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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Introdução aos livros históricos


 DE JOSUÉ A ESTER

a) O Livro de Josué

O caráter da literatura histórica é determinado pelo lugar que ocupa nos planos da revelação de Deus para a redenção da humanidade. A finalidade é, portanto, revelar o que o Senhor, na Sua misericórdia determinou para salvar o homem. É deste modo que ao Pentateuco se pode chamar a base da revelação, desde a criação do mundo até ao estabelecimento duma aliança com Israel, em que se expõem as condições dessa aliança. O livro de Josué mostra como o Senhor leva o povo escolhido à Terra Prometida, em conformidade com aquela aliança. A história que se segue, todavia, vai dizer-nos que só pela Lei não é possível a salvação. Como então? A redenção dos pecadores só poderia ser efetuada pelo Filho de Deus encarnado. Os livros dos Juízes, de Samuel e dos Reis lembram a apostasia de Israel, a que já os últimos versículos de Josué fazem referência: "Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que ainda viveram muito depois de Josué, e sabiam toda a obra que o Senhor tinha feito a Israel" (Js 24.31). Nestas palavras se resume a história da religião de Israel, que assim abandonava o seu Deus.

b) O Livro dos Juízes

A isto se pode resumir o livro dos Juízes: "Os filhos de Israel deixaram ao Senhor, Deus de seus pais, e prestaram culto aos deuses pagãos de Canaã, Baal e Astarote. Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e os deu na mão dos seus inimigos. Todavia levantou o Senhor juízes que os livraram desses inimigos. Mas quando morreu o juiz, voltaram à idolatria e de novo foram castigados e oprimidos" (cfr., por exemplo, Jz 2.11-23). Assim, até Jz 15 sucedem-se com mais ou menos pormenores diferentes narrações da atividade dos doze juízes. Os últimos capítulos limitam-se a registrar o estado deplorável durante este período da história de Israel.

c) O Livro de Rute

A nossa Bíblia interrompe agora a história com o pequeno livro de Rute, e bem que a Bíblia hebraica o apresente na terceira e última parte do Velho Testamento, num grupo separado, a que os judeus dão o nome de "Escritos". O livro conta a história da moabita Rute, casada com um rico proprietário, de nome Boaz, um dos antepassados de Davi. A introdução duma gentia na sagrada descendência de Davi, de quem havia de nascer o Messias, vem demonstrar que a eleição de Israel não exclui os pagãos da salvação do Senhor. Donde se infere, que o Salvador será o grande Redentor não só de Israel, mas de todas as nações.

d) Os Livros de Samuel, dos Reis e das Crônicas

Os livros de Samuel e dos Reis contam o ressurgimento do país, sobretudo nos reinados de Davi e Salomão, e por fim o seu declínio após a morte deste último. Na divisão do país sob Roboão e Jeroboão, apresenta-se a história paralela dos reis de Judá e de Israel, terminando com a apostasia que levou à destruição do norte do país e depois à catástrofe final do exílio no ano 586 a.C. O cronista resume toda a história desde Adão em diante. Até à morte de Saul é, por assim dizer, uma breve genealogia; mas a partir daí segue quase a par e passo os livros de Samuel e dos Reis. Após a divisão do reino, limita-se quase só a descrever os acontecimentos relativos ao reino de Judá. Quando os livros das Crônicas, porém, se cingem a relatar os mesmos acontecimentos que os livros de Samuel e dos Reis, não os reproduzem literalmente. É o que se verifica com as narrações da vida de Jesus Cristo pelos quatro evangelistas. A "crítica" nem sempre é favorável ao autor das Crônicas. Mas o fato de mencionar certos acontecimentos que Samuel e os Reis passam em silêncio, ou então omitir outros que aqueles livros registram, leva-nos a colocá-los ao lado dos evangelistas, de cuja probidade ninguém duvida. Dum modo especial note-se como o cronista se interessa principalmente por tudo o que se relaciona com as cerimônias do culto, deliciando-nos com inúmeros pormenores interessantes, que os outros livros passam em silêncio.

e) Os Livros de Esdras e Neemias

A tomada de Jerusalém e o cativeiro dos seus habitantes em Babilônia, de modo algum frustrou o plano redentor de Deus; pois a nação, da qual havia de nascer o Salvador, não podia ser completamente abandonada. Dá-se então o regresso do exílio, como lembra o cronista no seu último capítulo, referindo-se ao decreto do rei da Pérsia, Ciro, que autoriza os cativos a voltarem à terra de seus pais, se assim o desejassem e a reconstruírem o templo do Senhor em Jerusalém. É o que podemos constatar nos livros de Esdras e Neemias, que vão ao ponto de relatar minuciosamente todos esses trabalhos, sem esquecer as dificuldades que tiveram de vencer os filhos de Israel, há pouco vindos do exílio. Estes livros demonstram claramente que, apesar dos revezes da ruína de Jerusalém e do que sofreram no exílio, os filhos de Israel não prestaram o devido culto ao Senhor. Por isso aguardam a "plenitude dos tempos" em que Deus enviará o Seu Filho (Gl 4.4-5).

f) O Livro de Ester

Resta-nos agora considerar o livro de Ester. Trata-se duma maravilhosa exposição, habilmente descrita, do que parece ter sido a mais perigosa ameaça ao futuro de Israel-a sua exterminação total, levada a efeito pelo monstruoso plano de Hamã. O Senhor, porém, preserva o Seu povo, assegurando assim o cumprimento da promessa Messiânica feita aos nossos primeiros pais no jardim do Éden. Muitos comentadores têm dúvidas da historicidade e do caráter religioso do livro, embora não haja motivo para duvidar dos fatos que nele são descritos. Há um pormenor, observado pelos entendidos, a salientar neste livro: é que o autor mostra um perfeito conhecimento dos costumes persas. Quanto ao crime hediondo planeado por Hamã, não nos parece incrível, se pensarmos nos massacres perpetrados durante a última guerra mundial pelos nazistas alemães contra os indefesos judeus. Embora não se cite o nome de Deus, não se pode negar que o livro proclama a intervenção providencial do Altíssimo. Quanto a estar o livro eivado dum nacionalismo exagerado, vingativo e fanático, o que se descreve é a pura verdade. Os fatos são relatados objetivamente, e a atitude dos judeus, que não quiseram tocar nos despojos dos inimigos, embora o pudessem fazer, fala por si. Quem, pois, ousará censurar o autor, por exprimir a sua satisfação no dia em que viu os inimigos opressores passarem a oprimidos?

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