eu sou o Senhor (12). Conf.
#Êx 6.2,6,8,29, etc. Vos será (13). Em vosso interesse. Por sinal (13). O
sangue, nas vergas e ombreiras das portas, seria uma evidência, para Deus, que
o sacrifício tinha sido efetuado, e que os moradores exerciam fé em Suas
promessas. Aos tais Ele libertaria. Memória... por estatuto perpétuo (14). Da
mesma maneira que a Ceia do Senhor é um memorial que deve ser observado
perpetuamente, "até que Ele venha".
>Êx-12.15
As instruções dos versículos
15-20 se referem não à ocasião imediata, mas às futuras observações dessa
festividade. Fermento (15). Usualmente um símbolo de corrupção e pecado, mas
nem sempre. Ver #Mt 13.33; também versículo 34 nota. #Lv 2.11 nota. Cortada (15).
Não morta, mas banida da congregação de Israel. Ver #Gn 17.14 e nota. Ao
primeiro dia... santa convocação (16). Esse primeiro dos sete dias era o dia
seguinte ao do abatimento do cordeiro pascal, isto é, o dia 15 de Abibe. O
termo "convocação" provavelmente se deriva do fato do povo ser
convocado juntamente para reunir-se no tabernáculo, talvez por meio das
trombetas de #Nm 10.2. Nenhuma obra se fará (16), isto é, nenhum trabalho
servil. Conf. #Lv 23.7. Estrangeiro (19). Em heb. ger. Os estrangeiros que
aceitassem o rito da circuncisão e a lei do Senhor eram incluídos na
congregação e considerados como israelitas. Ver #Dt 1.16 nota. Natural da terra
(19). Israelita por descendência natural.
>Êx-12.21
Tomai (21), isto é, dentre o
rebanho. Um molho de hissopo (22). O formato dessa planta tornava-a
particularmente apropriada para aspergir o sangue da expiação, e, devido o seu
freqüente uso para esse propósito, veio a tornar-se um símbolo de purificação
espiritual. Conf. #Sl 51.7. Nenhum de vós saia (22). Somente debaixo da
cobertura de sangue é que há proteção. O Senhor passará aquela porta (23).
Conf. versículo 13. Destruidor (13). O anjo destruidor (#2Sm 24.16), chamado de
"praga" no versículo 13. Isto (24). O sacrifício do cordeiro (17,27),
e não a aspersão do sangue nas vergas e ombreiras das portas, que se aplicou
somente a esta ocasião. Como tem dito (25). Ver #Gn 12.7, etc. Quando vossos
filhos... (26). A educação espiritual no lar é o fundamento do caminho de Deus
para a vida do homem. A observância do rito provia oportunidade dos pais
recontarem a história dos poderosos atos e promessas de Deus. Semelhantemente,
as duas ordenanças cristãs fornecem ocasião para nos lembrarmos, na mente e no
coração, da obra e das palavras do Senhor Jesus Cristo.
>Êx-12.29
e) A décima praga e a partida
para fora do Egito (Êx 12.29-51)
De noite (31). Tão grande era a
aflição dos egípcios que Faraó fez um apelo imediato a Moisés. Provavelmente
Moisés em realidade não se apresentou a Faraó. Ver #Êx 10.29. O primogênito de
Faraó (29). A praga culminante cumpriu a primeira advertência de Deus a Faraó
(#Êx 4.23). Abençoai-me também (32). Para evitar maiores calamidades. Note-se a
extrema humilhação de Faraó, ainda que sem contrição de coração. Ver #Êx 14.5.
Sua massa, antes que levedasse (34). Naquela ocasião o pão ainda não estava
levedado, devido à pressa. Conf. versículos 11,39. O pão asmo, nas celebrações
subseqüentes, servia de lembrete sobre isso e também incluía a noção de
liberdade da corrupção. Ver versículo 15 nota. Pediram (35). Ver 3.22 nota.
Emprestavam-lhes (36). Melhor ainda, "deixavam-nos ter". Ramesses
(37). Ver #Êx 1.11 e segs. Cousa de seiscentos mil de pé (37). Uma cifra
arredondada, representando os 603.550 de #Nm 1.46. Varões, sem contar os meninos
(37). Uma anotação para indicar que apenas os adultos masculinos foram
incluídos naquela cifra. Fica subentendido, naturalmente, que as mulheres não
foram contadas. Uma mistura de gente (38). Ver #Nm 11.4. Vários estrangeiros,
não incluídos na "congregação de Israel", também saíram com os
israelitas; contrastar com versículo 19. Grande multidão de gado (38). Nem
todos os israelitas tinham sido obrigados a prestar trabalho escravo.
>Êx-12.40
Quatrocentos e trinta anos (40).
Isso corresponde à cifra arredondada de 400 anos, em #Gn 15.13-14. É natural
ler as palavras, aqui e no livro de Gênesis, como a referir-se à duração do
tempo de permanência no Egito; porém, a Septuaginta, Paulo (#Gl 3.17), e a
tradição rabínica contam os 430 anos a partir do tempo da promessa feita a
Abraão, e, nesse caso, devemos entender a palavra "habitaram"
(peregrinaram) como incluindo também o período anterior de peregrinação na
terra de Canaã. Nenhum filho do estrangeiro (43). Não o ger do versículo 19,
mas o estrangeiro não circuncidado, tais como o da "mistura de gente"
(38,45). Conf. #Cl 2.11. Mas todos, quer servos ou vizinhos, que estivessem
dispostos a aceitar o Deus de Israel como seu próprio Deus, seriam bem
recebidos e convidados para a festa da páscoa (44,48-49). Nem dela quebrareis
osso (46). Ver #Jo 19.33-36. Nada pode destruir o caráter completo de Cristo e
daqueles que, n’Ele, são um com o Pai. Uma mesma lei... (49). O povo de Israel
era o povo escolhido de Deus e também os mediadores de Sua salvação para com o
mundo, mas Ele nunca tencionou que fossem uma raça exclusiva. #Is 56.3-8 mostra
quão aberta estava a porta para os outros, mesmo sob a antiga aliança.
Êx-13.1
f) Santificação e redenção dos
primogênitos (Êx 13.1-16)
Santifica-me todo o primogênito
(2). "Separa como sagrados". É razoável que a vida que Deus tinha
poupado fosse devotada a Ele (#Rm 12.1). Assim como a celebração anual da
Páscoa relembrava a nação a respeito de sua grande redenção, igualmente a
dedicação dos primogênitos conservava fresca a memória disso em cada lar.
Lembrai-vos deste mesmo dia (3). A santificação dos primogênitos foi associada
ao dia do livramento; por conseguinte, Moisés prefaciou suas instruções
referentes aos primogênitos com uma renovada exortação concernente a observância
da Páscoa, o memorial daquele dia. Ver #Dt 5.15 nota. Quando o Senhor te houver
metido na terra (5). Conf. #Dt 6.3-15. A prosperidade tende a fazer com que o
homem se esqueça das misericórdias passadas; daí a necessidade desses vívidos
memoriais.
>Êx-13.9
Sinal sobre tua mão (9).
"Tephillin" ou "filactérias" eram usados pelos homens
judeus, quando empenhados em oração. Pergaminhos, sobre os quais eram escritas
três passagens da lei (#Êx 13.1-10; #Dt 6.4-9; #Dt 11.13-21) eram dobrados metidos
em caixinhas que eram seguras ao pulso esquerdo e à testa por meio de fitas.
Conf. #Mt 23.5. Dessa maneira contavam com um perpétuo lembrete sobre as lições
do êxodo. Este estatuto (10), isto é, a páscoa. Jumenta (13). Sendo um animal
impuro, não podia ser sacrificada, e, portanto, tinha de ser redimido, isto é,
seu lugar era ocupado por um substituto. Cortar-lhe-ás a cabeça (13). Ninguém
podia escapar da lei. Se o dono do animal não estivesse disposto a sacrificar
um cordeiro, o jumento estava condenado; se não fosse devotado a Deus, então
era destruí-lo. Na prática essa era uma salvaguarda eficaz da lei, visto que um
jumento era muito mais valioso, comercialmente falando, que um cordeiro. Teus
filhos resgatarás (13). Não com um cordeiro, mas mediante dinheiro (#Nm
3.46-47). Nenhuma sugestão de sacrifício infantil jamais mancha as páginas da
lei. Será por sinal (16). Ver versículo 9 nota.
>Êx-13.17
g) A travessia do mar Vermelho
(Êx 13.17-14.31)
Pelo caminho... dos filisteus
(17). A rota direta, ao longo da costa, que teria demorado uma quinzena.
Armados (18), isto é, provavelmente não, equipados com armaduras ou armas de
guerra, mas sim, "organizados". Numa coluna de nuvem (21). Como sinal
e orientação para a marcha do povo, mas também como sinal visível da presença
de Deus. Eles marchariam parte da noite e também parte do dia, descansando nas
horas mais quentes.
Êx-15.1
h) O Cântico de Moisés (Êx
15.1-21)
As palavras, ao Senhor (1), ferem
a nota chave desse cântico. Nos versículos 1-12 Moisés atribui ao Senhor a
glória exibida na vitória acabada de conquistar; nos versículos 13-18 ele
profetiza a vindicação da soberania do Senhor, introduzindo Seu povo na herança
que Ele lhes prepara. O Senhor (2) é a fonte de seu poder, o tema de seu
cântico, o autor de sua libertação e preservação; consequentemente, Ele é o
objeto de sua adoração e de seu louvor; o mesmo Deus, tanto para ele como para
seus antepassados.
>Êx-15.2
Portanto lhe farei uma habitação
(2). Melhor ainda: "Portanto, louvá-lo-ei". O Senhor é varão de
guerra (3). A vivacidade poética dessa descrição não nos deveria deixar
cautelosos quanto à verdade desse fato, tão evidentemente provado pelos
acontecimentos do capítulo anterior, e pelas visões do último livro da Bíblia
(#Ap 19.11). Tua destra (6). Nesta altura o cantor se volta e dirige o cântico
diretamente para Deus. Nenhuma expressão abstrata seria mais apta que esta
frase antropomórfica para descrever o poder ativo de Deus. Ela é freqüentemente
usada nas Escrituras, tanto neste sentido como também como a sede da autoridade
divina.
>Êx-15.8
Os abismos coalharam-se (8). Não
sólidos como gelo, mas em formação vertical contrária à natureza. Entre os
deuses (11). A superioridade de Deus sobre aqueles que não são deuses, e que
Ele acabara de derrotar, é declarada de três maneiras: o imaculado brilho de
Sua santidade, a reverência que Ele inspira naqueles que O adoram e louvam, e a
maravilha de Seus atos miraculosos. Ver #Dt 6.14 nota; 32.21 nota.
>Êx-15.13
O versículo 13 marca a transição
para a passagem profética. A força do tempo verbal, no hebraico, neste
versículo, é presente, e os verbos seriam melhor traduzidos como:
"guias" e "levas". À habitação de tua santidade (13) pode
referir-se ao monte Sinai, a Canaã ou ao monte Sião. Os povos (14), ao redor,
conforme exemplificados no versículo 15. Ouvindo falar na miraculosa derrota
dos egípcios, temeriam a vinda dos israelitas. Exemplo disso #Js 2.9-11.
>Êx-15.16
Adquiriste (16). O heb. tem a
idéia de tempo presente neste verbo. O sacrifício da páscoa é um sinal que o
livramento de Seu povo não foi feito sem custo para Deus. O êxodo foi um ato de
redenção, e prefigurou o custo, para o Pai de redimir a humanidade por
intermédio do Seu Filho. No monte da tua herança (17). Provavelmente se refere
à terra prometida de Canaã, em sua totalidade, pois, na intenção de Deus, já se
tratava de um país montanhoso na posse de Israel, tal como, em Seu irresistível
propósito, o Seu santuário foi com efeito estabelecido no monte Moriá. O Senhor
reinará (18). A vitória sobre o Egito, que forma o tema do cântico, servia
apenas de exemplo quanto ao reino eterno de Deus.
O cântico termina no versículo
18. O versículo 19 é um sumário dos acontecimentos que ocasionaram o cântico.
Miriã, a profetisa (20). Miriã foi a primeira das mulheres, referidas nas
Escrituras, a exercer um ministério especial. Conf. #Jz 4.4; #Lc 2.36, etc.
Danças (20). Danças solenes como expressão de adoração, embora apropriadas para
os tempos de Moisés e dos salmistas, são capazes de abusos, e nunca encontraram
um lugar geralmente aceito na adoração da Igreja Cristã. Miriã lhes respondia
(21). O coro, usando um estribilho, empregava as palavras iniciais do cântico
de Moisés (1).
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