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terça-feira, 30 de julho de 2013

Razões para o Envolvimento Cristão nas Questões de Justiça Social


Texto base: Is 58.1-18, e Tiago 2: 14-26

Entramos agora na última das três seções principais desta grandiosa segunda parte do livro de Isaías, e o tema é o que poderíamos esperar. Tendo falado no propósito eterno de Jeová, de dar paz ao Seu povo, e havendo revelado Aquele mediante o Qual ela pode ser obtida, o Servo do Senhor, o Príncipe da Paz, o profeta demonstra agora o tipo de vida que deve caracterizar os que foram admitidos à comunhão deste dom. Assim, o assunto é agora essencialmente "o programa da paz".

Os capítulos 58 e 59 constituem um "andamento" no tema. O primeiro refere-se à verdadeira e à falsa adoração de Jeová, abordando assuntos como o jejum e o sábado. O capítulo 59 verbera os grosseiros pecados do povo, chamado à confissão penitente e ao lugar onde se encontra o livramento e a absolvição. O profeta é encarregado de declarar ao povo de Deus a sua transgressão e pecado. Censura-o severamente por observar o ritual da religião sem, de forma alguma, produzir os frutos desta. Repudia o valor de uma atitude humilde e contrito perante Deus quando, afinal, no seu trato com os seus semelhantes, se descortinava ausência de compaixão e justiça. Só abandonando os seus caminhos pecaminosos e impregnando de vida os seus cultos é que encontrariam o poder e graça do seu Deus e as bênçãos nacionais outorgadas pelo concerto firmado na antigüidade.

Desta forma será demonstrado que Deus não mudou numa meditação neo testamentária em Tiago, donde será demonstrado a prática da fé cristã.

I. O JEJUM SEM ARREPENDIMENTO E REFORMA É HIPOCRISIA (#Is 58.1-12). O povo queixa-se de que os seus jejuns não lhe trouxeram quaisquer benefícios materiais, e é-lhe dito em resposta que o jejuar em tais condições não passa de um fingimento oco. Observava-se o ritual do jejum, mas faltava por completo a verdadeira abnegação do ministério do amor (1-5). Se lograssem reencontrar o verdadeiro espírito da religião, seriam erguidos a um nível superior de vida-a vida planeada e abençoada por Deus (6-12).

Clama em alta voz, não te detenhas... anuncia ao Meu povo a sua transgressão (1). É esta a acusação que o profeta tem de transmitir, uma mensagem de condenação. Todavia, Me procuram cada dia (2); existia uma fachada externa de religião, mas o seu coração andava longe de Deus; os pretensos adoradores procuravam-se apenas a si próprios em tudo quanto faziam. Porque jejuamos nós? (3). É o coração em toda a sua realidade que aqui se revela. Julgavam ir merecer a aprovação de Deus meramente em virtude dos seus jejuns. Achais o vosso próprio contentamento (3), isto é, prosseguis nos vossos negócios e fazeis as coisas de tal modo que os vossos servos estejam rigorosamente ativos durante esta hora de suposta devoção. Eis que para contendas e debates jejuais (4). Os dias de jejum, afinal, eram dias de contendas e dissídios. Para fazer ouvir a vossa voz no alto (4), isto é, jejuns como os vossos não são os que farão com que as vossas orações sejam ouvidas no trono da graça. Seria este o jejum que Eu escolheria? (5). O mero ascetismo nada é. O que dá vida a isto, como a tudo o mais, é o espírito. Segue se no versículo 6 uma definição do tipo de jejum que Deus exige. Libertação de escravos, remissão de dívidas, distribuição de bens entre os necessitados, e outros atos semelhantes, eis o que agrada a Deus e acarreta a Sua graciosa bênção. Não te escondas da tua carne (7), isto é, dos teus parentes. Não os deveriam evitar, mesmo que fossem pobres e necessitados. O estender do dedo (9), isto é, apontar com o dedo para alguém, sinal do amargo desprezo.

II) FÉ E OBRAS Tg 2.14-26

Este parágrafo é o ponto crucial da epístola e contém declarações que têm dado lugar a infindáveis debates na Igreja. Foi este parágrafo que levou Martinho Lutero a proferir sua famosa crítica, quando chamou esta carta "epístola de palha". Mas a declaração do apóstolo em seu conjunto é eminentemente razoável. Procura ele mostrar a diferença que há entre uma fé viva e ativa, e a que existe apenas no nome. "Meus irmãos, qual é o proveito se alguém disser que tem fé, mas não apresenta obras? Pode, acaso, semelhante fé salva-lo?" (Moff.). Não há antagonismo aqui entre o ensino de Tiago e o de Paulo. Este ensina que a justificação diante de Deus não é nunca pelas obras da lei, mas pela fé em Cristo (#Rm 4.1-5.2). O apóstolo vê necessidade de frisar isto ao procurar orientar os que pensam que, pela guarda da lei, podem achar a salvação. Ao mesmo tempo ele daria todo seu apoio à alegação de Tiago de que a fé que não Se exterioriza na vida prática e na conduta, não passa de consumada zombaria, e que ninguém é justificado perante Deus que ao mesmo tempo não seja justificado praticamente perante os homens (ver #Tt 1.16; #Tt 3.7-8). A fé, sendo a raiz, deve naturalmente dar origem as obras, que são os frutos. Tiago precisa dar ênfase a este lado da questão, visto que a situação por ele enfrentada é quase oposta àquela de que Paulo trata nos primeiros capítulos de Romanos.

Para ilustrar o seu ponto, Tiago figura a conduta impiedosa de quem despede companheiros cristãos tiritantes de frio e famintos, dizendo-lhes apenas "Desejo que passeis bem; aquentai-vos e alimentai-vos bem" (16, Wey.), e deixa de lhes prover às necessidades corporais. De que vale a fé que presencia tais sofrimentos e não se dispõe a acudir-lhes benevolamente? Tiago presidia a Igreja de Jerusalém que sofrera (e provavelmente naquela época ainda estava sofrendo) em conseqüência da fome predita por Ágabo (ver #At 11.28-30). Podia então falar de experiência própria. "Votos de Felicidade" é uma frase oca, a não ser que a pessoa que os formula concorra para isso (Plauto). De que servem meras palavras desacompanhadas da prática da misericórdia? Crença religiosa, mesmo que seja ortodoxa, que não resulta em ação, é morta, porque lhe falta poder. O mero assentimento a um dogma nenhum poder tem para justificar ou salvar (cfr. #Rm 2.13). "Ninguém é justificado pela fé, a menos que esta o faça justo".

>Tg-2.18

Tiago enfrenta agora uma possível objeção. Supõe o caso de alguém a argüir. Tu tens fé e eu tenho obras: mostra-me essa tua fé, sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé (18). Então declara, de modo prático, que a pretensão de ter fé, independente de obras de caridade ou misericórdia, é inteiramente vã; porque visto como a fé não pode ser discernida senão por seus efeitos (isto é, boas obras), segue-se que a pessoa cuja vida não produz boas obras presumivelmente não tem fé.

Diariamente, pela manhã e à tarde, os judeus piedosos recitavam o Shema, cujas palavras iniciais são, "Ouve, ó Israel, Jeová nosso Deus, Jeová é um". Este monoteísmo era um artigo fundamental do credo. Mas apenas assentir nele sem que daí resultassem obras, isso não levava ninguém acima do plano dos demônios, os quais também crêem no mesmo fato. A crença dos demônios evidentemente não tem valor; eles estremecem quando pensam em enfrentar o Deus único em juízo. Tal fé, que pode ser descrita como simples crença intelectual, não é a fé que salva.

Tiago não leva para diante seu arrazoado, mas escarnece ligeiramente do homem insensato. O adjetivo no grego é kenos, que significa "vazio", sugerindo o devoto insensível, de cabeça oca, de uma religião de mero formalismo. E prossegue dando dois exemplos de justificação, tirados do Velho Testamento. Primeiro chama atenção para nosso pai Abraão (21; cfr. #Gl 3.6-7), que foi justificado pelas obras, quando, em inteiro devotamento e obediência incondicional à ordem de Deus, ofereceu Isaque (ver #Gn 22). Tiago e Paulo concordam que foi quando Abraão creu em Deus, que isto lhe foi imputado para justiça (#Gn 15.6), isto é, foi justificado pela fé perante Deus. Porém, quando pela fé ofereceu Isaque no altar, foi justificado pelas obras perante os homens, visto como demonstrou com isso a realidade de sua confiança em Deus. Amigo de Deus (23); foi esta a caracterização mais alta que já se fez de uma pessoa. Deus admitiu Abraão em Sua intimidade, nada lhe ocultando (#Gn 18.17), e sobre ele derramando as mais excelentes bênçãos. Evidencia-se deste exemplo que a fé de Abraão não foi mera crença na existência de Deus, e sim um princípio que o levou a confiar nas promessas divinas, a agir pela vontade de Deus, a amar e a obedecer a essa vontade. Suas obras justificaram-lhe a fé e provaram a genuinidade da mesma.

A segunda ilustração é Raabe (cfr. #Js 2.1 e segs.; #Hb 11.31). A fé que ela tinha no Deus de Israel era de tal qualidade que se expressou em fazer ela o que pôde para proteger os Servos do Senhor.

Conclusão:

>Tg-2.26

No vers. 26 Tiago conclui e sumariza todo o argumento. "A morte se patenteia pela ausência de atividade física e pela presença da corrupção; assim a fé, sem santidade prática, não mostra atividade e se corrompe" (Cent. Bible). Fé genuína resulta em boas obras. Estas não oferecem maior segurança à nossa posição perante Deus, porém são evidências da fé, pela qual alcançamos essa posição.

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